Quando o assunto é gestação, especialmente a primeira, a vontade é de ter um manual em mãos para saber com detalhes como serão os próximos nove meses, né? Mas, ainda que pareça clichê, não dá para esquecer que cada gravidez é uma experiência única. O que significa que, mesmo com as melhores literaturas na cabeceira da cama, não vai dar para saber exatamente como é até a chegada do momento.
Mas isso não quer dizer que uma boa pesquisa para se preparar para o que está por vir seja uma ideia ruim. Assim como você pode usar a internet para saber quantos quilos são esperados durante a gestação, o tamanho da barriga ou como preparar os seios para amamentação, dúvidas sobre a sexualidade também podem aparecer.
Talvez a mais frequente seja sobre a libido durante o período gestacional, que tende a ter subidas e descidas de acordo com o trimestre da gravidez e as mudanças que eles trazem.
Primeiro trimestre
Com a descoberta de que um bebê está a caminho, é comum que gestantes relatem diminuição do desejo sexual e os motivos disso variam. “No primeiro trimestre, que vai até a 12ª semana, o corpo da mulher está se adaptando às intensas mudanças hormonais produzidas pela gestação. Portanto, para entender como vai ficar essa libido, vai depender do mal-estar que essa mulher está sentindo com a adaptação”, explica Flávia Fairbanks, ginecologista e obstetra da Clínica FemCare.
Para a maioria, esse período de adequação é marcado por náusea, cansaço, aumento de sono e, até mesmo, cólica ou desconforto pélvico pelo aumento do útero, o que normalmente diminui a vontade de ter relações sexuais no início da gestação.
Só que Flávia também pontua que existem situações em que acontece o contrário. Este é o caso da confeteira Ana Beatriz Ferreira, que vive a sua segunda gravidez aos 25 anos. “Eu tive baixa libido durante a minha primeira gestação inteira e depois o primeiro ano inteiro do Benjamin. E nessa não. Parece que eu tinha voltado aos 18 anos”.
Ana ainda lembra que o início do gestar do segundo filho foi marcado por mal-estar, mas com libido. “Tive muito enjoo no começo da gestação e passei muito mal, cheguei a emagrecer três quilos. Só que, mesmo assim, tinham momentos de que quando dá vontade, dá vontade”, lembra a confeteira.
Segundo trimestre
Já do quarto ao sexto mês, a obstetra e ginecologista Karina Tafner, especializada em Reprodução Assistida pela Febrasgo (Federaçao Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia), explica que esse período é conhecido como lua de mel da gestação.
“Por volta das dez, 12 semanas, quando acaba o primeiro trimestre, os níveis hormonais caem e estabilizam. O que faz com que, na maioria das vezes, os sintomas que a mulher estava sentindo vão embora e ela se sente reenergizada”.
A volta da libido neste período também pode ser mais favorável pela barriga estar em um tamanho confortável ou até mesmo não ter despontado. Isso facilita a rotina do casal nas posições sexuais: dá para tentar o quiser, seja as que faziam antes da gestação ou, quem sabe, testar novas.
Outro fator que influencia diretamente a libido durante a gestação é o aumento do fluxo sanguíneo nos órgãos genitais, que acontece independente do trimestre. Essa irrigação faz com que a região fique mais sensível e a mulher possa experimentar um orgasmo mais intenso – ou, até mesmo, vivenciar o ápice de prazer pela primeira vez, como pontua Karina.
Terceiro trimestre
Com o bebê próximo do nascimento, a situação das gestantes é semelhante a dos primeiros meses do processo, em que dois comportamentos são mais frequentes entre as mulheres, como explica Flávia.
“O primeiro é das que estão se sentindo plenas, absolutas e muito bonitas com a aquisição do formato definitivo da gravidez, com a barriga crescendo e a sensação de estar realizando um sonho. Consequentemente, elas continuam adeptas à prática sexual, com a libido alta e alguns hormônios que até facilitam essa resposta sexual”, pontua a especialista.
Só que o cenário oposto também é comum de aparecer em relatos para as obstetras. Elas lembram casos em que gestantes não se sentem confortáveis com o formato do corpo, quilos a mais e também cansaço por não conseguir dormir bem com o barrigão.
Regina*, de 37 anos, detalha que essa é a sua situação atual. “Nesse trimestre, eu estou devagar, quase parando. Sinto muitos desconfortos físicos: a vulva diferente, dores na virilha, nas costas, nos seios, nas nádegas. Dói tudo. Meu marido fala que nenhum chameguinho me anima”, brinca a advogada que atua na defesa de mulheres em situação de violência, em Santo André.
Enquanto que no primeiro e segundo trimestres, ela e o parceiro curtiram bastante sexualmente a alta da libido, neste momento, o ritmo desacelerou. A advogada conta que “não sente de vontade de nada” e está focada em fazer apenas o que é necessário, como trabalhar, comer bem e fazer exercícios físicos.
Portanto, ainda que algumas respostas a cada período sejam mais esperadas do que outras, vale lembrar a todo momento: cada gestação é singular. É importante que se mantenha um diálogo sincero com os médicos que a acompanham, para que eles possam sanar dúvidas sobre o assunto. Mas também converse com o seu parceiro sobre suas vontades – ou a falta delas – para que o conforto ocupe lugar sempre que a culpa tentar entrar.
*nome fictício, a entrevistada preferiu não ser identificada