Se a conversa sobre saúde mental com o nível de informação e transparência que temos hoje é um feito recente, ela parece ainda mais inédita quando falamos do público infantil. Há pouco tempo, acreditava-se que depressão era uma doença só de adultos, que os pequenos não tinham crises de ansiedade ou mesmo que poderiam sofrer com algum transtorno alimentar.
Agora já se fala sobre a importância dos pais ficarem atentos aos sinais e mudanças de comportamentos que os filhos apresentam dentro de casa, já que – seja por falta de vocabulário ou de ferramentas para comunicar o que sentem – as famílias podem acabar demorando para buscar ajuda e o caso agravar. Foi o que aconteceu com a britânica Ava-Lilly Sterland, que tentou tirar sua vida depois de sofrer com ataques recorrentes de bullying.
Na época, a menina tinha apenas oito anos e, felizmente, sua mãe chegou a tempo para evitar que o pior ocorresse. Após ser diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático (TSPT) e de ter acompanhamento terapêutico, agora ela usa sua experiência para ajudar crianças que vivem situações parecidas.
No vídeo compartilhado em sua rede social e que vem bombando desde maio, a pequena revela detalhes sobre a sua história, que começou com ataques em seu antigo colégio. “Há alguns anos, eu sofria bullying. Ficava assustada o tempo todo na escola e não sabia o que fazer”, escreveu ela.
Depois de criar coragem para contar para seus pais, a menina trocou de escola e diz ter amado o novo ambiente. Só que, alguns meses depois, passou a se sentir diferente. “Meu cérebro começou a ficar estranho. Eu tinha uma voz na minha cabeça que não pertencia a mim. A voz me dizia que ninguém gostava de mim e que eu fazia tudo errado. Essa voz me dizia para me machucar”, lembra Ava.
Foi aí que a garotinha tentou o suicídio e seus pais perceberam a gravidade do que estava acontecendo com a filha. “Minha mãe me encontrou na hora certa. Depois disso, as pessoas começaram a ouvir minha mãe e o meu pai quando eles diziam que eu precisava de ajuda”, pontuou no vídeo.
Por fim, Ava disse que hoje se considera uma menina feliz e incentivou as crianças que estão passando por uma vivência traumática a compartilharem com pessoas de confiança. “Se você alguma vez se sentir como eu me senti, ou se está sofrendo bullying, por favor conte a um adulto que você confie”, deixou o alerta.
Confira o vídeo na íntegra:
A dureza de descobrir que a saúde mental do filho não vai bem
Depois da repercussão do vídeo da filha, sua mãe Sophie Sterland, de 34 anos, concedeu uma entrevista ao veículo britânico Mirror dando detalhes sobre a trajetória da menina e qual foi a sensação de perceber que a pequena lidava com um transtorno mental.
“Eu não conhecia nenhuma criança com depressão antes de Ava. Foi de partir o coração e eu não consigo acreditar no que minha filha passou”, revelou a mãe.
Segundo ela, a saúde mental da menina começou a piorar rapidamente quando ela tinha sete anos. “Ela queria ficar sozinha o tempo todo e estava sempre quieta”, lembrou.
Mesmo com a mudança de escola, a mãe notava que algo não estava indo bem com a filha. Preocupados, os pais inclusive levaram Ava a hospitais, clínicas e centro de atendimento, mas nada foi feito. “Por um ano, os médicos disseram que não havia nada de errado com Ava. Nossa família inteira virou de cabeça para baixo e nos sentimos muito sozinhos”, comentou Sophie.
Mas o auge do sofrimento aconteceu quando presenciou a tentativa da pequena de tirar a própria vida em seu quarto. “Eu fiquei em completo choque e totalmente devastada”, confessou. E acrescentou: “Nós ficamos horrorizados de saber que ela estava sofrendo em silêncio por dois anos”.
Na foto acima, a mãe relata que a menina estava com medo de que nenhuma criança aparecesse em seu aniversário, mas todos os colegas foram. Ela também alerta que foi quando o bullying de fato acabou, que começou o tormento da garota. “O que aqueles ataques deixaram foi insuportável para Ava lidar. Foi uma imensa jornada para nós trazê-la para onde está agora, genuinamente feliz”, revela a mãe.
Ava começou a ter o acompanhamento psicológico, que foi decisivo em sua recuperação. “O terapeuta foi incrível. Agora ela está bem melhor e adora ficar com a família. Ela é muito criativa, solidária e uma jovem defensora da saúde mental”, disse a mãe.
Hoje a menina de dez anos participa de uma instituição de caridade relacionada à saúde mental e usa sua influência nas redes para arrecadar fundos para causas relacionadas ao tema.