Projeto promove parto humanizado na rede pública de São Paulo
Disponível em 9 hospitais da capital, o Parto Seguro traz condutas que respeitam a mãe e o bebê no momento do nascimento. Saiba mais!
Cada vez mais as mães estão em busca de um parto humanizado, que leve em consideração as suas escolhas e traga o pequeno ao mundo de maneira respeitosa. Independente de acontecer em casa ou no hospital, o principal objetivo é tornar o processo de nascimento o mais natural possível. Por essa razão, intervenções médicas – como episiotomia, administração de medicações, entre outras – não são realizadas rotineiramente.
Apesar de nem todas as brasileiras terem a oportunidade de vivenciar essa experiência, em São Paulo, as mamães podem contar com o Parto Seguro – um serviço que existe desde 2011 na rede pública da capital. “Ele traz condutas humanizadas e não usa intervenções desnecessárias – como a ocitocina, que acelera o parto e o rompimento da bolsa. Com isso, conseguimos otimizar os leitos, tivemos mais partos com resultados maternos e neonatais satisfatórios. Também reduzimos a prática de episiotomia para 15%”, explica Anatalia Lopes de Oliveira Basile, enfermeira doutora em Ciências da Saúde e coordenadora geral do Parto Seguro à Mãe Paulistana no CEJAM.
O programa é fruto da parceria da Secretaria Municipal da Saúde com a Organização Social de Saúde do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM). Atualmente, mais de 20 mil partos são realizados por ano e nove hospitais municipais estão inscritos no projeto. Entre eles, o Prof. Dr. Alípio Correa Netto, Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha, Dr. José Soares Hungria, Prof. Dr. Waldomiro de Paula, Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, Maternidade Prof. Mário Degni, Tide Setúbal, Maternidade Escola Dr. Mário de Moraes Altenfelder Silva e o Hospital do Servidor Público Municipal.
A primeira conduta do Parto Seguro é garantir uma boa assistência à grávida durante o pré-natal. Para isso, ela adquire um plano de parto com informações gerais – como, por exemplo, sobre os procedimentos, posições de parto e escolha da pessoa que a acompanhará. Posteriormente, no trabalho de parto, a mãe também recebe orientações. “A mulher assina que quer o parto humanizado e aí a gente vai explicando porque é melhor ela fazer isso do que aquilo, mas ela faz as suas escolhas”, esclarece Anatalia Basile, coordenadora geral do serviço.
Durante o nascimento da criança, condutas chamadas sensíveis são utilizadas, como banhos relaxantes e massagens feitas para aliviar a dor e reduzir o uso de medicações e, quando o bebê nasce, a indicação é que ele vá diretamente para o colo da mãe. O neonatologista também é orientado a examiná-lo enquanto o pequeno está com ela. “A mulher é estimulada a amamentar na primeira hora. Essas são medidas que valorizam o papel da mulher na experiência do parto”, aponta Alberto Jorge de Sousa Guimarães, ginecologista, obstetra e gerente médico do Convênio Parto Seguro à Mãe Paulistana no CEJAM.
Outro diferencial do programa é que, na maioria dos casos, o parto é feito por um enfermeiro obstétrico, que possuí formação para realizar essa tarefa. “Não é em todos os partos que o obstetra fica junto, se tudo está caminhando bem. Ele está dentro do hospital disponível se algo acontecer. A equipe de assistência está preservada, mas não necessariamente o médico tem que estar na sala”, afirma o Dr. Alberto Jorge de Sousa Guimarães. Anatalia reforça esse ponto: “A gente considera o enfermeiro capaz de fazer a evolução do parto, mas temos o médico obstetra nos casos em que acontece algo mais grave.”
A equipe responsável pelos partos também merece atenção. Depois do nascimento do bebê, os funcionários devem preencher uma planilha com informações gerais e justificar possíveis intervenções. “Temos um método de contratação que é muito bacana. O profissional assina um compromisso da assistência humanizada, dizendo que ele vai acolher as condutas – seja médico, técnico de enfermagem ou enfermeiro”, revela Anatalia. O Parto Seguro ainda não conta com a presença de doulas, mas a coordenadora do programa disse que há interesse em fazer essa inserção. “Estamos escrevendo um projeto que queremos colocar em prática em 2017, que é a presença de um voluntário no parto hospitalar”, completou.
Na hora de dar à luz, é importante que o ambiente seja confortável e adequado para que a mãe possa receber o bebê com tranquilidade. Anatalia Basile fala sobre os locais em que o programa é realizado: “Todos os hospitais passaram por alguma adaptação para favorecer esse parto diferenciado, para permitir que a mulher caminhe, tenha o acompanhante presente e ganhe o neném em uma posição diferente.”
Tanto a coordenadora quanto o gerente médico do projeto são enfáticos ao dizer que ele trouxe muitos benefícios. A enfermeira afirma que a média de cesáreas realizadas nos hospitais adeptos ao programa é de, aproximadamente, 33 a 35%. “Eu acho que nós avançamos bastante. Uma crítica que eu fiz nesse ano é que muitos dados da rede pública sequer foram contados. O (hospital) Tide Setúbal tem parâmetros comparados a hospitais de países desenvolvidos e ninguém tornou isso público”, opina o ginecologista e obstetra Alberto Jorge de Sousa Guimarães.
Por fim, os profissionais apontam os pontos positivos que o parto humanizado oferece para a mulher. “Fica claro que esse bebê vai depender muito da mãe – de como ela o recebe, cuida e amamenta. Você percebe nesses casos que ela tem mais segurança com o filho, maior sucesso na amamentação e também pode ter menor índice de depressão pós-parto“, ressalta o Dr. Alberto.
O obstetra ainda reforça a importância da mulher ser respeitada durante esse momento especial: “O bebê não pode chegar só pela vontade do médico e pelo médico. Tem que ser uma experiência para a mulher no sentido de privacidade, de acolhimento, de não usar o que não precisa ser usado. O parto é onde o bebê e a mãe são privilegiados na segurança e no acompanhamento”. A enfermeira Anatalia completa: “Nós trabalhamos para que a mulher tenha uma gestação saudável, um parto tranquilo e que a criança seja feliz. É isso que queremos.”