Para reduzir mortalidade, estudo sugere que cesárea represente 19% dos partos de cada país
Levantamento feito com dados de 194 países demonstra que essa taxa é ideal para reduzir os índices de mortalidade infantil e materna.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que a taxa de cesárea de cada país fique entre 10 e 15% dos partos realizados. No entanto, pesquisas apontam que esse índice varia bastante – e nem sempre respeita a recomendação da entidade. O trabalho mais recente a investigar esse cenário – publicado no dia 1o de dezembro no respeitado periódico científico JAMA – foi conduzido por cientistas de vários centros americanos, como a Escola de Saúde Pública T.H. Chan da Universidade Harvard, a Universidade Stanford e o Brigham and Women’s Hospital. Os experts tinham como objetivo avaliar a relação entre os números de cesárea e a mortalidade de mães e recém-nascidos.
Para isso, eles coletaram dados das taxas de cesarianas feitas entre 2005 e 2012 nos 194 países que fazem parte da OMS. No entanto, os estudiosos concentraram sua análise apenas no ano de 2012. E os resultados apontaram que, nas nações em que o índice desse tipo de parto gira em torno de 19%, os números de mortalidade materna e neonatal são menores. “Isso sugere que, em termos de política, as referências para as taxas-limite de cesárea deveriam ser revistas e, talvez, pudessem ser até mais altas do que se pensava”, diz o líder do estudo, Alex Haynes, referindo-se às recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Essa conclusão não significa, contudo, que os números de cesárea deveriam chegar a níveis estratosféricos. Até porque, segundo o levantamento, índices mais altos do que 19% não resultam em menos mortes – ao contrário: sabe-se que o parto cirúrgico aumenta o risco de o bebê ter problemas respiratórios e de a mãe contrair infecções, por exemplo. Aliás, o Brasil foi apontado no estudo como o país campeão em cesarianas, com 55,6% dos nascimentos por aqui representados por essa cirurgia.
Em relação às nações com as menores taxas de cesárea, o destaque foi o Sudão do Sul, que tem apenas 0,6% dos partos realizados pela técnica. “Nossos achados mostram que há muitos países em que não há cesarianas suficientes, o que significa que o acesso a técnicas obstétricas seguras e de emergência é inadequado. E, inversamente, há muitos países em que as cesáreas estão sendo executadas de forma a extrapolar seus benefícios”, analisa Haynes.
“É importante ressaltar que nosso estudo não diz respeito a pacientes ou hospitais individuais”, avisa George Molina, um dos autores da pesquisa. “Ao invés disso, esse trabalho pode prover aos países e àqueles que criam políticas públicas uma orientação sobre a divisão de recursos e o estabelecimento de objetivos, caso eles estejam tentando melhorar seus sistemas de saúde”, explica o especialista.