Imagem Blog

Alimentação infantil

Por Coluna
Dr. Hugo Ribeiro é pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Continua após publicidade

Os pediatras não têm medo do açúcar

Especialista defende que os doces não precisam ser grandes vilões da dieta das crianças e explica o que pode, sim, levar à obesidade infantil.

Por Da Redação
22 fev 2018, 19h26

Vivemos numa época em que há uma verdadeira guerra sobre o que os pequenos podem ou não comer, em razão da epidemia da obesidade no mundo. No meio de tantas provocações, falsas informações e proibições às crianças, os pais e familiares acabam ficando perdidos, sem um norte a seguir.

Vale lembrar que na América Latina e no Caribe, 7,2% das crianças menores de cinco anos estão com sobrepeso, o que representa um total de 3,9 milhões – 2,5 milhões só na América do Sul -, segundo levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado em 2017.

No centro de todas as atenções estão os alimentos ricos em açúcar. Embora saibamos que tudo pode ser desfrutado, desde que com moderação, reduzir o consumo de alimentos ricos em calorias – com altos teores de gordura, sódio e açúcar – pode ajudar o público infantil a ter hábitos alimentares mais saudáveis e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão, asma, apneia do sono, problemas ósseos e articulares, diabetes tipo 2 e câncer. Entretanto, não há evidências científicas que justifiquem a proibição, de forma categórica, dos doces e das sobremesas. O que sabemos e reconhecemos é que os excessos não são recomendados.

Os pediatras não têm medo do açúcar, pois acreditam que o importante é uma dieta diversificada, equilibrar quantidades e que é preciso ampliar e propagar a educação alimentar, fundamental para uma vida saudável. Mas a pergunta é: como comer de tudo, saber as porções corretas a se consumir, sem causar o ganho de peso em excesso? A verdade é que, em vez de cortar um ingrediente ou outro da dieta, como o açúcar, deve-se permitir que as crianças comam estes alimentos apenas ocasionalmente, educando-as a incorporá-los em porções adequadas, como parte complementar de um cardápio balanceado e culturalmente aceito. Os pediatras e nutricionistas são grandes pilares para ajudar os pais nessa missão.

Continua após a publicidade

Além disso, o que também poderá contribuir para esse controle das quantidades de açúcar e outras calorias será a implementação de um novo modelo de rotulagem frontal dos alimentos, que atualmente está sendo estudado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para simplificar a leitura de ingredientes e suas quantidades. É fundamental que as pessoas tenham todas as informações em mãos de maneira clara e possam decidir conscientemente o que comprar e quanto.

A obesidade vai muito além de consumir ou não determinados alimentos. O importante é saber comer com equilíbrio, com base em porções moderadas. O consumo exagerado e o sedentarismo é que podem levar ao excesso de peso

Dr. Hugo Ribeiro

Um dos modelos em avaliação, por exemplo, é o semáforo nutricional, adotado pois países como a Inglaterra e o Equador. Nele é possível encontrar uma sinalização familiar, em que o verde indica que a quantidade ali contida está dentro dos limites diários recomendados; um pouco acima é destacado em amarelo e, quando está elevado, em vermelho – o que parece ser um modelo bastante positivo.

Contudo, é importante entender que esta proposta de sinalização não proíbe o consumo de alimentos de sinal vermelho ou estimula os alimentos de sinal verde. O que se espera é que as pessoas possam balancear sua dieta, evitando consumir mais alimentos que já foram suficientemente ofertados e complementem suas refeições com outras fontes de nutrientes, de forma que todas as suas necessidades diárias sejam atendidas.

Continua após a publicidade

É sempre bom lembrar que outra parte importante do equilíbrio das calorias ingeridas é a prática regular de atividades físicas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/2017), realizada pelo IBGE, 62,1% dos brasileiros com 15 anos ou mais não praticam esportes. Não há dúvidas de que, muito mais preponderante que os ingredientes que compõem o cardápio de uma família, o sedentarismo é um fator que contribui para o desenvolvimento da obesidade e de muitas outras doenças.

Para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as pessoas pratiquem 150 minutos de exercícios físicos por semana. No caso das crianças, é essencial que os pais saibam como encaixar todas as tarefas na programação semanal, incluindo aí horários destinados à leitura e aos deveres escolares, além, é claro, de limitar o tempo em que elas ficam em frente às telas, não ultrapassando duas horas diárias. Se tudo isso for seguido, não será um brigadeiro a mais ou uma sobremesa durante a semana que vão fazer os pequenos terem excesso de peso.

Dr. Hugo Ribeiro

É pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel, em New York, e coordenador e pesquisador do Centro de Pesquisa Fima Lifshitz da UFBA

Publicidade