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Mais evidências apontam para baixa transmissão da Covid-19 por crianças

Pesquisadores norte-americanos reúnem estudos que refutam o papel dos pequenos na disseminação do novo coronavírus, o que facilitaria volta às aulas.

Por Chloé Pinheiro
14 jul 2020, 16h21

Lá no início da pandemia de Covid-19, as escolas logo fecharam as portas por conta de um raciocínio clássico e bem estabelecido pela ciência: o de que crianças são grandes transmissoras de vírus, por viverem próximas uma das outras e terem o sistema imune ainda em desenvolvimento. 

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Mas os estudos têm mostrado que é pouco provável que isso seja verdade no caso do Sars-Cov-2. Recentemente, um artigo publicado no Pediatrics, periódico científico da Associação Americana de Pediatria, reuniu evidências nesta linha para endossar a reabertura das escolas, desde que seguindo os devidos cuidados e em locais onde a transmissão comunitária é baixa. 

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“Depois de seis meses, temos uma riqueza de dados mostrando que crianças transmitem e se infectam menos com o coronavírus, e que são os adultos que não seguem protocolos de segurança os responsáveis por elevar a curva de contágio”, destacou em comunicado à imprensa William V. Raszka, pediatra da Universidade de Vermont que assina o artigo. 

Crianças transmitem Covid-19? 

Provavelmente sim, mas raramente. Para corroborar o argumento, os autores, da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, utilizam estudos internacionais. Um deles, conduzido na Suíça e publicado na mesma edição do Pediatrics, avaliou famílias de 39 crianças com Covid-19 e concluiu que apenas três delas haviam sido o primeiro caso na casa.  

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Na China, cientistas rastrearam os contatos de 68 crianças internadas e concluiu que elas haviam sido infectadas por adultos em 96% dos casos. Já uma pesquisa francesa acompanhou um garoto com a doença que interagiu com mais de cem colegas em três escolas diferentes e nenhum deles contraiu o vírus. 

Alguns fatores, contudo, dificultam investigações do tipo. Primeiro, há a suspeita de que boa parte das crianças seja assintomática, o que inviabilizaria cravar se ficaram doentes antes ou depois de um adulto. Depois, a doença se espalhou principalmente em locais não muito frequentado pelos pequenos, como voos internacionais – não houve grandes surtos em escolas, por exemplo.

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Embora o papel das crianças na cadeia de transmissão seja questionável, elas ainda ficam doentes e podem sim passar o vírus aos adultos, mesmo que mais raramente, então os achados não servem de autorização para retomar à vida de antes sem preocupações. 

Reabertura das escolas 

Para os autores, os achados demonstram que é possível projetar a reabertura segura das escolas. “Retornar com segurança pode ajudar a minimizar os potencialmente profundos efeitos negativos na vida social, no desenvolvimento e na saúde que as crianças continuarão sofrendo até que a pandemia seja resolvida”, concluem no texto. 

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Vale dizer que a escola não envolve apenas a aglomeração de crianças: pais circulam para ir e voltar, nas entradas, funcionários convivem, pegam transporte público… Por isso, antes de pensar na reabertura, é preciso que a transmissão comunitária na região esteja controlada, com os adultos aderindo às normas de distanciamento social e higiene. 

Como exemplo, os pediatras que assinam o texto citam o Texas. O estado norte-americano viu nas últimas semanas mais de 1.300 casos de Covid-19 em creches – 894 em funcionários e 441 em crianças. Por lá, a população não aderiu bem às máscaras e já está se reunindo em aglomerações para aproveitar o verão. 

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Nos outros países que já voltaram às aulas, os resultados são desiguais. Em Hong Kong, houve uma segunda onda de casos e as escolas fecharam por precaução, mas não houve registros entre estudantes. Já em Israel, uma única escola registrou 130 casos e mais de 240 infecções ocorreram em instituições de ensino no país. 

Aqui, a decisão está a cargo de secretarias estaduais e municipais. Algumas cidades já reabriram nas últimas semanas, como Duque de Caxias (RJ) e Manaus (AM), e a rede estadual de São Paulo planeja o retorno para setembro. Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Maranhão e outros estudam o retorno para agosto. 

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)

 

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