É tão normal ouvir dizer que a gravidez é uma fase mágica e que trazer uma vida nova ao mundo é um momento sublime, que só o fato de pensar que sentimentos negativos ou sensações estranhas possam acompanhar a chegada do bebê já é difícil para as futuras mamães. Mas a verdade é que isso acontece – e muito! A depressão pós-parto é a complicação mais comum entre as mulheres que acabaram de dar à luz, atingindo uma em cada quatro brasileiras. E um novo estudo publicado pelo americano Journal of Pediatrics apontou que mães de crianças prematuras sofrem ainda mais com esse problema, principalmente nos casos em que o pequeno precisa ficar internado na UTI neonatal.
A pesquisa liderada por Betty R. Vohr, diretora do Programa Neonatal de Acompanhamento de Mulheres e Crianças e professora de pediatria na Escola de Medicina Warren Alpert da Brown University, nos Estados Unidos, apontou que há alguns fatores sociais e emocionais que aumentam consideravelmente o risco de depressão pós-parto em mães que trouxeram seus filhos ao mundo antes do tempo. “Nós percebemos que mulheres com distúrbios mentais prévios e com percepções negativas sobre ela e sobre sua criança no momento de alta da UTI tinham um risco maior de apresentar depressão um mês depois da alta, independentemente do grau de prematuridade do bebê no nascimento”, explicou Katheleen Hawes, autora principal do artigo.
O estudo levou em conta 724 mães de prematuros que ficaram mais de cinco dias na UTI neonatal e que participaram de um programa chamado “Transição para casa”, que oferecia suporte e informações sobre os pequenos. Antes de receber alta, as participantes avaliaram suas percepções em relação à equipe profissional da UTI, ao bem-estar dela e do bebê (competência emocional) e ao que foi chamado de conforto maternal (relativo à preocupação com o recém-nascido). Também foram informados aos pesquisadores o histórico de doenças mentais e os fatores de riscos sociais. Depois de um mês de alta, a Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS) foi utilizada para avaliar essas mulheres.
“Mães de bebês prematuros extremos, prematuros ou prematuros tardios apresentaram taxas similares de possibilidade de depressão – 20%, 22% e 18% respectivamente – um mês depois da alta da UTI. Histórico de distúrbios mentais, baixa percepção do bem-estar maternal e do conforto da mãe em relação a seu filho, bem como da coesão familiar, também estiveram associadas à possibilidade de depressão pós-parto”, diz Katheleen.
O estudo concluiu, portanto, que uma avaliação detalhada da saúde mental antes da alta é essencial para identificar mulheres em risco e, assim, oferecer a elas um suporte adequado. “Essa observação da transição para casa, bem como as intervenções para reduzir a ansiedade e reforçar a saúde mental, a confiança e preparação, juntamente com avaliação pós-alta, são essenciais para identificar, tratar e ajudar mães de prematuros”, finaliza a pesquisadora.