Pesquisadores do Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda, fizeram uma descoberta curiosa sobre a formação das características do rosto de um bebê. O estudo – publicado no início deste mês na Human Reproduction, principal revista científica de medicina reprodutiva do mundo – deduz que a quantidade de álcool que a mãe consome antes de engravidar e durante a gestação é capaz de alterar o formato do nariz, do queixo e das pálpebras do filho.
“Os resultados são importantes porque o formato do rosto das crianças pode ser uma indicação de problemas de saúde e desenvolvimento”, conclui a publicação. Além disso, essa foi a primeira pesquisa a identificar uma associação entre o desenvolvimento do feto e o consumo de álcool até três meses antes da gravidez, com a participação de crianças de várias origens étnicas.
Os cientistas dividiram as famílias em três grupos: mães que não bebiam, mulheres que beberam durante os três meses antes de engravidar (mas pararam durante a gestação), e grávidas que consumiram álcool no primeiro trimestre de gravidez e continuaram nos demais. Com ajuda da IA (Inteligência Artificial), foram analisadas imagens tridimensionais de 5 mil crianças com 9 e 13 anos, nascidas entre abril de 2009 e janeiro de 2006.
As alterações no formato do rosto existiam mesmo com a ingestão de menos de 12g de álcool por semana (175ml de vinho ou 330ml de cerveja). “Quanto mais álcool as mães bebiam, mais mudanças estatisticamente significativas haviam nas crianças de 9 anos”, contou o primeiro autor do estudo, Xianjing Liu, para a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). As características mais comuns eram o nariz encurtado, a ponta do nariz e o queixo arrebitados, e a pálpebra inferior voltada para fora.
Os cientistas consideraram a face um “espelho de saúde”. “Ela reflete o bem-estar geral de uma criança”, disse Gennady Roshchupkin, professor assistente no Centro Médico da Universidade Erasmus. “A exposição ao álcool antes do nascimento pode ter efeitos adversos no desenvolvimento e resultar em transtornos, que se refletem nos traços do rosto”, completou.
Apesar disso, a ligação entre o consumo de álcool e a feição dos pequenos enfraqueceu nas crianças com 13 anos de idade. “Isso indica que, à medida que o bebê envelhece e experimenta outros fatores ambientais, as mudanças diminuem e são ofuscadas pelos padrões normais de crescimento”, conta Gennady. Ou seja, mais investigações são necessárias para entender como a questão se desenvolve com a idade.