Zika vírus pode aumentar o risco de aborto espontâneo, diz novo estudo

O resultado, visto em primatas, indica a presença da relação mesmo que a gestante não apresente sintomas da infecção. Entenda o que já se sabe sobre o tema!

Por Chloé Pinheiro
11 jul 2018, 19h11
Zika vírus pode aumentar o risco de aborto espontâneo, diz novo estudo
 (Bunwit/Thinkstock/Getty Images)
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Em testes com primatas, cientistas norte-americanos observaram que até 26% das mulheres infectadas pelo zika vírus no início da gravidez podem sofrer abortos ou dar à luz filhos natimortos. A descoberta foi divulgada no periódico Nature e, apesar de ser fruto de análises em animais, fortalece suspeitas antigas dos pesquisadores sobre o efeito do vírus nas gestações humanas para além da microcefalia.

Os dados, analisados posteriormente por diversas universidades, foram colhidos em 6 Centros Nacionais de Pesquisas de Primatas dos Estados Unidos. Os macacos também contraem o zika e, em um ambiente controlado, os acadêmicos conseguem observar a infecção e seu avanço de maneira mais precisa do que nos estudos com humanos.

“Há limitações nos trabalhos com mulheres grávidas, pois eles acabam incluindo, na maioria das vezes, só as que tiveram sintomas da infecção, mas mais da metade das pessoas com zika praticamente não apresenta sinais da presença do vírus no organismo”, apontou Dawn Dudley, autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Wisconsin-Madison, em um comunicado à imprensa.

A pesquisa

Os cientistas acompanharam macacas que engravidaram durante o período da pesquisa para monitorar o progresso do zika no corpo delas e dos fetos, assim como os resultados da gravidez. “As taxas de aborto e natimortos em macacas gestantes infectadas pelo zika vírus foi 4 vezes maior que a normalmente vista em animais saudáveis”, complementou Koen Van Rompay, autora correspondente e cientista líder do Centro Nacional de Pesquisa de Primatas na Califórnia.

Em outra pesquisa, o mesmo grupo já havia demonstrado que a infecção nessa espécie de macaco causava danos cerebrais nos filhotes semelhantes aos vistos em recém-nascidos humanos. Desta vez, os pesquisadores encontraram indícios da multiplicação do vírus em tecidos fetais e placentários, além de lesões patológicas que suportam a suspeita de que o microorganismo causou estragos ali que poderiam levar ao encerramento precoce da gravidez.

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A idade gestacional foi importante para determinar o risco de perda do bebê: a exposição durante o primeiro trimestre estava mais relacionada à morte fetal, fato que condiz com os relatos humanos.

Achados em humanos

Entre a ciência, há uma suspeita crescente de que o zika possa causar mais abortos do que microcefalia, que é a complicação mais famosa depois do surto de 2015. Para investigar esse risco, em 2016, Benedito Fonseca, médico professor da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto analisou 1200 gestações na cidade e fez uma observação surpreendente. Das 178 grávidas expostas ao zika, 9 perderam seus bebês, enquanto apenas 4 tiveram filhos com microcefalia.

E o que fazer com tal informação? Por ora, entender melhor essa relação e se proteger do mosquito aedes aegypti em áreas onde ele é mais prevalente. “O que os dados dos macacos confirmam é que mais pesquisas são necessárias para que possam ser desenvolvidas estratégias de intervenção que protejam gestantes e seus filhos do zika”, completou Lark Coffey, arbovirologista da UC Davis e co-autor do manuscrito.

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