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Como lidar com a obesidade infantil

A doença pode causar sérios problemas físicos e psicológicos. Saiba quais são eles e como ajudar seu pequeno.

Por Bruna Stuppiello (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 21h18 - Publicado em 28 Maio 2015, 13h23
Siri Stafford/Thinkstock/Getty Images
Siri Stafford/Thinkstock/Getty Images (/)
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“Nossos filhos estão crescendo acima do peso e subnutridos com uma dieta de alimentos processados. As crianças de hoje integram a primeira geração que irá viver menos do que a de seus pais”. Esta afirmação do chef de cozinha inglês Jaime Olivier pode parecer exagerada, mas reflete bem um drama real: a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, feita pelo IBGE, indicou que o excesso de peso atingia 33,5% das crianças brasileiras. Já numa pesquisa mais recente divulgada em 2014, o médico Victor Rodríguez Matsudo, um dos responsáveis pelo Estudo Internacional de Obesidade Infantil, concluiu que a obesidade e sobrepeso afetam 39% dos pequenos brasileiros – isso representa 1000% a mais que há 40 anos!

Na sua infância, a realidade era, provavelmente, outra: em 1989, apenas 4,1% dos meninos e 2,4% das meninas apresentavam a doença. Saiba por que o problema da silhueta larga aumentou tanto entre a garotada, como agir quando seu filho está em guerra com a balança e quais os efeitos da gordura excessiva na saúde e na mente das crianças.
 
Por que o sobrepeso aumentou tanto?
Há várias justificativas para a epidemia do acúmulo de quilos indesejados. “As principais causas são a diminuição das atividades físicas e o consumo exagerado de calorias, normalmente presentes nos alimentos industrializados, ricos em gorduras e sal”, explica o pediatra e nutrólogo Fábio Ancona Lopez, professor da Universidade Federal de São Paulo.

Todos os especialistas entrevistados pelo Bebê.com.br concordam: as brincadeiras ativas entre as crianças – como ir ao parque, jogar bola e brincar de pega-pega – diminuíram, ao mesmo tempo em que os pequenos passaram a ter mais acesso aos alimentos industrializados, como bolachas e chocolates.

Eles passam boa parte do tempo em frente à televisão e, além de não gastarem as calorias, são bombardeados por inúmeras propagandas de salgadinhos, lanches de fast food, entre outros, o que os leva  a desejar ainda mais esse tipo de alimento.

Os pais também têm sua parcela de responsabilidade. “Atualmente, eles têm dificuldade de dar limites às crianças, o que inclui controlar a quantidade de alimentos muito calóricos que elas consomem. Muitos deles passam um longo tempo distantes dos filhos, devido ao trabalho. Após um dia cansativo, falta disposição para cozinhar e muitos optam pela comida industrializada. Sem contar que, na tentativa de compensar a ausência, cedem sempre que os pequenos pedem para comer algo”, conta a psicóloga Paula Kioroglo, do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.

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Estela Renner, diretora do documentário Muito além do peso, que aborda a obesidade infantil no Brasil, inclui, na lista de causas do distúrbio, o desconhecimento dos pais sobre os problemas que certos alimentos provocam e o início precoce dos maus hábitos alimentares. “O que mais me impressionou foi o fato de que a criança é aprisionada pelo paladar dela. Os alimentos consumidos na primeira infância já contém muito açúcar, o que faz com que ela se acostume e deseje isso sempre”, avalia Renner. Veja entrevista com a diretora do documentário. 

A obesidade também tem causas biológicas. “Existe uma tendência genética a acumular mais gordura e são esses indivíduos predispostos que devem cuidar ainda mais da alimentação e praticar mais atividades físicas”, avisa Lopez.
 
Fatores psicológicos e o excesso de peso
Além de todos os motivos já citados, fatores psicológicos também podem contribuir com a obesidade infantil. “Todas as crianças com quem conversei para minha pesquisa tinham uma situação de vida que colaborou para a maior ingestão de alimentos. Elas enfrentaram alguma situação adversa, não puderam elaborar aquilo e acabaram descontando na comida. Foi uma tentativa de preencher o que estava faltando, seja o afeto, seja a possibilidade de assimilar o que ocorreu”, diz a psicóloga Ana Rosa Gliber, que realizou um estudo sobre obesidade infantil pela Universidade de São Paulo.

Em sua pesquisa, Gliber também notou outras semelhanças entre as crianças gordinhas. “Todas elas eram ansiosas e metade tinha o indicativo de depressão. Havia certa imaturidade e um pouco de insegurança”, observa.

Quando a criança já está obesa, os problemas emocionais podem contribuir para que ela tenha maior dificuldade em emagrecer. “Torna-se um ciclo vicioso, porque a criança engorda, isso abala a autoestima e, para lidar com o conflito, ela come mais”, esclarece Kioroglo.

Afinal, não são poucos os problemas psicológicos enfrentados pelas crianças acima do peso. “O ser humano obeso não é bem aceito na sociedade, a criança obesa, por exemplo, muitas vezes não participa de jogos porque não tem um bom desempenho físico”, conta a endocrinologista Sandra Mara Villares, professora colaboradora do curso de medicina da Universidade de São Paulo. Daí surgem problemas como baixa autoestima, tendência a se isolar e o sentimento de inferioridade. “O que nos preocupa muito é que a criança carregue estes sentimentos para a fase adolescente ou adulta”, explica Kioroglo.

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Os pequenos também podem ter uma compulsão alimentar. “30% das crianças obesas comem compulsivamente. É interessante que, ao começarem o tratamento para emagrecer, os pais submetam o filho a uma avaliação para saber se um acompanhamento psicológico será necessário”, aconselha Villares.
 
Mamãe, eu estou gordo?
Lidar com uma pergunta dessas não é fácil, mas se o filho realmente estiver acima do peso, os pais não podem mentir. “É legal conversar com a criança e reforçar seus pontos positivos, sem ignorar o fato. Então, eles podem dizer algo como: sim, você está acima do peso e isso nós podemos mudar. Mas olha como você é inteligente e legal”, orienta Gliber.

Outro desafio para os pais é convencer o filho a aceitar a nova alimentação. “Eles devem deixar claro para a criança que ela não vai passar fome e é interessante que também ressaltem o lado positivo, dizendo que, com essa atitude, ela vai viver mais, entre outros benefícios”, diz Gliber. Os alimentos oferecidos devem ser saborosos e lembre-se de que normalmente não há restrições na nova dieta da criança, apenas uma redução dos alimentos gordurosos e o aumento dos mais saudáveis. Os pais também devem dar o exemplo e passar a se alimentar melhor. “Não adianta a criança comer salada, arroz, carne e os pais se esbaldarem com uma pizza. A mudança alimentar requer um tratamento da família toda”, ressalta Kioroglo.
 
A saúde da criança obesa
Os problemas de saúde que a obesidade acarreta nos pequenos são gravíssimos. “O distúrbio provoca o aumento da pressão arterial e dos níveis de colesterol, problemas de pele e nas articulações de joelho e quadril, além do risco de desenvolver a diabetes tipo 2”, afirma Lopez.

O desenvolvimento infantil também é afetado pelo sobrepeso. “Geralmente as crianças gordinhas estão desnutridas porque comem alimentos mais calóricos, com muito açúcar, sal e carentes em nutrientes essenciais. Uma criança bem nutrida e que faz atividades físicas vai melhor até na escola”, diz o nutrólogo Alexander Gomes de Azevedo, autor do livro Pais inteligentes, filhos saudáveis.

Para saber se seu filho está obeso ou com sobrepeso é importante que os pais façam acompanhamento constante no pediatra e, uma vez detectada a obesidade, inicie-se o tratamento imediatamente.
 
É melhor prevenir….

…do que remediar, já diziam nossas avós. Este ditado certamente vale para os casos de obesidade infantil. “Quando uso o termo pais inteligentes no título de meu livro, me refiro àqueles pais mais esclarecidos em relação à alimentação e doenças e que, após um ano de idade, não oferecem chocolates ou frituras para o filho. São pais que se preocupam desde cedo em ensinar a criança a ter uma boa alimentação e estimulam o filho a praticar uma atividade física. Eles sabem que alimentar não é o mesmo que nutrir e terão filhos mais saudáveis”, conta Azevedo.

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