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“Descobri o câncer de mama durante a gravidez do meu quinto filho”

Em relato inspirador, mãe revela como enfrentou a doença em um momento tão especial da sua vida: a gestação da filha Mariana.

Por Nathália Florencio
Atualizado em 26 out 2016, 20h54 - Publicado em 30 out 2015, 15h00
Arquivo Pessoal
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Fernanda Defourny, 34 anos, recebeu o diagnóstico de um tumor maligno no quinto mês de gestação. Criadora da página no Facebook Eu, a gravidez e o câncer de mama, aqui ela conta, com coragem e bom humor, como a descoberta da doença trouxe aprendizados e transformou a forma como encara a vida:

“Já era mãe do Vinícius, de 17 anos, da Beatriz, 14, da Gabriela, 12, e da Danielle, de 8 aninhos. Certo dia, depois de tirar o sutiã, senti uma dor no seio esquerdo e notei um caroço. A princípio, achei que fosse um nódulo de gordura. De qualquer forma, fui ao pronto atendimento da maternidade e lá a médica de plantão me solicitou um ultrassom e pediu para que eu agendasse uma consulta com um mastologista.

Quando começou o exame, o médico achou um cisto e eu fiquei mais tranquila. Mas logo depois ele achou um nódulo atrás desse cisto. Então, ele me disse que eu não poderia faltar de jeito nenhum à próxima consulta e que ele liberaria o laudo do exame no mesmo dia. Naquele momento, me bateu o pânico e a vontade de chorar foi muito grande. Tive certeza de que era alguma coisa ruim e fiquei mal por uns três dias.

Quando chegou o dia da consulta com a primeira obstetra que marquei, ela falou que nada poderia fazer e que eu deveria procurar um mastologista. E assim eu fiz! Mal fui examinada e o médico pediu uma punção – que aliviou a dor que eu estava sentindo, porque retirou o líquido do cisto. Mas, depois de um tempo, eu continuei sentindo uma queimação e achei que estava entrando em processo infeccioso.

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Também agendei com outra médica, a Dra. Alessandra Ventura, que foi um anjo que entrou na minha vida e me seguiu até o fim de gestação. Levei o resultado para ela e, após uma longa entrevista, por tudo que eu havia relatado, ela acreditava que seria algo relacionado à gestação – até começar o exame clínico! Percebi que o semblante dela foi mudando conforme apalpava meu seio e minha axila. Depois disso, ela se sentou para passar tudo o que havia examinado para o computador. Daí, ela se levantou e tocou novamente minha axila esquerda, dizendo que havia gânglios ali. Quando eu perguntei o que isso significava e que ela me explicou que era defesa do organismo, outra luz de alerta se acendeu.

Nessa consulta, ela confirmou que realmente o nódulo estava crescendo demais, que tinham subestimado o que viram no ultrassom e que eu precisaria fazer uma biópsia e uma mamografia urgentemente. E eu questionei: ‘É câncer?’. Ela tentou me acalmar, não queria que eu ficasse preocupada ou nervosa, pois eu estava com 5 meses de gestação naquela época. Mas eu respondi que preferia me preparar para o pior e, se não fosse câncer, eu daria uma festa! Então ela contou que o que havia sentido a deixou muito preocupada e que os exames confirmariam a suspeita da doença. Com isso, já deixei minha família e os meus amigos mais próximos avisados dessa possibilidade.

Fiz a biópsia e a mamografia no dia 13 de abril deste ano e as dores que eu sentia pioraram 200% por causa da manipulação, principalmente pela mamografia. Quinze dias depois sairiam os resultados. Mas dia 29 de abril era o aniversário do meu filho mais velho e eu não queria vincular essa data ao diagnóstico. Então, dois dias antes, eu fui ao laboratório e o laudo já estava pronto. Não vou negar que por mais que eu estivesse me preparando para o pior, peguei o laudo trêmula e com muito enjoo – e não era da gestação. Assim, no dia 27 foi confirmado que o nódulo se tratava de um Carcinoma Ductal Invasor do tipo Triplo Negativo, grau III. Naquele dia, chorei por cinco minutos no chuveiro e decidi que a partir dali encararia a doença com muito bom humor, coragem e fé – mesmo após saber que o tipo do tumor era muito agressivo, com alto índice de proliferação e em estágio avançado. Antigamente, quando as pessoas recebiam o diagnóstico de câncer era como uma sentença de morte. Mas eu não queria encarar dessa forma e fiz piada desde que soube da doença. Apelidei o meu tumor de “Fiduma”. Esse Fiduma… Mãe não iria me tirar do eixo, eu tinha algo muito, mas muito mais importante para pensar e me preocupar: minha Mariana.

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Sobre o tratamento, foi decidido que o melhor no meu caso seria começar pela mastectomia radical, não só pela agressividade do tumor, mas também porque eu estava sentindo muita dor e não aguentaria tudo até o fim da gestação. Então, fiz a cirurgia no dia 18 de maio, grávida de sete meses. Um dia antes, minha cunhada e algumas amigas me fizeram um chá de bebê surpresa. E foi a melhor coisa que me aconteceu, porque eu fui para o hospital no dia seguinte muito feliz, amada e confiante. Durante o procedimento, também foi necessário fazer o esvaziamento axilar. Foram retirados 54 linfonodos e 28 deles estavam comprometidos pela doença. No pós-operatório, muitos me diziam que seria um baque quando eu me olhasse no espelho. Mas a minha reação foi fazer piada mais uma vez.

Sim, fiz isso porque o câncer se alimente de tristeza, de mágoas e eu sempre quis ser o mais feliz possível. Então, disse que eu iria parecer um carro desalinhado, andando pendendo para direita, e até as enfermeiras riram.

No dia 15 de junho fiz minha primeira sessão de quimioterapia. Naquele momento, estava grávida de 8 meses. A Mariana passou pela mastectomia e pela quimio na minha barriga e nasceu linda, perfeita e supersaudável no dia 7 de julho, pesando 2,760 Kg. Meus outros quatro partos foram normais e eu queria muito que fosse assim de novo, mas mesmo tentando a indução, ela não desceu e eu não tive dilatação suficiente. Então, precisei passar por uma cesárea, até porque eu não poderia esperar mais, pois já tinha a próxima quimioterapia marcada para semana seguinte ao parto. O meu medo de fazer a cesariana era ter infecção – o risco era alto no meu caso, porque a quimio derruba a imunidade. E eu tive! Graças a Deus após um mês de tratamento com antibióticos ela foi embora e a preocupação em ter que passar por nova cirurgia para limpeza também.

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Nascimento da filha de Fernanda Defourny
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A pior parte, na verdade, foram os primeiros 15 dias depois no nascimento da minha bebê. A mudança hormonal me fez entrar em um estado de depressão, ou melhor, foi um período de melancolia pós-parto. Eu tive medo de morrer, entrei em desespero e dizia para o meu marido que ele não daria conta de cuidar das nossas filhas – ele é pai das duas mais novas. Mas ele me apoiou muito e acabou assumindo o papel de mãe nessa fase, dava a mamadeira, passava a noite com a Mariana para eu poder descansar e dormir um pouco… Ah, eu tive muito leite, mas não pude amamentar por causa da quimioterapia muito forte – os médicos indicaram seis sessões, com medicamentos combinados. Então, precisei tomar dois comprimidos para secar o leite e isso acho que foi mais difícil do que receber o diagnóstico do câncer. Hoje sei que foi o melhor, inclusive para que meu marido cuidasse da minha pequena enquanto eu passava pelo tratamento.

Nunca encarei a quimioterapia como algo que fosse me fazer mal, que fosse me deixar mais doente. Toda vez que eu ia para as sessões, ia dirigindo com o som do carro no último volume e sempre animada dizendo que eu iria tomar meu “sorinho” de cura. Voltava do mesmo jeito! Tive reações, sim, mas perto do que muitas pessoas relatam, fui afortunada nessa parte. Muito cansaço, enjoo, náusea, dor de cabeça e dor no corpo. Mas tudo suportável, pois sabia que passaria e que não seria eterno. É importante não deixar o câncer te dominar e não viver o câncer – eu nunca vivi o câncer! Mau humor não vai resolver nada. Pessimismo também – muito pelo contrário!

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Neste último dia 8 terminei as sessões de quimio. É meu primeiro Outubro Rosa. Uma data simbólica que comemorarei para sempre. Ainda mais depois de pegar o laudo do exame com resultado “marcador tumoral normal”. Foi uma felicidade imensa! Ainda tenho que passar pela radioterapia a partir do próximo mês, mas se Deus quiser ainda vou poder dizer que eu venci! Venci com muito orgulho, coragem e muita fé.

Eu acredito que tudo nessa vida tem um porquê. E creio que a Mariana veio para me salvar. Se não fosse a gestação dela eu não teria sentido o nódulo – que já estava ali.

Mesmo apalpando o meu seio, eu nunca tinha sentido anteriormente. Tenho certeza de que me curei no dia em que fiz a mastectomia. A cura está muito mais na cabeça e em como você encara a doença do que no medicamento. É cansativo? Sim! Ainda mais com uma recém-nascida em casa! Após meu marido voltar a trabalhar, fiz tudo praticamente sozinha. Meus filhos mais velhos não moram comigo, só a Dani e a bebê, infelizmente. Então eu tinha que me virar! Em duas aplicações da quimioterapia, eu fiquei sozinha nos dias seguintes, quando as reações chegam. Mas a Mariana precisava de mim e mesmo enjoada, fraca e com dores eu precisava cuidar dela! Descobri que sou mais forte do que eu imaginava!

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Com tudo isso, ainda posso dizer que 2015 está longe de ser o pior ano da minha vida. O pior mesmo foi em 1991, quando em um intervalo de três meses perdi meus pais.

Eu ganhei muito mais com o câncer do que perdi. Agradeço todas as novas amizades, descobertas, oportunidades e alegrias que ele me trouxe! Sim, é totalmente possível ser feliz durante o tratamento. Cuidem-se! Façam o autoexame e a mamografia regularmente. Eu não fazia parte do grupo de risco, não tinha histórico de câncer de mama na família. E acreditem! Tudo passa!” 

 

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