Vacinação infantil sem trauma: maneiras de fazer a “picadinha” doer menos

Alguns comportamentos dos pais e estratégias médicas podem ajudar a tornar o momento da vacina mais tranquilo para os pequenos.

Por Flávia Antunes
Atualizado em 15 Maio 2020, 15h59 - Publicado em 21 jan 2020, 16h06
 (Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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O momento da vacina pode não ser dos mais agradáveis para os pequenos. Seja pelo medo da agulha ou pelo ambiente desconhecido, a tendência é que eles evitem ao máximo a injeção – e, provavelmente, que optem pela imunização em forma de “gotinha” quando for possível.

No entanto, sabemos que em alguns casos não da para fugir da “picadinha”, pois só assim as crianças estarão protegidas das famosas viroses. Agora, se a notícia da vacinação já virou motivo de protesto na sua casa, trazemos boas notícias: cada vez mais surgem estratégias para tornar o momento menos incômodo, e elas vão desde comportamentos da família até utensílios da própria clínica médica. Confere só:

Os adultos têm papel fundamental na reação dos filhos

Ok, sabemos que quem vai tomar a vacina é o baixinho, mas os adultos têm papel fundamental neste processo. Além de informar os filhos sobre os benefícios da vacina e como será o procedimento – de preferência alguns dias ou horas antes de chegar na clínica – a postura dos pais no momento da picada faz toda a diferença.

O fato já foi constatado até no âmbito acadêmico. Pesquisadores da Universidade York, no Canadá, avaliaram 548 crianças, acompanhadas durante as picadas desde os 12 meses de idade, e chegaram à conclusão de que sim, o comportamento do pai e da mãe interfere na forma como o pequeno encara a agulha.

“Os pais geralmente são o ‘porto seguro’ da crianças, e, se eles estiverem ansiosos, incomodados ou desconfortáveis com a situação, o filho pode acabar absorvendo as mesmas sensações. Por isso, é importante que os pais transpareçam segurança e tranquilidade para acalmarem o filho”, explica o pediatra Dr. Daniel Jarovsky, do Fleury Medicina e Saúde.

Outro ponto importante é a comunicação. Claro que com bebês esta estratégia não funcionará, mas com as crianças maiores a conversa pode tornar a experiência mais natural. “Experimente explicar o papel da vacina com uma linguagem didática e lúdica, dizendo que ela deixará o filho ‘mais forte’, que ficará menos doente e que é uma ‘picadinha’ rápida”, recomenda o médico.

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Ah, e adaptar a realidade ao universo infantil não significa mentir, viu? Como o especialista esclarece, não falar a verdade para criança pode trazer problemas no futuro e enfraquecer a confiança nos pais. “Evite dizer, por exemplo, que não doerá nada. Uma ideia é fazer analogias com animais, como uma ‘picadinha’ de formiga ou de passarinho e dizer que a vacina pode, sim, incomodar um pouco”, sugere Daniel.

Transparência também é a palavra-chave para a Dra. Flavia Carijó, Diretora Médica da Rede Prophylaxis de Clínicas de Vacinação. De acordo com ela, os baixinhos costumam ser receptivos às explicações de seus pais. “É preciso reforçar que a criança é forte e que ela vai aguentar. Do ponto de vista da ação da vacina, é preciso detalhar que ela irá prevenir doenças que são transmitidas por mosquitos ou por outras pessoas, e que, por conta dela, os pequenos não ficarão de cama, não precisarão tomar injeções e nem ir ao hospital”, diz ela.

A pediatra da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, Dra. Mariana Nudelman, destaca mais um aspecto que merece atenção: o jeito com que os adultos falam da vacinação, como se fosse uma punição. “Existe um comportamento cultural de usar a vacina como algo ruim. Como ‘não vai comer, então vai levar injeção’ ou ‘se não vai obedecer, vou te levar no doutor para tomar uma injeção’. Eu escuto muito isso. Temos que alterar essas falas, porque elas fazem a criança temer a vacina”, afirma.

E se, mesmo assim, a criança fizer birra?

Nada de brigar se a criança estiver chorando. Segundo o pediatra do Fleury, o ideal é priorizar o reforço positivo e acalmar o filho, dizendo ‘não tem problema chorar, o papai ou a mamãe também chorava com a sua idade, por exemplo. Deixar claro que o procedimento será rápido também pode funcionar.

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Com a experiência clínica, Dr. Daniel conta que partir para a brincadeira é uma boa opção. “Fazemos a ligação da vacina com super-heróis ou com algum personagem da preferência da criança. Se ela vier vestida de Huck, por exemplo, dizemos que ‘o Huck também toma vacina’. Isso pode encorajá-la”.

O ambiente da vacina faz toda a diferença

Já é tendência que as clínicas invistam na questão lúdica do ambiente pediátrico. “Brinquedos, música e outros ‘distratores’ ajudam a desvincular a ideia negativa do espaço médico. Os locais de vacina são cada vez mais especializados, com personagens que ajudam a tirar a atenção do possível desconforto “, explica Daniel. 

Mariana concorda que os atrativos na sala de espera e de consulta são ferramentas importantes, e acrescenta que o próprio profissional que aplicará a vacina pode contribuir para deixar o clima menos estressante. “Acho interessante a enfermeira usar uma luva colorida ou alguma vestimenta divertida que distraia a criança, para evitar o clima de ambiente hospitalar”, aponta ela.

A pediatra também sugere que a consulta pediátrica seja naturalizada com a ajuda dos pais. “Existem brinquedos com kit médicos e agulhinhas, por exemplo, que fazem a criança entrar em contato com o universo hospitalar e que tornam o processo mais divertido”, diz.

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Estratégias médicas para a picadinha “doer menos”

Algumas clínicas adotam estratégias para diminuir a sensação da picada. Uma delas é o uso do Buzzy, um dispositivo vibratório colocado no braço da criança para “distraí-la” da injeção. “O aparelho possui dois pontos interessantes: ele geralmente tem o formato de uma abelha, que por si só já pode ser usado de forma positiva, associando à ‘picadinha de abelha’; e emite movimentos vibratórios – que sabemos que, por si só, ajudam a tirar a dor”, esclarece o pediatra Daniel.

O problema do equipamento é seu preço – e este talvez seja o maior motivo de não ser utilizado em todos os laboratórios, de acordo com o médico. “Existem outras técnicas também, como a injeção simultânea de duas vacinas. Fazendo a aplicação de duas vacinas ao mesmo tempo, a sensação é de uma única dor. Pode ser uma em cada braço, ou uma em cada perna, em membros opostos”, acrescenta ele.

Recompensa depois da vacina: pode?

A resposta é variável, mas os especialistas tendem a concordar que, dependendo do tipo de recompensa, ela pode ser de grande ajuda. “A recompensa é muito útil. Como pediatra, sou contra que seja em forma de doce. Pode ser adesivo, carimbo com tinta atóxica, certificado com gravura, dizendo que a criança cumpriu a vacinação, entre outros”, aponta o médico. “A criança sabe que vai doer um pouco, mas que será rápido e receberá algo em troca depois. É uma forma lúdica e válida, que não estará enganando ninguém”, acrescenta.

Já Mariana acredita nas atividades de lazer como uma boa compensação depois da “picadinha”. “Os pais podem sugerir algum passeio ou uma brincadeira quando chegarem em casa. Como é uma processo doloroso e a criança realmente precisa disso, não vejo problema”, diz ela. 

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