Laqueadura: o que é, a recuperação e outras informações essenciais
O método contraceptivo definitivo gera muitas dúvidas: funciona mesmo? A cirurgia é complicada? Dá para reverter? Veja as respostas
A laqueadura é um método contraceptivo definitivo – na verdade, é uma esterilização. A partir do momento em que o procedimento é realizado, a mulher não pode mais engravidar. Para que isso aconteça, o médico corta as tubas uterinas ou trompas e “amarra” as extremidades. Desta forma, a passagem dos óvulos e dos espermatozoides fica bloqueada, impedindo a fecundação. De acordo com o cirurgião obstetra Renato Sá, da Maternidade Perinatal (RJ), é uma cirurgia, em geral, rápida e de baixo risco.
Ligadura ou laqueadura?
Tanto faz. “As pessoas tendem a falar: ‘Eu não liguei as trompas, fiz a laqueadura’. Ou o contrário. Muita gente acha que uma é reversível e outra não. Na verdade, ligadura e laqueadura são sinônimos. O procedimento é o mesmo”, explica o especialista.
Tipos de laqueadura
Apesar de o procedimento ser o mesmo, segundo Renato, é possível dividi-lo de acordo com o momento em que é feito: logo após o parto normal, logo após a cesárea ou em outros momentos, não precedidos de partos ou abortos.
Antes do novo projeto de lei que altera a legislação sobre a ligadura tubária, sancionado em setembro do ano passado e que entrou em vigor em março, não era permitido fazer o procedimento pós-parto ou pós-cesárea. Agora, a mulher pode solicitar a realização, desde que com 60 dias de antecedência do parto.
– Laqueadura após a cesárea
“Após a cesariana, as trompas estão acessíveis, então, o médico faz a ligadura direto”, explica Renato. A mulher já está anestesiada e, de acordo com o obstetra, isso acrescenta cerca de 5 minutos de duração à cirurgia por trompa, ou até menos. O período pós-operatório é o mesmo da cesárea. “A laqueadura não influencia em nada”, afirma.
– Laqueadura após o parto normal
A laqueadura após o parto normal é feita por uma pequena incisão na região periumbilical (próximo ao umbigo). “Na maioria das vezes, aplica-se a anestesia raquidiana, na coluna, de curta duração”, diz o cirurgião. “A influência na recuperação também é muito pequena. A mulher tem mais os sintomas do pós-parto do que sintomas relativos à ligadura”, completa.
– Laqueadura por videolaparoscopia
Quando a laqueadura não é feita imediatamente após partos ou abortos, em geral opta-se pela videolaparoscopia, um tipo de cirurgia minimamente invasiva, realizada com câmeras, com pequenas incisões. “Habitualmente, é feita com sedação. É rápida e leva cerca de 20 minutos ou menos. Na maioria das vezes, a mulher entra no hospital de manhã e, no final do dia, recebe alta”, diz o especialista.
Gravidez após a laqueadura
O procedimento de ligadura tubária é um dos métodos contraceptivos mais eficazes, com taxa de falha de apenas 0,5%. Renato explica que, entretanto, o organismo tem uma tendência de restabelecer a forma como funcionava antes da “lesão”, que é como “ele entende” o bloqueio das tubas. “Embora se tenha retirado um pedacinho e amarrado, ainda assim, [em casos raríssimos], ele consegue fazer um buraquinho e permitir que o óvulo passe”, conta. Mas, vale reforçar: a chance de isso acontecer é mínima.
Quem pode fazer laqueadura?
A laqueadura pode ser feita por mulheres que não querem mais ter filhos e que preferem optar por um método definitivo e não pelas opções de curto prazo – preservativos e pílulas anticoncepcionais, por exemplo – ou de médio prazo, como implantes hormonais e dispositivos intrauterinos (DIU).
Pela nova lei, qualquer mulher a partir de 21 anos pode fazer a ligadura tubária, tendo ou não filhos. Se tiver dois filhos ou mais, pode optar pela esterilização já a partir dos 18. Em qualquer um dos casos, entre a manifestação do desejo de passar pelo procedimento e a realização dele é necessário um intervalo mínimo de 60 dias. “Durante esse período, a mulher deve passar por um aconselhamento multidisciplinar, que inclui discussões com vários agentes de saúde, psicólogos, agentes sociais e médicos. Essa equipe deve informá-la sobre os prós e contras de cada método contraceptivo, para que ela possa fazer uma escolha segura”, aponta Renato.
Antes da mudança na legislação, também era necessária a concordância do cônjuge para a realização da ligadura, porque se entendia que a decisão sobre a fertilidade deveria ser conjunta, do casal. Agora, tanto para a laqueadura quanto para a vasectomia, não é mais necessária a aprovação prévia do marido ou da esposa.
Dor, sexo e menstruação depois da laqueadura
Segundo o médico, os três grandes mitos relacionados à laqueadura são a dor, o aumento do sangramento e a diminuição da libido. “Nenhum dos três é cientificamente comprovado”, afirma.
Ele explica que qualquer cicatriz, como a de um corte no dedo, vai deixar a região mais sensível por um período. No entanto, o procedimento é tão pequeno que há poucas chances de que a pessoa sinta dores em função da cirurgia em si. “A expectativa é de que a mulher não tenha nenhum sintoma”, acrescenta.
Também não existe relação com a menstruação. “A trompa é um tubo, sem nenhuma função hormonal. O que se faz é colocar uma barreira nesse tubo”, diz Renato. Nos casos em que a ligadura tubária é feita no parto ou na cesárea, a menstruação volta após o espaçamento normal que ocorre depois de uma gravidez. Quando o procedimento é realizado em intervalos afastados de gestações, não interfere no ciclo menstrual.
Para retomar a vida sexual, quando há parto, o ideal é que a mulher aguarde os 45 dias recomendados durante o puerpério. “Nos outros casos, tão logo ela se sinta melhor depois do processo pós-operatório, a atividade sexual está liberada”, orienta.
Como saber se a laqueadura deu certo?
A chance de haver alguma falha na laqueadura é muito pequena. De acordo com o especialista, existe um exame que mostra se a passagem pela tuba está obstruída ou não – mas, por conta dos riscos e da complexidade, não é recomendado que se faça. “A histerossalpingografia é um exame com contraste de iodo, mas o processo é doloroso e tem risco de reação anafilática, por causa do iodo. Como a laqueadura é feita com uma visão direta da trompa, não há necessidade de dupla checagem”, diz.
A laqueadura é reversível?
Sim, embora seja um método contraceptivo definitivo. “No entanto, não é tão acessível, porque depende de uma tecnologia específica para fazer a recanalização da trompa. Além disso, a eficácia da recanalização tubária não é muito alta”, comenta Renato, complementando que a taxa de sucesso da reversão costuma ser de 15 a 20%.
A partir do exame da histerossalpingografia, citado anteriormente, é possível saber se a tuba está permeável. Porém, ainda que esteja, isso não indica necessariamente que está funcional e que possa haver uma gravidez após a laqueadura.
Dá para fazer laqueadura pelo SUS ou pelo convênio?
A laqueadura pode ser feita pela rede pública. Para isso, a mulher deve procurar a Unidade Básica de Saúde mais perto de sua casa e manifestar o desejo de ligar as trompas. A partir daí, ela deverá ser encaminhada para as consultas com a equipe multidisciplinar enquanto aguarda o chamado “tempo de reflexão” de 60 dias. Com o aval em mãos, é encaminhada para o agendamento. Por determinação da Agência Nacional de Saúde (ANS), os convênios também cobrem procedimentos contraceptivos e de planejamento familiar, incluindo a laqueadura.
Continue atenta!
Um lembrete importante: a partir do momento em que você passa por uma laqueadura fica quase totalmente protegida de uma gestação indesejada. Mas é importante ter em mente que ainda é preciso se proteger – com preservativos, por exemplo – de infecções sexualmente transmissíveis.