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Com mutação rara e pesando 200 kg, menina de 11 anos passa por bariátrica

A autorização para a cirurgia foi concedida pela Justiça, já que a garota ainda não tem a idade mínima para realizar o procedimento

Por Carla Leonardi
15 dez 2022, 13h35

Diagnosticada com uma mutação genética rara, uma menina de 11 anos que vive com a família em Irati, na região central do Paraná, e que pesava 200 kg, conseguiu na Justiça o direito de ser submetida a uma cirurgia bariátrica – procedimento popularmente conhecido como “redução de estômago”, que diminui o tamanho do órgão.

“Os quadros de obesidade ‘comuns’ são gerados principalmente por hábitos de vida inadequados. No entanto, há quadros muito graves e de início muito cedo – nos primeiros anos de vida – que devem nos alertar para o diagnóstico do que chamamos de obesidade monogênica, ou seja, causada por alguma mutação mais grave, que geralmente atrapalha o mecanismo de fome e saciedade”, alerta Ludmila Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

É justamente esse o caso da paciente, que tem sido chamada de “M.” para ter a identidade preservada: ela apresenta uma mutação genética no receptor de melanocortina tipo 4, que fica no hipotálamo (uma região do cérebro) e que ajuda a sinalizar a sensação de saciedade. “Quando o receptor está alterado, a melanocortina não consegue exercer sua função. É como se tivéssemos a chave, mas não uma fechadura adequada. A chave simplesmente não consegue abrir a porta”, explica a médica.

Segundo a mãe da garota em entrevista ao G1 PR, a filha já tinha sobrepeso desde bebê e a situação foi piorando com o tempo. Tanto que, com 200 kg, ela já não conseguia se movimentar como uma criança saudável, precisando de ajuda até para tomar banho. Além das limitações e dos possíveis problemas de saúde decorrentes do quadro, M. ainda enfrentava bullying na escola e a família evitava certos lugares para que a menina não sofresse com os olhares de julgamento.

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Na foto, uma menina obesa, cujo rosto está borrado para não ser identificada, está sentada sobre a cama de hospital. Está com uma camisa 10 da seleção brasileira, amarela, sobre o corpo. Ela parece sorrir.
(Arquivo pessoal/G1 PR/Reprodução)

Acompanhamento multidiscilpinar

Depois de ter o direito à cirurgia negado pelo Sistema Único de Saúde, que se baseou na idade mínima estabelecida pelo Ministério da Saúde (16 anos), a família recorreu junto à Assistência Social e ao Conselho Tutelar de Irati, e a Justiça determinou, em setembro, que a bariátrica poderia ser realizada. A decisão levou em conta que os riscos do procedimento eram menores do que os da obesidade, considerando também que tentativas anteriores de tratamento não deram certo.

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“A cirurgia bariátrica, nesse caso, pode ser uma medida paliativa, pois é uma obesidade extremamente grave. Claro que a causa de tudo (a mutação) continua, mas a cirurgia pode ajudar a melhorar o peso e contornar os efeitos da obesidade no corpo da menina, como diabetes, esteatose hepática (que é o acúmulo de gordura no fígado), elevação do colesterol e até mesmo problemas de locomoção. Mas o problema não termina aí. É necessário um acompanhamento multidisciplinar contínuo por toda a vida para a criança e para a família”, alerta a endocrinologista.

A garota foi internada no final de outubro para o pré-operatório e passou por uma rotina de consultas com profissionais de diversas frentes, como fisioterapia, psicologia, psiquiatria e nutrição. Nesse período, perdeu cerca de 15 quilos e foi submetida à bariátrica no último dia 8 de dezembro, mas ainda não tem previsão de alta hospitalar.

Agora, segundo a mãe, M. está bem, porém ainda deve passar algumas semanas internada, saindo apenas quando estiver plenamente recuperada.

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