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Metade das mulheres saem do trabalho após a licença-maternidade

Estudo inédito mostra o impacto da chegada do filho na carreira de quase 250 mil brasileiras.

Por Chloé Pinheiro
14 set 2017, 15h17

Que é difícil conciliar carreira e maternidade não é novidade para nenhuma mãe. Mas uma nova pesquisa da Fundação Getúlio Vargas ajuda a dimensionar melhor a situação. O trabalho acompanhou o desempenho profissional de 247.455 brasileiras depois da licença-maternidade e descobriu que metade delas estava desempregada um ano após ter recebido o benefício.

“Quando acaba o período de cinco meses pós-nascimento, que é a proteção ao emprego garantida por lei, a maior parte dos desligamentos é por iniciativa do empregador sem justa causa. O pico ocorre por volta dos 12 meses”, comenta Cecilia Machado, economista professora da instituição e autora do estudo.

Isso não quer dizer, entretanto, que as mulheres sejam demitidas. “Só analisamos os dados administrativos enviados pelos empregadores, mas não podemos descartar que muitas pedem para ser mandadas embora para ter seguridade social”, completa Cecilia.

Independente da justificativa oficial para o desligamento, o achado do estudo é um sinal de alerta: sozinha, a licença-maternidade não é capaz de garantir a estabilidade profissional das mulheres. Especialmente para aquelas com escolaridade mais baixa, que foram as mais afetadas nesse sentido. “Uma das explicações para isso é a de que voltar para o trabalho implica delegar os cuidados com o filho para uma terceira parte, o que é difícil para mulheres com salário mais baixo”, explica a professora.

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Mas o problema não é exclusivo desse grupo. Quando a licença-maternidade acabou, Denise Débora de Souza, de 31 anos, formada em biblioteconomia, acabou se vendo diante de um dilema. “Trabalhava das 13 às 22h em uma universidade, mas a creche onde consegui vaga só atendia no período integral, então via minha filha apenas por pouco tempo durante a manhã e quando voltava à noite ela já estava dormindo”, comenta Denise.

Depois de três meses negociando na empresa sem sucesso para alterar seu horário, ela optou por sair do posto e pediu para ser demitida. A empresa, sua empregadora por oito anos, topou. “Ficar com ela era minha prioridade, mas eu também precisava do emprego para ter estabilidade justamente para criá-la e isso ainda faz falta”, reflete.

Desde então, ela só conseguiu vagas temporárias. Reflexo da crise, mas o próprio fato de ter um filho atrapalha nas negociações. “A resposta para a pergunta ‘você tem filhos?’ parece já definir o resultado da entrevista”, desabafa.

O que pode ser feito para melhorar

Primeiro, a autora do estudo pede uma reflexão. “Temos que considerar que o copo já está meio cheio, uma vez que para metade das mães a licença foi eficaz e que a rotatividade delas no mercado de trabalho é normalmente alta”, aponta Cecilia. Mas, é claro, algumas medidas poderiam ser tomadas para alcançar os outros 50%.

Uma delas é a flexibilidade de horários, o outro é a divisão na responsabilidade pela criação dos filhos. “O fato da licença ser exclusivamente materna já reforça uma série de estereótipos. Em alguns países europeus, ela é parental, ou seja: pode ser tomada por pai e mãe e quando o pai escolhe não tirar o tempo de benefício é menor”, exemplifica a economista.

Por último, políticas tanto privadas quanto públicas que auxiliem a mãe na dupla jornada. “Há dificuldade em manter o emprego depois da licença por vários motivos, por exemplo, uma carência gritante de vagas nas creches e, como na maioria dos casos é a mulher que cria sozinha, fica difícil conseguir pagar uma creche particular”, opina Fernanda Aguiar, auxiliar administrativa de 33 anos, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Fernanda também optou por ser demitida ao fim da licença-maternidade, depois de tirar dois meses extras de licença não-remunerada para se dedicar ao aleitamento materno exclusivo. “Tinha algumas economias na época e consegui ficar com ela esse período, mas a licença deveria ser de seis meses para conseguirmos fazer a amamentação exclusiva e não termos tantas faltas depois por doenças nas crianças”, raciocina Fernanda.

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