“O que mudou na minha vida depois da maternidade”

Confira a reflexão de uma mãe sobre as coisas positivas e negativas que aconteceram após o nascimento da sua filha.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 20h56 - Publicado em 4 mar 2016, 07h00
Ana Rosato Fotografia
Ana Rosato Fotografia (/)
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Thaise Venturini Pregnolatto de Mello, 31 anos, é mãe da Catarina, de 2 anos, professora, tradutora, escritora de livros infantis e idealizadora do blog Mamaholic. Aqui, ela fala sobre as mudanças que a maternidade trouxe para a sua vida.

“Antes de ter filho, eu ia para o trabalho mais cedo às sextas-feiras. Acabava fazendo a unha ou depilação no meio do caminho. Saía um pouco mais tarde do que nos outros dias, e por isso, voltava para casa de táxi. Eu e meu marido pedíamos pizza, tomávamos vinho ou experimentávamos um sabor novo de algum sorvete enquanto assistíamos aos nossos seriados preferidos. Não tínhamos hora para dormir, pois também não tínhamos horário para acordar no sábado. Pela manhã, eu ficava com os meus livros enquanto ele lia o jornal. Íamos à piscina e depois fazíamos um bruch em alguma padaria charmosa de São Paulo. Tudo na paz, na tranquilidade, respeitando os nossos tempos biológicos e nossa rotina sem horários e obrigações. Dormíamos quando tínhamos sono, comíamos quanto tínhamos fome.

Mas claro, isso foi antes da Catarina nascer. Não preciso contar para vocês que no primeiro mês acordava de hora em hora, não preciso falar dos efeitos da privação de sono na vida de alguém – acho que todas conhecem os pormenores tanto quanto eu – e com certeza eu não preciso dizer que, mesmo colocando a criança na cama cedo na sexta e tentando manter a rotina dos primeiros anos de casamento, acabamos indo dormir bem mais cedo do que antigamente porque sabemos que vamos acordar com a voz mais carinhosa do mundo, chamando por “papai” ou “mamãe”, antes do horário que gostaríamos.

Todo mundo sabe que quando viramos pais nossos relógios biológicos funcionam em um fuso meio doido, que acompanha todas as necessidades da cria. O que as pessoas não costumam contar é que tem dias muito difíceis em que você pensa naquela vida de antes com mais frequência do que gostaria e sente uma saudade que quase dói. Ir ao banheiro na hora em que você sentiu vontade é, durante muitos meses, luxo puro. Um banho quente e demorado depois de um dia pesado vira um sonho longínquo. Tesão de verdade é poder cair na cama e dormir até de manhã.

O que muitos não falam é que dá um trabalho do cão ensinar uma criança a dormir, a comer, a não riscar paredes. Eles também não dizem que é muito mais fácil deixar o pequeno mandar na casa do que ensinar. Dá trabalho e, muitas vezes, é trabalho de formiguinha: lento e repetitivo. E tem dias em que você simplesmente prefere ter as paredes pintadas de verde do que ter de levantar pela 137ª vez do sofá, onde você está jogada tal qual tomate passado no fim de feira, focando em respirar porque tem medo de piscar, dormir por um segundo – e acordar com a cria andando com o cocô do cachorro na mão pela casa.

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Nesses dias, você pensa muito naquela vida de antes da maternidade. E tudo bem, porque precisamos parar de romantizá-la e lembrarmos que ainda somos – juro – humanas. Mas a primeira pega perfeitinha no peito, a primeira mamada que não dói, a primeira noite inteira de sono, a primeira vez que riu para você, a primeira gargalhada, a primeira sentada sem cair, a primeira vez que saiu engatinhando, a primeira vez que falou “mamãe”, a primeira vez que andou, o primeiro dia na escola, a primeira volta de bicicleta, a primeira ida ao cinema, aquela palavra engraçada que aprendeu a falar sei lá onde, o primeiro abraço e beijo sem pedir, o primeiro “eu te amo”… Tudo isso muda a nossa vida profundamente.

Ana Rosato Fotografia
Ana Rosato Fotografia ()

E mais do que falar das mudanças clichê que a maternidade nos traz, como as tais noites em claro, é preciso dizer como ela nos muda todos os dias. Meu olhar para uma mãe que amamenta em público, que carrega o filho dormindo nos braços enrolado de manhã, que toma metrô com a cria ou para a criança que faz birra é outro. É um olhar de cumplicidade. “Estamos na mesma, mana”. Sou uma pessoa muito mais empática, gentil, centrada, religiosa, ansiosa e definitivamente mais preocupada do que era. Julgo muito menos e guardo mais os meus palpites.

É simplesmente impossível não pensar “e se fosse meu filho?” todos os dias, enquanto ando na rua ou assisto ao jornal. Agora, eu olho os mundos com os olhos de mãe. Não dá mais para ser a mesma pessoa daquelas sextas à noite antes da Catarina – e eu nem gostaria de ser. Continuo sendo a Thaise, com todas as minhas necessidades, limitações e personalidade. Isso não pode ficar em segundo plano, mas ser mãe é uma parte gigantesca de quem eu sou. É a parte que mais gosto de mim. É o que eu faço melhor na vida. Mudou tudo. Ainda bem! Ganhamos uma companheira de brunch, que acorda mais cedo do que gostaríamos, é verdade. Mas ela é tão boa companhia que eu nem ligo!”

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