Como conciliar trabalho e maternidade

Conversamos com especialistas e ajudamos as mães na tarefa de equilibrar a carreira e os cuidados com os filhos.

Por Bruna Stuppiello (colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 20h59 - Publicado em 20 Maio 2015, 19h25
Fuse/Thinkstock/Getty Images
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1. A volta ao trabalho

Durante licença-maternidade, a mulher passa entre quatro e seis meses afastada do trabalho. Após este tempo fora, o momento do retorno pode vir acompanhado de dúvidas e incertezas. “A primeira pergunta que ela faz é: ‘Será que vão reparar que outros podem fazer o que eu faço?’. Isto pode até fazer com que a pessoa questione se exercer o direito dela da licença é conveniente”, constata o psicólogo social Roberto Heloani, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Fundação Getúlio Vargas. 

Antes de retornar ao batente, é interessante se reiterar do que ocorre no trabalho. “O que eu fiz foi não me distanciar totalmente do que estava ocorrendo na empresa. Os colegas me contavam como estavam as coisas, assim não me sentia totalmente ausente. É interessante almoçar com as pessoas da companhia de 15 em 15 dias ou de um em um mês”, conta Mariana Roriz, diretora da consultoria Hays em São Paulo e mãe. Outra dica: busque informações sobre o mercado de trabalho por meio de notícias.

A atitude da funcionária ao retornar para a empresa também é um diferencial para que tudo corra bem.  “Ela não pode voltar de uma forma arrogante, falando que agora irá colocar ordem na casa, achando que isto vai demonstrar competência. Mas também não deve retornar como se fizesse um pedido de desculpas, como se o direito dela de tirar a licença fosse errado”, diz Heloani. 

2. A volta da licença-maternidade e o filho

Um retorno tranquilo ao trabalho implica o bem-estar do filho. Portanto, é importante escolher com antecedência um cuidador de confiança. “A mãe não pode deixar essa decisão para a última hora. Lembrando que é interessante escolher creches próximas ao trabalho ou de casa. Caso opte por uma babá, vale gastar um mês ou dois para conhecer este profissional, orientá-lo e acompanhá-lo. Assim a mãe ficará mais calma e confiante”, afirma a coach Márcia Belmiro, da Sociedade Brasileira de Coaching Empresas.

A maneira como a mãe age quando vai se despedir do pequeno para ir trabalhar influencia a forma como ele irá corresponder a essa separação. “A criança reage aos nossos sentimentos. Se a mulher se preparou, não se sente dividida, com conflitos internos e o filho ficará melhor”, afirma a psicóloga Elizabeth Brandão, professora de psicologia da PUC São Paulo.

Quando for trabalhar, deixe claro, desde o início, o que está indo fazer e que depois voltará. “Nada de sair às escondidas ou ‘de fininho’. Melhor se despedir e dizer que volta, porque isso é o que vai acontecer. Assim, a criança estabelece uma relação de confiança com aquela que é seu porto seguro. Nada de mentiras! Nunca!”, afirma a psicóloga Cléria Bittar, responsável por um estudo da Universidade Estadual Paulista (UNESP) sobre maternidade, carreira e culpa.

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3. A mãe no ambiente empresarial

Quando estiver na empresa, a mulher deve se dedicar inteiramente a esta atividade. “Uma mãe que fica ligando de 15 em 15 minutos para saber com o filho está prejudica a qualidade do seu trabalho. Isto é um tormento para a companhia e um desgaste emocional para a mãe”, observa Belmiro. Deixe expresso, não apenas em palavras, mas também em atos que você está interessada nos seus afazeres. Uma alternativa é reservar momentos do dia para falar com seu filho ou com o cuidador.

Ao mostrar que é uma profissional dedicada, você também consegue conversar com seu chefe sobre certas flexibilidades de horários. “Se você está rendendo, produzindo e dando o seu melhor tudo é negociável”, diz Belmiro.

Para amamentar a mulher tem direito, até os seis meses de idade do pequeno, a dois descansos de meia hora cada um, durante o expediente. Para poder usufruir disto é importante que o seu filho esteja em uma creche ou com um cuidador próximo do seu trabalho. Ao ter a criança perto da sua empresa, você também tem a possibilidade de visitá-la durante o horário de almoço.

Caso a mãe tenha que levar o filho ao médico, explique a situação para o seu chefe e na volta apresente o atestado de que esteve em uma consulta. Com relação a compromissos da escola, como reunião de pais e apresentações, é possível se organizar. “Não dá para abrir mão dessas coisas e elas são marcadas com antecedência, de modo que tem como falar sobre isso com o seu gestor. Se organize antes para que possa ir tranquila para a festinha ou reunião. Claro que eventualidades acontecerão, mas é importante estar presente na maioria dos eventos”, constata Belmiro.

4. Benefícios da maternidade para a carreira

A maternidade traz uma série de mudanças na vida da mulher e isto pode refletir na carreira de uma forma positiva. “Acho que aprendemos muito sobre como atuar em equipe, como interagir com o outro, afinal, ao sair da barriga o nosso filho é um ser diferente de nós”, explica Belmiro.

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Outra questão interessante é como a mulher passa a lidar com o tempo. “O foco da profissional passa a ser maior. Quando meu filho nasceu eu não tinha mais tanto tempo, então me tornei extremamente objetiva. Você se propõe a fazer as coisas de uma forma mais eficiente”, observa Roriz.

A coach de família e carreira Roselake Leiros é mãe de cinco filhos e diretora da CrerSerMais – Desenvolveimento Humano. Ela explica como aproveitar a maternidade para se tornar um profissional ainda melhor. “Uma pessoa que está comprometida com o trabalho e quer dar um bom exemplo para o seu filho será um profissional melhor. Faça do seu filho o seu grande motivador para ir bem na carreira”, diz.

5. A presença da mãe na vida do filho

A partir do momento em que a mulher se torna mãe é importante ter consciência de que será necessária certa renuncia. Ao conciliar carreira e maternidade, a profissional irá ficar menos tempo com o filho e terá que delegar alguns cuidados do pequeno a terceiros, mas não é preciso sentir-se mal consigo mesma. “Se você gosta do seu filho, não está presente sempre, mas está organizando a rotina e cuidando dele decentemente não tem por que sentir-se culpada”, diz Brandão.

De fato as crianças, pequenas ou maiorzinhas, sentem a ausência da mãe, mas isto não é necessariamente um problema. “Aos poucos, o pequeno se adapta a este fato, sobretudo quando entende que a mãe retorna. Faz parte do psiquismo da criança lidar com a frustração de não ter uma mãe exclusivamente para si, do contrário cresceria insegura e intolerante”, constata Bittar.

O fato de a mulher deixar o bebê durante algumas horas com um cuidador não irá afetar a relação mãe e filho. “Estudos comprovam que a creche não afeta o vínculo de apego com a mãe. Os resultados não evidenciaram que o apego inseguro estava ligado a maior quantidade de horas que a criança passa na creche”, diz a psicóloga Lígia Ebner Melchiori, professora do Departamento de Psicologia da UNESP. 

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Apesar da menor quantidade de horas juntos, é necessário que os momentos em família sejam bem aproveitados, de qualidade. “Não dá para a mulher que tem um filho querer trabalhar sempre das 8h às 20h porque ela vai estar exausta e não vai conseguir proporcionar a atenção correta à criança”, orienta Brandão.

Quando a ausência materna é excessiva o filho dá alguns sinais. “Os principais são agressividade e apatia. Este último é o pior, pois quando o pequeno é agressivo ele ainda está lutando pelo que é bom para ele, já quando está apático não”, conta Brandão.  

6. O segundo filho

 É o casal que decide qual é o melhor momento para ter um segundo filho, porém, é interessante considerar como isto irá afetar a carreira da mãe. “Não soa bem para a empresa que a mulher tenha dois filhos seguidos porque demora um tempo para a profissional retomar a rotina que tinha. Então, ela nem voltou direito e já tem que sair”, observa Roriz.

Porém, tudo depende da postura da mulher. “Eu engravidei um em seguida do outro, mas era uma tremenda profissional”, conta Leiros. Também não se esqueça de que é difícil encontrar o momento perfeito para tornar-se mãe ou ter mais um filho. “Não existe ‘estar preparada’. Será que estávamos no primeiro filho? E no segundo, no terceiro? O que seria isso, ‘estar preparada’? Seria uma questão puramente econômica, de estar com tudo pronto, as contas pagas, a carreira deslanchando, o casamento estável? Isso tudo é o ideal, mas será que regemos nossas vidas pelo ideal ou pelo real? Além do mais, temos que acreditar em nossa capacidade, nossa criatividade de, em determinados momentos, sabermos improvisar”, constata Bittar.

7. Um tempo sem trabalhar

Está em dúvida sobre se volta a trabalhar ou não? Saiba que o momento de separação do filho nunca é fácil, independentemente da idade do pequeno. “Para ser totalmente indolor ninguém nasceria, se a mãe optar por ficar com o bebê em algum momento terá que lidar com a distância, como quando ele for para a escolinha”, diz Brandão.

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A decisão sobre parar de trabalhar deve ser tomada com base nos motivos certos. “Se a mulher quer viver esse momento com o filho e isso traz um imenso prazer para ela, então parar de trabalhar é uma boa escolha. Agora, se ela está optando por isso devido à culpa, a relação com o bebê não será de qualidade porque a mãe olhará para o pequeno como alguém que está roubando a realização profissional dela”, observa Belmiro.

Se você optou por esse período a mais com o seu filho, é interessante tomar algumas medidas para que o retorno ao mercado seja mais fácil. “Aproveite o tempo livre para continuar se preparando profissionalmente, fazer algum curso, entender como o mercado está”, explica Leiros. A pausa também pode ser propícia para uma mudança de carreira, caso não esteja satisfeita com a atual profissão. 

8. Home office

Uma alternativa para passar mais tempo com o filho é fazer home office. Caso sua profissão permita trabalhar de casa, saiba que manter-se organizada é fundamental para conseguir cumprir suas tarefas. “Não é todo mundo que se adapta ao home office. Para dar certo é preciso boa estrutura, internet, skype, telefone, e muita disciplina”, afirma Roriz. Além disso, o profissional tem que saber dividir suas tarefas e tomar cuidado para não se distrair com as questões domésticas.

Algumas empresas já adotaram este método para os seus funcionários. Uma delas é a Serasa Experian. O programa de home office da companhia foi criado no final de 2011 e tem trazido resultados. “Fazemos pesquisas mensais sobre a satisfação de líderes e liderados com o programa. Pelo menos 50% dos gestores alegaram que houve aumento na produtividade dos funcionários”, diz Andréa Regina, gerente de Cidadania Corporativa da Serasa Experian.

Os empregados que adotaram este método notaram melhora no relacionamento com os familiares. É o caso da advogada Cristina Tarabori, mãe de Giovana de 3 anos e 8 meses e Gustavo de 10 meses. Antes, ela perdia entre duas e três horas de seu dia no trânsito a caminho do trabalho ou voltando dele. Agora, o tempo passou a ser aproveitado ao lado dos filhos. “Hoje consigo buscá-los na escola e também dar o jantar. Antes só sobrava tempo de dar o banho, o leite e colocar minha filha na cama”, conta.

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A ligação com os filhos também se tornou ainda mais forte. “Muitas vezes, quando chegava do trabalho e ia buscar a Giovana na casa da minha mãe, sentia que ela estava ressentida. Agora, a questão da proximidade melhorou muito. Já com o Gustavo está sendo diferente, pois desde que ele nasceu trabalho em casa. Quando preciso ir até a empresa e depois vou buscá-los, ele já me recebe com um sorriso e os bracinhos abertos”, observa Tarabori.

A advogada costuma ir entre uma ou duas vezes para a Serasa durante a semana.  Para que consiga se dedicar completamente ao trabalho, seus filhos frequentam a escolinha. “O vínculo com a organização não pode ser quebrado. Também é importante que o local da casa em que o profissional ficará seja exclusivamente de trabalho naquele momento e que haja tranquilidade para a execução das tarefas”, diz Regina.

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