Gravidez de alto risco: quando a gestação é classificada dessa forma

Especialistas explicam a classificação e o que é possível fazer durante os nove meses para minimizar o perigo de complicações para mãe e bebê.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 26 out 2023, 09h23 - Publicado em 18 Maio 2018, 17h25
 (kieferpix/Thinkstock/Getty Images)
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Primeiro, saiba que toda gravidez tem riscos. Explicamos: nos casos em que mãe e filho não apresentam nenhum problema, ela é classificada como de risco habitual. Mas, se há um sinal de que algo está errado, por menor que seja, a gestação já recebe o rótulo de alto risco. Parece assustador, mas, na prática, o significado desse termo e seu impacto real no curso da gestação variam.

“Trata-se de um termo muito amplo, que engloba qualquer aspecto que saia do curso de uma gravidez típica, em uma mulher que não apresente nenhum problema prévio de saúde”, aponta Wagner Hernandez, ginecologista mestre em obstetrícia pela Universidade de São Paulo (USP).

E o que quer dizer ser de “alto risco”? Depende do quadro, mas geralmente ele indica a possibilidade de que o parto seja prematuro, a gestação interrompida ou ocorram complicações para mãe e bebê. Entenda a seguir um pouco mais sobre as condições que levam à classificação.

O histórico da mãe

A saúde e o histórico da mulher são fatores que frequentemente elevam o risco da gestação. O mais básico deles é a idade. “Antes dos 18 e depois dos 35, a gravidez já é considerada de alto risco”, comenta Hernandez. No primeiro caso, o problema é a maturidade do corpo, que pode não ter se desenvolvido totalmente.

No segundo, o problema não é tanto a idade em si, mas as doenças crônicas como diabetes e hipertensão, que são mais incidentes nesta faixa etária e elevam as chances de complicações e de partos prematuros. “Mas, mesmo que a mulher não tenha nada disso, temos que considerar que os óvulos dela são mais velhos, o que aumenta o risco do bebê ter uma alteração em seus cromossomos, sendo a mais frequente a síndrome de Down”, contrapõe Marcos Wengrover Rosa, chefe do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre/RS.

Outras condições de saúde, como obesidade, distúrbios metabólicos, da tireoide e que afetem o funcionamento de outros órgãos podem elevar o perigo. Mas vale destacar que o estilo de vida também importa muito aqui. “Uma mulher com menos de 35 anos que seja sedentária, fumante e beba muito terá mais risco que uma de mais de 35 que esteja saudável”, aponta Wengrover, que ressalta ainda que até um quarto das gestações de alto risco pode exigir internação em UTI neonatal, número que não é exato.

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Problemas anatômicos da mulher que possam dificultar o parto ou a sustentação do útero e histórico anterior de abortos espontâneos entram no rol de fatores relacionados à mãe, assim como, por último, a genética. “Se a mãe teve diabetes gestacional, há mais risco da mulher desenvolver o mesmo quadro”, comenta Hernandez. “Mas outras condições, como parto prematuro e pouca dilatação na hora do parto não passam para outra geração, isso é mito”, esclarece o ginecologista.

Doenças gestacionais

Algumas doenças se desenvolvem durante a gravidez e podem comprometer seu curso se não controladas, caso do diabetes gestacional e da doença hipertensiva específica da gestação (DHEG), caracterizada pelo aumento súbito da pressão arterial. Estas costumam aparecer especialmente na segunda metade da gravidez, o que pode fazer com que uma gestação que comece de risco habitual seja “promovida” ao alto risco.

sangramentos e outros problemas que ocorrem no início da gravidez, como o descolamento ovular que Sabrina Sato enfrentou, não fazem com que o resto dos meses seja considerado de alto risco. “Sanada a questão, a gravidez volta a ser de risco habitual”, aponta Hernandez.

Condições do bebê

Se ele foi gerado via reprodução assistida, sua gravidez entra na lista. “Na fertilização in vitro, por exemplo, não há o corpo lúteo, que é a estrutura do ovário que produz progesterona e estrogênio para sustentar a gestação”, explica Renata de Camargo Menezes, ginecologista especialista em medicina reprodutiva e diretora da Clínica Engravide, em São Paulo.

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Gestações múltiplas também devem ser acompanhada de perto. “O útero foi concebido para aguentar uma gestação por vez, então há uma sobrecarga que pode prejudicar os bebês”, conta a médica. Por último, e mais raro, há ainda um perigo relacionado ao próprio bebê. São as malformações congênitas, síndromes genéticas e outras condições que podem antecipar o parto ou exigir cirurgias intrauterinas.

Essa quantidade de problemas pode assustar, mas com um pré-natal adequado, todos podem ser identificados e acompanhados precocemente. O que nos leva ao próximo ponto.

Dá para minimizar o risco?

Sim! A primeira estratégia é fazer o pré-natal caprichado. “Varia, mas no geral a mulher comparece mais ao médico, faz mais exames e precisa de cuidados especiais”, destaca Wengrover. Essa frequência no consultório é importante especialmente na primeira metade da gestação, para quantificar melhor esse risco e a partir daí traçar planos para reduzi-lo.

Algumas situações exigem ainda repouso total, como as doenças gestacionais ou prévias não controladas e a própria gestação de gêmeos – mas tudo deve ser avaliado caso a caso. “No geral, a grávida de alto risco não precisa se afastar das suas atividades até que haja recomendação médica para isso”, ensina Wengrover.

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E o parto? Tem que ser cesárea?

Pelo contrário, os especialistas são unânimes em dizer que não. “Na verdade todo o pré-natal é feito justamente para controlar os fatores de risco e garantir que a mulher tenha o parto normal se assim desejar”, diz Hernandez. Isso por vários motivos.

Primeiro, porque levar a gestação ao seu encerramento natural, dentro do tempo adequado ente 37 a 40 semanas, significa que o bebê está pronto para viver com saúde aqui fora. Depois, porque uma cesárea, por se tratar de um procedimento cirúrgico, pode ser agressiva demais para mulheres que têm doenças prévias, exceto casos muito específicos.

“Existem indicações precisas para a cesárea quando é alto risco, como insuficiência esofágica ou cardíaca descompensadas e outras doenças cardiovasculares, mas mesmo isso deve ser avaliado”, orienta Wengrover. Já malformações ou problemas ortopédicos na região da bacia, assim como a posição do bebê e outros quadros impedem o nascimento natural.

“Há uma epidemia de cesáreas, que leva muitas vezes a mulher com um fator agravante a fazer um procedimento desnecessário”, opina Wengrover. Mesmo se ela optar pela cesariana – o que é um direito, vale ressaltar – o ideal é esperar o trabalho de parto quando possível. O bebê e a recuperação no pós-parto agradecem!

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