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“Por que eu incentivo meus filhos a ajudarem nas tarefas de casa”

Mãe de dois meninos, Paloma Fernandes entende que é com pequenas ações na infância que se cria um mundo menos machista.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
5 abr 2017, 20h43

Bióloga, youtuber e professora, Paloma Fernandes tem 28 anos e é mãe solo de dois meninos: Bernardo e Rodrigo. É por acreditar que sua grande missão é educá-los para um mundo mais justo e menos machista que ela os incentiva a não acreditar em “coisas de menino” e “coisas de menina”. Confira o depoimento dessa mãe!

“A maternidade surgiu na minha vida de maneira inesperada. Um descuido e de repente tudo mudou. Fui mãe do Bernado com 20 anos de idade, estava no primeiro ano da faculdade, minha vida era agitada e cheia de muitos compromissos, então descobrir uma gravidez naquele momento foi um misto de sentimentos. Logo depois, aos 24, me tornei mãe do Rodrigo e meu universo se transformou por completo. Eu me lembro de desejar isso desde muito jovem, porém os planos se adiantaram e tive que assumir muitas responsabilidades em um curto espaço de tempo, o que foi desafiador mas muito recompensador ao mesmo tempo.

Ser mãe para mim era algo natural, todas as tarefas com um filho seriam fáceis e uma aventura recheada de muitas descobertas, afinal eles saíram de mim, o que poderia dar errado? Doce ilusão. O desafio de criar outro ser humano é, sem dúvida, o maior da vida de qualquer pessoa e hoje eu entendo isso perfeitamente. Sou mãe de meninos – o que, aliás, sempre foi um desejo – talvez por me identificar melhor com esse universo, nunca pensei que seria mãe de uma menina. Como mãe deles, sinto que tenho uma grande missão: educá-los para o mundo, não para esse mundo, mas para um mundo mais justo e menos machista.

Paloma Fernandes

Vivi com os meus pais até os meus 19 anos e, desde sempre, aprendi que nós, mulheres, precisamos lutar todos os dias contra o que nos é imposto e que se quisermos ser reconhecidas por aquilo que fazemos, temos que conquistar nosso espaço. Então, mesmo sendo a única filha da casa, eu e meu irmão sempre desempenhamos os mesmos papéis nas tarefas domésticas, isso sempre ficou muito claro para nós e acho que influenciou a maneira como eu penso em qual tipo de educação eu quero dar para os meus filhos e como quero criá-los. Acredito que somos fruto do meio em que vivemos, então, se eu desejo esse mundo de igualdade e respeito para eles, preciso mostrar o quão importante é cumprir obrigações que não são de um gênero específico, mas sim de todos que convivem naquele espaço e devem zelar por ele.

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Vivemos numa sociedade extremamente machista onde isso é ‘coisa de menino’ e aquilo é ‘coisa menina’ e eu confesso que aqui isso não existe. Eles sempre tiveram que cumprir algumas tarefas, claro que de acordo com a capacidade deles, mas sempre ajudaram com os brinquedos, organização do quarto e das próprias coisas. Conforme eles foram crescendo, algumas coisas foram mudando na lista de tarefas e eles se adaptaram bem por isso sempre ter feito parte da rotina dos dois.

Eu e o pai deles somos separados, mas por termos uma relação próxima, zelamos pela educação deles e temos em mente que eles precisam cumprir as tarefas do dia a dia, já que eles fazem parte da casa assim como eu. Então, mesmo quando eles estão na casa do pai, continuam fazendo coisas como organizar as próprias roupas ou fazer a lição de casa.

Depois que me tornei mãe solo, percebi que estimulá-los a me ajudarem com as tarefas de casa facilitaria a nossa vida agora a três e que seria uma boa oportunidade de mostrá-los que podemos nos ajudar, para tornar as tarefas do dia a dia menos cansativas para todos nós.

Apoio a responsabilidade na infância. Incentivá-los a serem mais responsáveis traz benefícios importantes para o desenvolvimento da personalidade e da autoconfiança das crianças. Eles se sentem parte do meio em que estão inseridos e aprendem valores importantes como igualdade de gênero, mesmo que de maneira indireta. Não preciso necessariamante dizer a eles que a limpeza da casa não é só obrigação da mamãe, posso mostrar as razões pelas quais eles devem ajudar, já que todos moram ali juntos. Todos participaram da bagunça, então por que não organizarmos juntos?

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Paloma Fernandes

Todos os dias eles aprendem coisas novas na escola, com os amigos, e eles estão numa fase, principalmente Bernardo, o mais velho com 6 anos, em que questionam o mundo e o que está à sua volta o tempo todo. Outro dia estávamos fazendo a tarefa do colégio juntos e ele se recusou a pintar um desenho com o lápis cor de rosa e, quando eu o questionei, ele me disse que uma amiguinha da sala disse que aquele lápis só pode ser usado pelas meninas e que eles, os meninos, deveriam usar o azul, o verde ou o amarelo. Naquele momento eu pensei que por mais que eu me esforce para fazê-los entender que o lápis cor de rosa é só uma cor e que bonecas e carrinhos são só brinquedos, ou ainda que a louça pode ser lavada por qualquer pessoa, eles ainda vão vivenciar essas situações lá fora e eu espero que eles saibam que podem ser e fazer o que eles quiserem independentemente de serem homens.

Acredito que o preconceito, a violência não só contra a mulher, mas qualquer tipo de violência, ou o próprio bullying, são combatidos quando esses assuntos são desmistificados. É preciso falar sobre isso com as crianças, respeitando, claro, o limite de entendimento deles. É preciso bom senso e consciência, mas só se constrói uma sociedade menos intolerante com informação e respeito, e isso deve começar na infância”.

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