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Mãe morre por suicídio 9 dias depois do nascimento de filhos gêmeos

A mulher tinha um histórico de depressão pós-parto grave, segundo o marido. Agora, ele compartilha os detalhes da tragédia, para alertar outras famílias

Por Da Redação
22 jun 2023, 10h43

Ariana Sutton sempre quis ter filhos. Nem ela, nem seu marido, Tyler Sutton, imaginavam que, depois do nascimento da tão sonhada primogênita, Melody, em 2018, a mãe seria internada duas vezes, com sintomas de uma grave depressão pós-parto. Felizmente, ela foi tratada e sua saúde mental melhorou. O casal norte-americano engravidou novamente. Desta vez, de gêmeos. No entanto, nove dias após o parto prematuro dos bebês, a mulher morreu por suicídio, provavelmente, segundo especialistas, vítima de uma condição ainda mais grave: a psicose pós-parto.

“Ser mãe era a melhor coisa do mundo para Ariana”, disse o viúvo em entrevista ao site Today. “Achei que, se eu me mantivesse atento, tudo ficaria bem nessa segunda vez”, afirmou. A realidade que o aguardava, porém, era muito diferente.

Por conta da gestação, a mulher ficou com receio e interrompeu o uso dos medicamentos que controlavam a depressão. Apesar disso, frequentava um psicólogo semanalmente e o obstetra que cuidava do pré-natal sabia do histórico de depressão pós-parto. Todos estavam de olho.

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Não havia nenhum sinal de que algo estava errado. Você nunca teria a menor ideia. Ela ficava fazendo piadas com o inchaço dos tornozelos e brincava sobre como mal podia esperar para beber uma grande xícara de café. Nunca nem sonhei que isso pudesse acontecer. Aconteceu tão rápido, tão de repente”, lamentou o pai das crianças.

Os gêmeos, Everly e Rowan, nasceram prematuros, em 22 de maio. Segundo Tyler, Ariana ficou arrasada quando os dois foram encaminhados para a UTI Neonatal. “Ela começou a falar sobre como queria que eles voltassem para sua barriga. Eu dizia: ‘Querida, eles vão ficar bem. Chegaram antes da hora, mas são saudáveis e estão sob os cuidados de uma equipe grande de pessoas o tempo todo’”, contou ele, lembrando que, no entanto, a esposa não o ouvia.

Na manhã em que Ariana faleceu, ela levantou da cama e extraiu leite materno para os bebês. O marido ficou aliviado, porque achou que aquilo era um bom sinal. Entretanto, no dia em que Everly e Rowan completaram 9 dias de vida, a mãe deixou um bilhete e morreu por suicídio.

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Na carta, ficou claro que ela estava deprimida. Ela disse que se sentia um fardo. Ela era tudo menos um fardo”, ressaltou ele. “Ela só precisava de ajuda. Eu gostaria que ela tivesse simplesmente esperado até que eu chegasse em casa, para que pudesse ajudá-la”, continuou na entrevista.

O início da depressão pós-parto

Da primeira vez em que Ariana sofreu com a depressão pós-parto, os sintomas levaram algumas semanas para aparecer. Tyler contou ao Today que tudo começou quando ela ficou “quase obcecada” com a limpeza da casa. Além disso, passou a demonstrar preocupação excessiva com a água. Isso mesmo: com a água. “Ela ficava achando que poderia haver elementos ruins na água da torneira e ligava para a empresa responsável pelo abastecimento para discutir o assunto. Mesmo depois de eles a certificarem de que estava tudo certo, ela simplesmente não conseguia desistir”, descreveu o marido.

O fato acendeu um alerta e ele notou que a companheira precisava de ajuda. Então, decidiu tirar uma folga do trabalho. “Eu pensei que isso daria a ela a oportunidade de relaxar e de cuidar de si mesma, mas acabou tendo o efeito oposto e piorou as coisas. Ela dizia: ‘Meu marido está fazendo meu trabalho e eu sou uma mãe ruim’”, recordou.

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ilustração de uma mulher dentro de uma bolha
(nadia_bormotova/Getty Images)

Na época, a então mãe de primeira viagem precisou ser internada duas vezes. Após ter sido corretamente diagnosticada, iniciou o tratamento e, aos poucos, começou a retomar a vida normal. Segundo Tyler, os psiquiatras levaram meses para encontrar o medicamento e a dose corretos, mas, quando finalmente acertaram, Ariana passou a melhorar.

A recaída

Quando engravidou dos gêmeos, a esposa disse ao marido que estava preocupada com a possibilidade de o medicamento prejudicar os bebês e parou de tomá-los. Apesar disso, vários estudos demonstram que os antidepressivos mais utilizados podem ser ministrados com segurança durante a gestação – com acompanhamento médico.

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Uma dessas pesquisas, realizada com 145 mil mulheres e seus filhos, que foram acompanhados ao longo de 14 anos, nos Estados Unidos, demonstrou que o uso de antidepressivos comuns durante a gravidez não traz prejuízos ao desenvolvimento cognitivo ou comportamental da criança. Além disso, o tratamento não foi associado a transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo ou deficiências intelectuais. O trabalho foi publicado na revista científica JAMA Internal Medicine.

De acordo com a psiquiatra Juliana Cavalsan, cofundadora do Projeto Sentir Materno (SP), quando a mãe toma antidepressivos e interrompe a medicação de maneira abrupta e não gradual, o risco de piora do quadro é cinco vezes maior. Por isso, a recomendação é manter o tratamento e entrar em contato com o psiquiatra e com o obstetra que, juntos, devem avaliar a melhor conduta.

O fato de os sintomas de Ariana terem surgido tão rapidamente com os gêmeos pode também indicar psicose pós-parto, uma condição mais rara e perigosa, que afeta de uma a duas em cada mil mulheres depois do nascimento dos filhos. “A psicose pós-parto é um transtorno mental que causa uma cisão com a realidade. A mulher ouve o que ninguém escuta, vê o que ninguém vê, tem alucinações”, explica a psicóloga Rafaela Schiavo, ph.D. em psicologia perinatal e parental, autora de centenas de trabalhos científicos sobre saúde mental materna e professora do Instituto Mater Online (SP). A doença costuma ocorrer nas semanas seguintes ao parto.

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Atenção aos sintomas

Diferente da depressão pós-parto, quando a mãe tem consciência do que está acontecendo ou que está se sentindo mal e, por consequência, pode pedir ajuda, nos casos de psicose, não há essa noção. “Como a pessoa perde a noção da realidade, é mais grave”, diz Rafaela. Por isso, é importante que o companheiro ou a companheira, os familiares ou o até mesmo o ginecologista obstetra fiquem atentos aos sinais, para ajudar.

E é exatamente por isso que Tyler decidiu compartilhar sua triste história. Para ele, é um alerta para outras famílias e também para que os médicos, nas consultas do pós-parto ou até mesmo ao longo da gestação, prestem mais atenção à saúde mental e emocional das gestantes.

“Quando as mulheres grávidas chegam à primeira consulta e conversam com o obstetra, elas devem aprender sobre a depressão pós-parto – os riscos e os sinais”, disse Tyler ao Today. “E a conversa deve continuar durante a gestação”, acrescentou.

Uma página de financiamento coletivo foi criada no GoFundMe para arrecadar dinheiro e ajudar o viúvo a criar as três crianças, como pai solo. Os bebês, lógico, ainda não têm noção, mas a filha mais velha, de 5 anos, sente falta da mãe. “Ariana era a pessoa favorita de Melody no mundo”, disse Tyler. “Ela era a mãe perfeita”, finalizou.

Se você sofre ou conhece alguém que pode estar passando por problemas que levam à tendência suicida, existem serviços, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que podem ajudar. O telefone 188 está disponível 24 horas. 

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