No dia 20 de maio, o Ministério da Saúde divulgou uma atualização das recomendações sobre o uso de medicamentos relacionados à azitromicina, como cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina, ainda nos primeiros dias de sintomas do novo coronavírus. Entre os alertas no documento, levanta-se a questão sobre a indicação das substâncias para o público infantil.
“Em crianças, dar sempre prioridade ao uso de hidroxicloroquina pelo risco de toxicidade da cloroquina”, ressalta o documento. Entretanto, no dia 29 de maio, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu uma nota de alerta sobre não existir estudos que comprovem a eficácia dos medicamentos e, consequentemente, o porquê de não recomendá-los.
O primeiro ponto levantado pela instituição é que, mesmo o número de casos pediátricos sendo menor em comparação com as evidências da doença em adultos, isso não muda a importância de descobrir um “tratamento efetivo, seguro e de fácil administração” para esse público também.
Só que, até o momento, não há pesquisas que comprovem que esse caminho se dá pelo uso dos derivados da azitromicina. “Após busca extensa na literatura disponível sobre Covid-19, não se observou estudos clínicos, randomizados e controlados com resultados consistentes e favoráveis à administração de cloroquina ou hidroxicloroquina, associados ou não a macrolídeos (grupo de antibióticos), tanto para a população adulta como a pediátrica”, reforça a nota.
A SBP ainda aponta o maior estudo feito sobre os benefícios da cloroquina e da hidroxicloroquina. Publicada por Mehra e colaboradores, no periódico científico ‘The Lancet’, a pesquisa avaliou dados de 96.032 paciente hospitalizados em decorrência do Covid-19, em 671 hospitais de seis continentes.
Deste público, 81.144 pessoas faziam parte do que é chamado de “grupo controle”, isto é, que não tiveram intervenção medicamentosa e o quadro médico é usado como comparativo. Já 14.888 indivíduos foram colocados no “grupo tratamento”, recebendo algum tipo de medicamento relacionado à azitromicina nas primeiras 48 horas após o diagnóstico da inflamação respiratória.
“Os autores concluíram que não foi possível confirmar algum benefício da hidroxicloroquina ou cloroquina, quando utilizadas sozinhas ou associadas a macrolídeo, em pacientes hospitalizados com Covid-19. Além disso, os autores puderam observar que cada um desses regimes de medicamentos foi associado à diminuição da sobrevida hospitalar e aumento da frequência de arritmias ventriculares quando utilizados no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19”, ressalta a SBP.
Além dos resultados negativos da pesquisa, a instituição também alerta sobre não existir análises específicas sobre o uso dos medicamentos em crianças e poucas iniciativas incluírem o público infantil como participante ativo para descobrir novos dados.
Com este cenário, a conclusão sobre as novas recomendações é clara: “Não há dados que amparem a segurança e a eficácia do uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em crianças tanto em casos leves, moderados como graves. Sugerimos, portanto, até que tenhamos mais evidências, reservar o uso destes medicamentos apenas para crianças e adolescentes em estudos clínicos controlados, com a anuência dos seus pais e ou responsáveis”.