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O que toda mãe precisa saber para a amamentação dar certo

Que o leite materno é o melhor alimento que você pode oferecer ao seu bebê não há dúvidas. Só que o sucesso do aleitamento às vezes depende de pequenos detalhes, como os cuidados com os seios, o tipo de sutiã e até a posição em que a criança mama.

Por Cristiane Ballerini
Atualizado em 20 jul 2017, 20h54 - Publicado em 26 abr 2015, 17h16

Amamentar já foi um ato instintivo e ninguém precisava “aprender” a dar o peito aos filhos. Mas as chupetas, mamadeiras e fórmulas infantis ganharam espaço e esse saber se perdeu. Hoje, a ciência prova o que as nossas tataravós apenas intuíam: o leite materno é, de longe, o melhor alimento nos primeiros anos de vida. Mais potente do que qualquer vacina, sozinho pode evitar 13% das mortes de crianças com menos de 5 anos por causas passíveis de prevenção. A conclusão é de um estudo recém-publicado na revista The Lancet, uma das mais conceituadas publicações no meio científico.

É que o leite humano é “vivo”. Ou seja, sua composição se modifica a cada mamada acompanhando as necessidades do bebê. Além de proteínas e vitaminas, possui anticorpos, que diminuem os riscos de infecções respiratórias, diarreias, alergias, otites e até previnem doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Também para a mãe, amamentar traz inúmeras vantagens. Você perde peso com mais facilidade e tem menos sangramento no pós-parto. Além disso, pesquisas em 30 países constataram que o risco de câncer de mama diminui 4,3% a cada 12 meses de amamentação.

Números da ciência postos de lado, o que leva muitas mulheres a amamentar e a continuar amamentando os seus filhos é o prazer da intimidade e o vínculo afetivo com a criança. É, sem dúvida, uma excelente maneira de começar uma relação tão importante e duradoura. Veja como fazer da amamentação um sucesso.

Preparo dos seios

Não é preciso preparar os seios para dar de mamar. Naturalmente, durante a gravidez, o corpo já se modifica para essa função. As mamas ficam maiores, as aréolas mais escuras e resistentes pela ação dos hormônios. Até algum tempo atrás, médicos e especialistas recomendavam às grávidas que esfregassem buchas ou toalhas nos mamilos para tornar a pele mais firme. Essa prática caiu em desuso. O fundamental mesmo é preparar a cabeça, predispondo-se a amamentar mesmo que surjam dificuldades.

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A primeira vez

O stress do parto mal passou e a mulher já se vê diante de um novo desafio: o que fazer? Tente relaxar para que os dutos do seio se dilatem e o leite encontre “caminho livre”. Escolher um hospital onde os bebês têm chance de mamar logo após o nascimento também faz diferença. Quando isso acontece, eles aprendem a pegar o peito mais rapidamente. É que, por volta de meia hora depois do parto, o recémnascido possui grande capacidade de sucção.

Nas primeiras mamadas, o que alimenta o bebê não é o leite, mas, sim, o colostro, um líquido amarelo com aspecto aguado. Ele é tão precioso que os médicos costumam chamá-lo de “primeira vacina”. Contém vários tipos de glóbulos brancos, para a defesa do organismo, e grande quantidade do anticorpo IgA, que, na corrente sanguínea da criança, forma uma espécie de blindagem contra microorganismos que invadem as mucosas. O resultado é a diminuição das gastrenterites e ataques por vírus.

Mamando ao nascer, o bebê já fica protegido e estimula a produção e a descida do leite. Após partos normais e cesarianas não marcadas, o leite costuma aparecer nas primeiras 24 horas. Já as mulheres que não passaram por trabalho de parto podem demorar até cinco dias para ter leite, comprometendo a amamentação. Por isso, se você está grávida e pretende dar de mamar, leve em conta esse aspecto antes de agendar uma cesárea.

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A melhor “pega”

O jeito como seu filho vai pegar o peito determina boa parte do sucesso da amamentação. Quando a “pega” do peito não é adequada, a criança pode receber pouco leite e ainda esticar demais a pele dos seios, provocando rachaduras, fissuras e até sangramentos. Para não transformar cada mamada em uma tortura, o melhor é colocar o bebê numa posição que favoreça a “pega”.

A clássica é o bebê totalmente voltado para a mãe, com a cabecinha na altura do mamilo, barriga com barriga. Ele deve abocanhar não apenas o bico mas também a aréola ou grande parte dela. Com o bico do peito, estimule o lábio inferior da criança, para que ela abaixe a língua e abra bem a boca. Em seguida, coloque o peito na boca do bebê. O certo é que ele fique com os lábios levemente voltados para fora e aconteça uma “vedação” entre o peito e a boquinha.

Para segurar a mama, não use os dedos em posição de tesoura, pois dificulta o contato da boca do bebê com a aréola. O melhor é apoiá-la, formando um grande C. O polegar deve ser colocado na parte superior e os outros quatro dedos na parte inferior, deixando a aréola livre. Ele mexe o queixo? Você pode ouvi-lo engolindo? Bons sinais.

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Agora, se o bebê aperta demais os lábios ou forma covinhas profundas no rosto a cada sucção, convém interromper e começar de novo. Ele pode não estar abocanhando o peito da maneira adequada. O mesmo vale para o caso de o seio parecer deformado ou esticado durante as mamadas.

Variando as posições

A maneira tradicional de segurar o bebê não é a única que favorece a amamentação. Para mulheres que passaram por cesárea, por exemplo, o mais adequado é escolher uma posição que não provoque tensão na região abdominal. Pode ser deitada ou semi-recostada na cama, com o bebê em uma posição mais vertical. O importante é ambos estarem confortáveis.

Antes que aconteça

Contra rachaduras e fissuras, passe o próprio leite no bico e na aréola após cada mamada e deixe os seios secarem livremente. O leite é bactericida, e sua gordura funciona como um hidratante natural. No banho, evite sabonetes nas mamas.

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  • A umidade deixa a pele mais frágil. Por isso, sutiãs e protetores devem estar sempre secos. Troque-os com frequência.
  • Nas primeiras duas ou três semanas após o parto, fuja de sutiãs com aberturas especiais para amamentar. Quando os seios enchem, a costura reforçada das aberturas pode pressionar os dutos mamários, fazendo o leite empedrar. Os modelos mais indicados são os de tecido macio, sem recortes, com bojos grandes, boa sustentação e alças largas.
  • Se as mamas estão pesadas demais e doloridas, pode ser que a criança não esteja dando conta da sua produção. Com o passar do tempo, haverá um ajuste natural entre vocês. Até lá, nunca ofereça o peito muito cheio ao bebê. Como é difícil pegar o bico, as tentativas poderão machucá-la. O melhor é tirar o excesso de leite.
  • Você pode tirar o leite com bombinhas (existem elétricas e manuais) ou com as próprias mãos, bem limpas. Veja com qual método você se adapta melhor. Com as mãos, comece massageando suavemente a região em torno da aréola para dissolver possíveis nódulos. Em seguida, coloque os dedos onde termina a aréola, envolvendo o peito cuidadosamente, e pressione até o leite sair, sem esticar a pele. Esvaziar os seios quando estão cheios demais também evita que o leite empedre.
  • No caso de excesso de leite, não faça compressas mornas ou quentes. O calor tende a aumentar ainda mais a produção. Busque alívio em compressas frias ou geladas. Uma boa opção é fazê-las com chá de camomila quase gelado.
  • Nunca puxe o peito para interromper a mamada. Coloque seu dedo mínimo entre o bico e a criança e, quando ela passar a sugar o dedo, retire o peito suavemente.
  • Ofereça os dois peitos ao bebê. Se ele ainda é pequeno, faça revezamento: comece a mamada pelo peito que não entrou em ação na mamada anterior. Assim, você evita que um deles fique cheio demais e empedre. É recomendável também que a criança esvazie o peito. O leite posterior (do final da mamada) traz maior índice de gordura e a sensação de saciedade. Assim, se o bebê mamar bem, não vai logo chorar de fome novamente.

Machucou. E agora?

O tratamento varia de acordo com a gravidade do caso. Há uma série de pomadas cicatrizantes para rachaduras e fissuras, mas alguns especialistas indicam apenas o uso do próprio leite, para lubrificar as aréolas, e a exposição dos seios ao ar livre. Pular uma ou duas mamadas também ajuda a pele a se recompor. Nesse caso, tire o leite com as mãos e dê ao bebê imediatamente em um copinho esterilizado. Usar bicos ou mamadeiras pode dificultar que ele pegue o peito depois. Passe longe de receitas caseiras, como casca de banana ou de mamão. Elas trazem bactérias que podem contaminar os dutos mamários e o leite.

Não vai faltar

Leite de mãe é sempre fresquinho. Boa parte dele, ao contrário do que se imagina, não fica “estocada” no peito. Ele é produzido na hora de cada mamada, de acordo com a fome do bebê. Um recém-nascido mama, em média, de oito a 12 vezes ao dia. Isso não quer dizer que o seu leite seja insuficiente ou fraco. Nem pense em complementar com chás, água, sucos ou papinhas. Até os 6 meses, a única coisa da qual seu bebê precisa – exceto em casos de indicação médica – é do seu leite.

Ele só quer brincar

Usar o peito como chupeta dá prazer aos bebês. O movimento de sugar é analgésico e acalma. Mas não vale deixá-lo “chupetando”, a ponto de machucá-la. Como ele não interrompe a sucção para engolir, a circulação na aréola pode ficar prejudicada e, se a brincadeira causa dor, é melhor interrompê- la para não comprometer as mamadas.

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Emergências

Se você está febril, as mamas apresentam nódulos doloridos e mamilos intumescidos, fique atenta. Pode se tratar de um problema chamado “ingurgitamento” e requer cuidados médicos, porque pode obstruir os dutos mamários, causar interrupção na produção de leite ou mesmo se transformar em mastite. Ainda mais grave, a mastite vem acompanhada de febre alta e mal-estar. Ela acontece quando o leite empedrado nos dutos entra em contato com as bactérias da saliva do bebê. Geralmente, o tratamento é feito com a retirada do excesso do leite e antibióticos.

Em paz para mamar

Procure amamentar em locais tranquilos. Gente demais, barulho e movimento podem agitar o bebê e você mesma. E está provado: mães nervosas, com a adrenalina em alta, tendem a ter a produção do leite inibida. Prefira roupas que não restrinjam os seus movimentos e deixe o bebê com os braços livres. Uma banqueta ou apoio para os pés pode ser útil. Se o papai estiver disponível, envolva-o na amamentação. Ele pode trazer um copo de água e fazer companhia. É um jeito de eliminar a sensação de inutilidade que ataca muitos homens nessa hora.

Comida de mãe

É comum que a fome e a sede aumentem após o parto. Os especialistas calculam que são necessárias 940 calorias para produzir 1 litro de leite. Como você acumulou alguns quilos na gravidez, não precisa exagerar no tamanho do prato. Convém apenas evitar dietas que promovam perda rápida de peso (mais de meio quilo por semana). Consuma uma boa variedade de pães, cereais, frutas, legumes, verduras e carnes e três ou mais porções de derivados de leite. Muita água e moderação no café e bebidas cafeinadas – como chá preto e refrigerantes à base de cola – completam os cuidados. Em geral, não há necessidade de eliminar alimentos específicos. Mas, se notar alguma reação gastrintestinal ou na pele da criança quando você come um determinado item, exclua esse alimento do cardápio e observe se o bebê fica bem. Depois de uma semana, volte a consumir o alimento suspeito e, caso seu filho reaja mal, risque-o da dieta.

Depoimentos

Sempre segui a linha natural. Amamentei o Luan e, quando engravidei pela segunda vez, para mim, era óbvio que eu amamentaria. Não existia outra opção. Logo após o nascimento do Gabriel, colocaram ele no peito e ele mamou. Mesmo assim, tive todos os problemas possíveis na amamentação. Eu não sabia nada sobre essa coisa da “pega” certa e os seios racharam. Apesar disso, continuei a amamentar. A dor era insuportável. Por minha conta, acabei recorrendo ao bico de silicone. Usei por um mês até os seios cicatrizarem. Como a produção era maior do que a fome do bebê, tive empedramento e a tal “febre do leite”. Eu fazia uma idéia romântica da amamentação, mas não tem nada de fofo. Pelo menos no começo… Meu marido era bastante a favor da amamentação e me apoiava. Mas, de vez em quando, passava pela minha cabeça:”Será que as coisas entre nós vão voltar a ser o que eram?” Dá uma certa insegurança. Acabei superando tudo isso e dar o peito ficou bom, gostoso. O Gabriel mamou até 1 ano e, apesar do sofrimento, eu faria tudo de novo. O que é esse pouco tempo na vida de uma mulher perto dos benefícios que o aleitamento traz para a mãe e para o filho?
Paloma Saboya, estilista, mãe de Luan e de Gabriel

Quando a enfermeira deixou os gêmeos no quarto, achei que eles iam logo pegar o peito e eu ia ser feliz para sempre. Não foi nada disso. Fiquei desesperada. Eles choravam muito, não conseguiam mamar direito e terminei com o peito machucado. A primeira semana em casa foi um horror. Com dois bebês sugando, passei a produzir bastante leite. No segundo dia, o leite empedrou, doía muito e, de madrugada, recorri a um banco de leite para tirar o excesso com bombinha. O peito chegou a ficar tão ferido que, cada vez que eles pegavam o bico, eu ia até a lua e voltava de tanta dor. A gente vê várias mulheres felizes amamentando e, nessas horas, pensa como é possível. É um aprendizado.Você tem que se dispor a resistir às dificuldades e buscar apoio. Com a ajuda do pediatra, eu praticamente me tornei uma especialista – sei tudo de amamentação. No caso de gêmeos, é preciso ter disposição extra: eles mamam de três em três horas e cada mamada dura uma hora e meia… É só fazer as contas. Quase não sobra tempo para mais nada. Mas vale a pena. Ter os meninos tão perto é delicioso.
Andrea Lobato, publicitária, mãe de Victor e João

Na gravidez, eu estava aprendendo tudo sobre amamentação. Queria mesmo dar o peito. Mas tive placenta prévia e o bebê acabou nascendo de oito meses. Então, foi para a incubadora e o hospital o alimentou na mamadeira por dois dias. Acho que isso pode ter prejudicado a amamentação. Quando chegamos em casa, passei tardes e tardes com ele pendurado no peito. Busquei ajuda e informações sobre as melhores posições para abocanhar, usei bico de silicone, fiz massagens para o leite descer melhor, tudo o que podia fazer. Não deu certo. Meu filho começou a ficar fraco, amarelado, e resolvi apelar para a mamadeira. Sei que o leite materno é importante, mas não vou estressar porque não foi possível amamentá- lo. Há tanta cobrança em torno disso que, para as visitas mais insistentes, chego a mentir e digo que amamento, sim. É verdade. Mesmo quando não estou em casa, faço questão de voltar perto das mamadas. Sou eu quem dá as mamadeiras e também é muito bom.
Luciana Ribeiro de Melo, comerciante, mãe de Leonardo.

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