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Estudo mostra como depressão na gravidez impacta o comportamento do bebê

O trabalho investiga os mecanismos por trás da relação já conhecida entre a saúde mental da mãe e a sensibilidade do filho a eventos estressantes.

Por Chloé Pinheiro
24 jul 2018, 19h10
Estudo mostra como depressão na gravidez impacta o comportamento do bebê
 (emituu/Thinkstock/Getty Images)
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A inflamação promovida pela depressão durante a gestação pode fazer que o filho sofra mais com o estresse no início da vida e, provavelmente, nos anos futuros. A descoberta foi feita por pesquisadores do King’s College London, na Inglaterra, e publicada recentemente no periódico Psychoneuroendocrinology.

O estudo contou com 106 grávidas de 25 semanas, sendo que 49 delas tinham depressão, pouco menos do que a metade. As voluntárias e seus filhos foram acompanhados pelo restante da gestação e por um ano depois do parto. Os resultados mostraram alterações comportamentais e biológicas nos pequenos que parecem ligadas à doença psiquiátrica.

Primeiro, os cientistas dosaram – via exame de sangue na 27ª semana – o nível de substâncias inflamatórias em circulação. Depois disso, na 32ª, eles calcularam a quantidade de cortisol, o hormônio liberado em situações de estresse, na saliva das futuras mães. Essas duas medidas indicam o impacto físico da depressão, e as coletas apontaram níveis elevados em circulação de ambas no grupo das mulheres com o quadro.

Impactos na saúde do filho

Primeiro, a gestação das participantes com depressão foi em média 8 dias mais curta do que a das que não tinham a doença. Fora isso, no 6º dia de vida, os recém-nascidos das mulheres do primeiro grupo eram mais hiperativos e chorosos, e tinham maior sensibilidade a estímulos como barulho e luz.

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Conforme os pequenos cresceram, os médicos passaram a medir o nível de cortisol produzido por eles a cada imunização, uma ocasião tensa pela qual passam todos os bebês. Com um ano de idade, os filhos de mães acometidas pela depressão tinham mais cortisol na saliva. Isso significa, nos dois cenários, que eles respondiam de maneira mais intensa aos eventos estressantes.

Risco pode se estender para a vida

Os cientistas descobriram que essas mudanças na resposta aos estímulos estavam ligadas à inflamação provocada pela depressão nas mães. E sugerem ainda que elas possam ajudar a explicar porque filhos de mães com a doença têm um risco maior de sofrerem com a mesma enfermidade quando adultos.

“Essas alterações não estavam relacionadas à depressão pós-parto, mas unicamente à depressão durante a gestação, o que destaca a importância do ambiente uterino neste contexto”, apontou Carmine Pariante, psiquiatra do King’s College e autor principal do estudo, em comunicado à imprensa.

Mas é necessário fazer algumas ponderações antes de bater o martelo sobre o tema. Primeiro, o estudo é pequeno, e precisaria ser replicado em mais mulheres antes do efeito ser realmente confirmado. Depois, as voluntárias avaliadas não tomaram medicamentos para controlar a depressão, o que torna difícil de dizer se o impacto seria semelhante em gestantes que fazem tratamento para doença.

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A cara da depressão durante a gravidez

Apesar da depressão pós-parto ser mais famosa, a ocorrência durante a gravidez também é comum. Uma revisão sobre o assunto, feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, estimou que até 20% das futuras mães brasileiras podem apresentar sintomas da doença durante a gestação.

Entre os fatores de risco, estão a história anterior de depressão, dificuldades financeiras, exposição constante ao estresse, baixa escolaridade, desemprego, ausência de suporte social, dependência de substâncias e ser vítima de violência doméstica física ou psicológica.

“A depressão pré-natal é facilmente diagnosticada e tratada, e o estudo destaca a importância das mães procurarem tratamento para o problema, pois isso pode trazer benefícios a longo prazo para a criança”, comentou à imprensa Sarah Osborne, psicóloga e pesquisadora do King’s College que também assina o estudo.

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