Muitas mães se sentem culpadas pelo autismo dos filhos, aponta pesquisa
Estudo inédito realizado em 2023 traz números relevantes sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) no Brasil
Desenvolvida em setembro de 2023 e divulgada no último mês, a pesquisa Retratos do autismo no Brasil contou com 2.247 participantes, trazendo números atualizados sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O estudo é da Genial Care, em parceria com a Tismoo.me, e se baseou em uma amostra cujo perfil é formado, em sua maioria, por pessoas cuidadoras, casadas, que têm entre 35 e 44 anos e renda mensal que vai de R$ 3 mil a R$ 5 mil.
Entre os dados levantados, um dos principais diz respeito às dificuldades encontradas pelos cuidadores de autistas. Insegurança em relação ao futuro, problemas financeiros e falta de tempo para descanso lideram as queixas. Uma informação interessante sobre esse grupo é que, entre os próprios cuidadores, há um número expressivo de pessoas com TEA – 24,2% deles também são autistas.
O sentimento de culpa dos cuidadores
De acordo com a pesquisa, 64% dos entrevistados nunca tinham tido contado com o transtorno antes de receber o diagnóstico (próprio ou da criança), apontando para uma falha social, institucional, entre outros âmbitos, em relação à inclusão. Sobre esse assunto, Kenny Laplante, CEO da Genial Care, afirmou que “a sociedade deve garantir um suporte inclusivo que celebre as diferenças e permita que todos alcancem seu potencial máximo”.
Já sobre o cuidado dos filhos, 36% dos adultos afirmam se sentir culpados pelo transtorno dos pequenos, mas há uma diferença bem acentuada em relação ao gênero: desses, 89% são mulheres, enquanto apenas 11% são homens. “Esse dado é importante para entender se elas sentem que foram responsáveis, de alguma forma, pelo diagnóstico de autismo na criança”, explica o documento que reúne os resultados.
É importante reforçar que, embora o estigma da culpa materna ainda exista no Brasil, sabe-se que o TEA tem causas diversas e não associadas à criação dos filhos ou à relação entre mãe e criança.
Saúde física e mental da pessoa com TEA
Outra área abordada pelo estudo é da saúde física e mental de pessoas com TEA. Em relação à primeira, destacam-se problemas gastrointestinais, doenças respiratórias e obesidade, nessa ordem de prevalência. A respeito das questões do trato digestivo, o documento cita um estudo publicado no Pediatric Health, Medicine and Therapeutics:
“A manifestação clínica de doenças do trato digestivo em crianças com TEA pode ser diferente em comparação com crianças com desenvolvimento típico, e o diagnóstico de um distúrbio gastrointestinal em crianças pode ser mais difícil e tardio. Sintomas subjetivos como dor, desconforto, azia ou náusea são muito difíceis de avaliar e interpretar devido aos principais sintomas do TEA, como dificuldades na comunicação verbal e não verbal, bem como uma percepção alterada da dor.”
Sobre a saúde mental, as respostas preocupam ainda mais: 49% dos entrevistados responderam (sobre si mesmos ou sobre a pessoa cuidada) que já tiveram episódios de autolesão e mutilação, enquanto 7% já tentaram tirar a própria vida. “É, sem dúvida, uma questão de saúde pública, que deve ser tratada por governos e sociedade com atenção e urgência”, alerta Francisco Paiva, da Tismoo.me.
Por fim, vale lembrar que, quanto mais dados tivermos sobre o autismo, mais preparados podem estar o poder público e as instituições para melhorar abordagens e pensar formas de inclusão e de garantia dos direitos básicos de todos.