Muitas gestantes precisam percorrer distâncias longas ao trabalho, uma realidade no Brasil e no mundo. E isso pode impacto negativo da para a saúde da mãe e do bebê, como aponta um novo estudo, o primeiro a investigar o tema.
O trabalho foi feito no Estados Unidos, com os dados dos nascimentos ocorridos entre 2014 e 2015 em Nova Jersey, um estado vizinho de Nova York que tem um tempo de deslocamento ao trabalho superior à média nacional. Gestantes que moravam a uma distância de 80 a 160km do emprego foram o foco do estudo. O tempo de viagem do grupo era de 1h18 de carro, em média. Para se ter ideia, em São Paulo, a média é de 2h43 em trânsito ao dia, de acordo com levantamento feito em 2018 pelo Ibope e a Rede Nossa São Paulo.
Os pesquisadores norte-americanos descobriram que, quanto mais longa a jornada, maior a probabilidade de que o bebê nascesse com menos de 2,5 quilos, condição que pode trazer complicações à saúde, geralmente associada ao parto prematuro. Outro risco mais frequente foi o de restrição de crescimento intrauterino, quando o bebê não se desenvolve na velocidade em que deveria na barriga.
Problema é o estresse
Para os autores, a principal hipótese que justifica esse impacto negativo é o estresse materno crônico, provocado pelo tempo em deslocamento. Pesquisas anteriores já haviam apontado a influência duradoura do estresse da gestante no desenvolvimento dos filhos, incluindo impactos na cognição, saúde e desempenho escolar.
Outro achado da pesquisa é que mulheres que precisam viajar por mais tempo faziam menos pré-natal, possivelmente por ter menos tempo disponível para as consultas e exames. Cerca de 15% não havia feito a primeira consulta no primeiro trimestre, período fundamental para detectar cedo possíveis alterações no bebê e na saúde que precisem de tratamento.
“É um ciclo, pois aquelas mães que mais precisam de cuidado pré-natal por conta dos efeitos adversos do estresse não recebem a assistência que deveriam, o que por sua vez leva a mais complicações ainda”, comentou à imprensa Yan Wang, economista e professora da Universidade de Wisconsin-Madison, co-autora do trabalho.
Uma das saídas sugeridas pelos autores para melhorar o acesso da mulher ao pré-natal de qualidade seria facilitar o agendamento de consultas no serviço público de saúde, além de expandir benefícios como a licença maternidade para o período, com folgas ao menos em dias de consultas e exames.