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Mulheres pretas, mães, trabalhadoras: Cíntia Aleixo fala das lutas do 8/3

O Dia Internacional da Mulher sob a perspectiva de uma mãe preta e consciente do caminho trilhado até aqui e das conquistas que ainda nos faltam

Por Da Redação
Atualizado em 8 mar 2023, 13h33 - Publicado em 8 mar 2023, 12h50

Cíntia Aleixo tem 42 anos, é psicóloga clínica e parental, diretora e idealizadora da consultoria Um Mundo de Possibilidades, especialista em suporte psicológico materno e em diversidade e inclusão em empresas. Mãe da Manu, ela ainda é mestranda em psicologia clínica pela PUC-RJ e se define como “demasiadamente psiciana, humana e apaixonada pela psicologia”.

Como mulher preta, mãe e profissional da psicologia materna, ela tem um perfil no Instagram, @possibilidades_maternas, e hoje, Dia Internacional da Mulher, compartilha com a gente algumas reflexões sobre esta data que é, majoritariamente, de luta. Veja a seguir:

“No dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher e, embora muito tenha sido conquistado na história a partir dos movimentos feministas, a data chama atenção para as violências que perseguem as pessoas do gênero feminino e nos mostra dados importantes que apontam para várias formas de violência, como racismo, preconceitos de classe, com a mãe, com as mulheres indígenas, violência obstétrica, turismo sexual, baixo destaque na carreira profissional, falta de poder, gordofobia, entre outras. Enquanto isso, o homem é visto hierarquicamente como ser superior, o que amplia os efeitos do sofrimento psíquico e a vulnerabilidade das mulheres.

A discussão é antiga e as ações políticas e sociais que deveriam nos prevenir e nos proteger em nossos direitos estão longe de serem reconhecidas no formato necessário. Além de normativas, as práticas de masculinidade são incorporadas ideologicamente, levando à subordinação global das mulheres.

Ilustração de uma mulher submersa, com parte do rosto para fora da água, como se estivesse tomando fôlego ou afundando.

Mulheres pretas, mães, trabalhadoras… Preconceito em todos os níveis

Um recorte muito importante tem a ver com a mulher preta, que em muitos momentos da vida, começando na infância, é oprimida, permanece ausente de muitas pautas femininas embranquecidas, é vista como mulher subordinada, fácil, para exportação, provedora sexual – tanto por mulheres quanto por homens. Desse modo, também podemos entender os motivos pelos quais as mulheres pretas sofrem com mais violências e portas fechadas, apesar da sua eficácia e efetividade. 

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O preconceito também é muito presente na vida da mulher que se torna mãe e precisa optar pelas atividades profissionais, sendo mantenedora da família e contribuindo para o orçamento familiar. É presente na vida da mãe solo e também da mulher que escolhe passar a maior parte do tempo vislumbrando qualquer outra atividade que não seja a maternidade. Todos esses são desafios que enfrentamos, incluindo a violência psicológica, que acontece de modo invisível, porém é dolorosa demais. 

A sobrecarga mental da mãe com a criação dos filhos versus a jornada de trabalho, quando comparada ao universo masculino, tende a excluir as mulheres das possibilidades que são determinantes para conquistas profissionais, por exemplo. O olhar que a sociedade tem para a mulher mãe a coloca num lugar de largada que vem depois do preconceito, ou seja, a corrida nunca é de igual para igual.

Ilustração de 4 mulheres de perfil, uma ao lado da outra. A primeira é ruiva, a segunda morena, a terceira loira e a quarta é negra. Cada uma veste uma camiseta de uma cor. O fundo é rosa.
(CreativeDesignArt/Getty Images)

Uma luta que deveria ser todos

As mulheres precisam – e merecem – ter mais visibilidade. Muitas lutas ainda precisam acontecer até que realmente possamos comemorar o “8 de março”. Em 2019, por exemplo, ocorreram 3.728 óbitos femininos por agressão – 31% das vítimas brancas e 66% negras, segundo o Atlas de Violência (2020), realizado pelo Ipea. 

Certamente, a lei Maria da Penha (Lei no 11.340/06) é uma grande conquista e fortalece as mulheres que precisam tomar coragem para denunciar abusos de criminosos, com os quais geralmente convivem debaixo do mesmo teto. Ainda assim, nesse contexto, há graves consequências possíveis no registro psicológico – sintomas como ansiedade e depressão, síndrome da impostora, sentimento de inferioridade, inadequação e outros.

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Diante de todos esses desafios, a luta pelos direitos femininos deveria ser de todos que compreendem a igualdade, a liberdade sexual e o controle do próprio corpo em direção a uma construção social e cultural modernas.

Se eu pudesse deixar um recado para as pessoas da nova geração, para as pessoas que buscam a própria identidade, para as pessoas que se comparam às outras, para as pessoas que agem como se nada acontecesse… Eu diria que podemos admirar o que não entendemos, construir verdades a partir de leituras sobre o tema, liberar os próprios julgamentos e nos abrirmos ao novo. Estas ações apontam para comportamentos contrários ao obstáculo, conservador e preconceituoso. 

E não se esqueçam: o preconceito precede a violência.

Cí Aleixo💜.”

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