Bebês com DNA de “três pais” já nasceram no Reino Unido
Uma técnica de Fertilização In Vitro vem concebendo crianças com material genético de mais de duas pessoas
Um procedimento inovador de Fertilização in Vitro (FIV) vem chamando a atenção. Conhecido como Tratamento de Doação Mitocondrial (MDT, na sigla em inglês), a técnica já deu origem a “bebês com três pais” no Reino Unido, ou seja, concebidos com DNA de três pessoas.
Os primeiros 30 casos foram aprovados em 2018 pela Human Fertilization and Embryology Authority (HFEA) no centro médico Newcastle Fertility Centre. No entanto, o número de nascimentos foi “inferior a cinco” até o final de abril de 2023, segundo os especialistas da clínica para o The Guardian. Os detalhes estão mantidos em sigilo para proteger a identidade dos pacientes.
A técnica foi desenvolvida para impedir que crianças herdem doenças incuráveis. Ela utiliza o tecido de um óvulo doado para criar embriões livres de mutações nocivas que as mães biológicas carregam, e provavelmente passariam para os filhos. Esses embriões combinam o espermatozoide e o óvulo dos genitores com minúsculas estruturas, chamadas mitocôndrias, do óvulo saudável. Assim, a criança tem o DNA da mãe e do pai (99,8%) e uma pequena quantidade de material genético da doadora (37 genes).
O processo tem várias etapas. Primeiro, os óvulos da mãe biológica e os da doadora saudável são fertilizados. Então, o material genético do embrião da doadora é removido e substituído pelo do casal. O resultado: um conjunto completo de cromossomos de ambos os pais, mas com as mitocôndrias da terceira pessoa, para ser implantado no útero.
O objetivo da pesquisa era justamente ajudar mulheres que correm o risco de transmitir doenças genéticas em função de alguma condição nas mitocôndrias – já que todo o DNA mitocondrial de uma pessoa vem da mãe. Assim, mutações poderiam prejudicar todos os filhos de uma família.
Nesses casos, vale lembrar que é possível que alguns bebês sejam saudáveis, por recebem uma pequena proporção das mitocôndrias afetadas, mas outros podem herdar uma maior quantidade e desenvolver doenças graves, que tendem a afetar o cérebro, o coração, os músculos e o fígado à medida que a criança cresce.
“Até agora, a experiência clínica com MDT tem sido encorajadora, mas o número de casos relatados é muito pequeno para tirar conclusões definitivas sobre sua segurança ou eficácia”, disse Dagan Wells, professor da Universidade de Oxford que participou da pesquisa, para o The Guardian. “O acompanhamento a longo prazo das crianças nascidas é essencial”, completou.