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“Fui contratada e dispensada por estar grávida”

Você passou por algum obstáculo na sua trajetória profissional depois que se tornou mãe? Leia o relato de uma mulher que sentiu isso na pele.

Por Luísa Massa
Atualizado em 14 mar 2018, 17h48 - Publicado em 8 mar 2018, 21h08

Ticiana Hugentobler, de 34 anos, é administradora e mãe do Davi, de 1 ano e 4 meses. Aqui, ela fala sobre as dificuldades que enfrentou no mercado de trabalho depois de se tornar mãe e relata um episódio em que foi recusada em uma vaga de emprego por estar grávida. Confira:

“Sou administradora e trabalho desde os 18 anos de idade – a maioria das vezes como auxiliar ou analista. A realização profissional sempre fez parte dos meus planos de vida, assim como a maternidade que, a princípio, viria lá pelos 35 anos… Mas as coisas mudaram e hoje tenho um filho de 1 ano e 4 meses.

E antes mesmo do meu filho nascer, eu já senti na pele o preconceito que existe no mercado de trabalho em relação às mulheres em idade fértil. A primeira delas foi em 2015, quando participei de um processo seletivo para uma renomada organização nacional. Eu estava entre os 10 finalistas – sendo 9 homens – e concorria a um cargo dos sonhos: me tornar consultora de negócios naquela empresa.

Quando a gerente da área comentou despretensiosamente: ‘vamos colocar anticoncepcional no bebedouro desse escritório, porque aqui a taxa de fertilidade é absurda e eu não treino ninguém para ficar trabalhando pouco tempo comigo’, fiquei assustada. Obviamente esse emprego não deu certo e não fui escolhida.

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Já em 2016, surgiu uma vaga em outra empresa que eu admirava muito. Foi um processo seletivo longo e algo inesperado aconteceu: fiquei grávida! Descobri isso justamente quando, por ironia do destino, fui escolhida como a candidata número 1.

O RH entrou em contato comigo para me passar todas as orientações burocráticas sobre a contratação, mandando um e-mail informando sobre todos os procedimentos que deveriam ser feitos. Mas confesso que fiquei nervosa, pois não queria começar em um emprego, num lugar que eu tinha intenção de fazer carreira, parecendo que entrei por ‘malandragem’.

Por isso, antes de entregar minha carteira de trabalho ao RH, marquei um café com a pessoa que me escolheu e que seria minha gerente. Falei a verdade sobre a minha situação e cheguei a apresentar algumas alternativas – como administradora, eu consigo me colocar no lugar do empregador. Então, para ‘não forçar’ uma estabilidade trabalhista, tive a ideia de propor a minha contratação como pessoa jurídica. Com essa economia, seria viável pagar algum analista (que eu mesma treinaria) para me substituir após o nascimento do meu filho. Eles assinariam a minha carteira apenas quando eu retornasse – já com o bebê de 4 ou 5 meses de vida.

A minha ex-futura chefe agradeceu a honestidade, achou a minha sugestão interessante e a encaminhou para o RH, que levou a questão para a diretoria. Mas a vaga, que até a véspera existia e era minha, simplesmente foi cancelada – eles alegaram que a empresa estava passando por uma crise.

Nunca senti tanto desrespeito ao encarar uma decepção tão profunda! Ainda mais por ser no momento mais frágil da minha vida: o início de uma gestação, com maior risco de aborto natural. Graças a Deus, Davi está aí, um menino lindo e saudável, o amor mais puro e sublime que já senti.

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Eu ainda fiquei na promessa de ser a próxima a ser chamada para a vaga e acreditei nisso. Avisei sobre o nascimento do meu filho, comuniquei quando ele fez 4 meses, mas o vi completando 1 ano sem ter nenhum retorno ou consideração por parte da organização.

De candidata ‘perfeita’ e alinhada com os valores da empresa, passei a uma mulher subestimada porque seria mãe. Esse foi o alto preço que paguei por ter sido honesta, por ter pensado mais no contratante do que no meu próprio bebê. Minha gestação foi tranquila, mas psicologicamente fiquei abalada e até hoje não entendo como no Brasil a maternidade é um tabu no mercado de trabalho. Deveria ser natural entender que mulheres têm filhos, mas elas não deixam de ser profissionais!

O mais triste é que muitos que souberam da minha história disseram que fui burra. Cheguei a ouvir: ‘Quem é que avisa que está grávida antes de assinar a carteira de trabalho? Nenhuma empresa contrata gestante e evitam mães com filhos pequenos’. Para a minha sorte, tenho um marido e uma família que me apoiam, porque se o meu filho dependesse exclusivamente de mim, iria colocar em risco até mesmo as necessidades básicas dele. 

Diante disso tudo, eu questiono: o que há de errado em ser mãe? Por que a nossa sociedade não consegue lidar melhor com maternidade e carreira? Alguns estudos já comprovaram que mães postergam muito menos no emprego e é uma pena que mulheres em idade fértil sejam discriminadas e vistas como ‘problema’.

Atualmente, estou tocando a minha vida focada em outros projetos. Consegui vaga para lecionar em uma faculdade duas vezes por semana e presto pequenas consultorias. Não busco mais empregos ‘tradicionais’ porque acho que não vale a pena gastar energia em processos seletivos – e até porque, para ganhar um pouco mais e ter que gastar com uma escola integral, não compensa… Enfim, aquele eterno dilema que as mães enfrentam.

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Esse é o desabafo de uma mulher lutando por mais naturalidade com a maternidade. Afinal, hoje muitas mulheres querem ter filhos E ter realização profissional – uma coisa não exclui a outra. Penso que precisamos achar uma forma desses dois papéis coexistirem de forma mais harmônica”.

 

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