“Por que não devemos concordar com a ideia de ‘Paizão’”

Confira a reflexão de Thiago Queiroz sobre o papel do pai nos dias de hoje.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 10 mar 2017, 13h06 - Publicado em 6 mar 2017, 17h22
 (Mari Hart/Thiago Queiroz)
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Pai de dois meninos, Dante e Gael, o engenheiro Thiago Queiroz resolveu falar sobre paternidade na internet. Em seu blog, o Paizinho, Vírgula, no canal do YouTube e em um podcast, o Tricô de Pais, ele levanta importantes questões relacionadas à família e à criação dos filhos. Com um olhar crítico para a atualidade, Thiago, que é muitas vezes chamado de “paizão” apenas por cuidar de suas crianças, fala aqui sobre o papel do pai dentro de uma realidade ainda machista. Confira o depoimento dele:

“Eu me tornei pai em um momento em que eu e minha esposa desejávamos ter um filho. Foi um período em que esperávamos aumentar a família para além dos três gatos que tínhamos na época. Apesar do desejo de ser pai, a ficha só caiu mesmo depois que o meu filho veio ao mundo, quando segurei o Dante no colo pela primeira vez, assim que ele nasceu. Até então, a paternidade para mim era algo muito abstrato, mesmo tendo participado de todas as consultas pré-natais e exames de ultrassom.

Eu realmente acho que o vínculo que um pai desenvolve com o filho demora mais para ser construído, porque requer muita presença, tempo e trabalho. Eu tinha que estar ali, presente, vivenciando a paternidade para construir um vínculo forte, mas que mantenho e cultivo sempre, até hoje, quatro anos depois do nascimento do meu filho mais velho.

Ser pai, para mim, é um exercício constante de olhar para trás e de fazer as pazes com o passado. Claro, nós sempre tentamos fazer o melhor que podemos com os nossos filhos – e também foi isso que os nossos pais fizeram. O exemplo que eu tive de paternidade na minha infância era um tipo de paternidade mais autoritária e isso me influenciou no sentido de tentar encontrar um caminho que fosse mais fiel ao que eu acredito hoje. Foi querendo fazer diferente que eu acabei descobrindo que não era uma questão de fazer melhor ou pior do que fizeram comigo.

Aqui em casa, a dinâmica que eu e minha parceira combinamos até o momento é o arranjo em que eu trabalho fora, em horário comercial, enquanto que ela fica em casa, cuidando das crianças quando elas não estão na escola. A nossa divisão dos cuidados com nossos filhos sempre foi muito orgânica – quando estão os dois em casa, cada um faz o que precisa ser feito em um determinado momento. Preferimos fazer dessa maneira, porque funciona melhor para nós.

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Eu penso que cuidar dos filhos é mais complexo do que apenas fixar tarefas, como se eu fosse o responsável pelo departamento de fraldas e a minha parceira fosse do departamento de comidas. Porém, quando eu estou em casa, principalmente quando chego do trabalho, eu tendo a fazer mais com as crianças como dar janta, banho e colocar para dormir, até para que a minha esposa possa descansar um pouco, depois de passar a tarde inteira com eles.

Conhecendo o panorama atual da paternidade no Brasil, em que a maioria esmagadora dos pais não assume os cuidados diários dos filhos – ou acabam se acomodando a ‘ajudar’ em algumas ‘tarefas’ com as crianças – acontece algo comigo que me causa sentimentos variados. Quando estou na rua e cuidando dos meus filhos, como deveria fazer porque sou pai, e principalmente quando estou fazendo isso e, por algum motivo, a minha mulher não está por perto, eu recebo elogios por ser esse ‘paizão’.

Claro, eu entendo a razão pela qual as pessoas fazem esses elogios, porque perto do que a maioria dos pais faz, ou não faz, fica muito fácil se destacar positivamente da média. Mas, ao mesmo tempo, eu me sinto sempre muito incomodado, porque eu só estou fazendo a minha obrigação e porque sei que a mãe deles não receberia os mesmos elogios se fizesse exatamente a mesma coisa. Por isso, eu sempre tento responder alguma coisa, em tom de brincadeira, como ‘alguém tem que fazer isso, né?’ ou ‘tô só fazendo aqui meu trabalho de pai!’.

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O trabalho da mãe é sempre menosprezado e, para piorar, julgado. Se eu fizer alguma coisa que as pessoas considerarem errada, como colocar uma fralda torta ou me embananar para limpar uma tempestade de cocô do meu filho mais novo, as pessoas vão me olhar com um sorriso piedoso no rosto, com uma expressão de ‘tadinho dele, tá tentando, né?’. Por outro lado, a mãe que passa por isso receberá, muito provavelmente, olhares tortos e expressões de ‘olha lá, não sabe nem cuidar do filho’.

Isso é muito cruel e é a resposta de um sistema machista que delega a criação dos filhos à mãe, sempre. Por isso que o meu trabalho na internet é o de gerar muito conteúdo para mudar essa mentalidade, com textos, vídeos e podcasts sobre criação de filhos, sob a perspectiva do pai. Porque as coisas só começarão a melhorar quando o pai assumir de fato a sua responsabilidade na criação dos filhos”.

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