“Eu sofri pressão da sociedade para me tornar mãe”

Muitas mulheres são cobradas por não terem vontade de viver a experiência da maternidade. Conheça a história de uma mãe que passou por isso e saiba qual foi a sua reação quando descobriu que estava grávida sem ter planejado.

Por Luísa Massa
Atualizado em 27 out 2016, 22h05 - Publicado em 29 fev 2016, 15h20
Débora Dorta Fotografia
Débora Dorta Fotografia (/)
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Marcia Clemente, 43 anos, é mãe da Bianca, de 3 anos e 9 meses, publicitária e idealizadora do Bloguinho da Bibi. Aqui, ela fala sobre os palpites que escutou porque não queria ter filhos e conta como a maternidade surgiu de forma inesperada. 

“Eu engravidei aos 39 anos, sem ter planejado. Diferente de muitas mulheres, eu nunca vi a maternidade como um grande sonho e não depositei todas as minhas expectativas de felicidade em cima disso, embora tenha batido a vontade de ser mãe quando tinha 20 e poucos anos. Acho que o fato de eu vir de uma família grande e ter oito irmãos acabou influenciando. Nessa época, eu vivia um namoro longo, estava apaixonada e pensava em ter filhos futuramente.

Só que as coisas mudaram. Esse relacionamento terminou, eu consegui um emprego em uma grande empresa, trabalhava muito e viajava quando queria. Eu tinha amadurecido e, com cerca de 30 anos, o objetivo de ter filhos já não fazia mais sentido para mim.

Quando estava estabilizada na carreira, conheci o meu atual marido. Nós dois estávamos passando por momentos difíceis, mas de cara nos demos bem, nos identificamos e casamos após dois anos de namoro. Eu me sentia feliz porque compartilhava uma vida prazerosa com ele – repleta de saídas e viagens – e não pensávamos muito no que aconteceria mais pra frente.

Mas as pessoas não entendiam direito e foi aí que começaram as cobranças. Eu sempre ouvia comentários desnecessários e perguntas indiscretas do tipo: “como um casal que tem mais de 35 anos não tem filhos?”.  Simplesmente não respeitavam a nossa opção. A pressão também veio da minha família, em especial dois irmãos que sempre me cutucavam e diziam que eu e o meu marido iríamos ficar sozinhos, pois não teríamos companhia.

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Ouvir tudo aquilo me incomodava e me deixava chateada. No fundo, eu até achava que algumas coisas que eles falavam podiam ter fundamento, mas se eu não tinha vontade de ter filhos, o que poderia fazer? Além disso, eu tinha endometriose e cistos e tomava anticoncepcional há mais de 10 anos. Como minha pressão também era alta, o médico orientou que eu parasse de tomar o remédio e prevenisse a gestação por outros métodos. Foi o que eu fiz e em nenhum momento pensei que poderia dar errado. 

Depois de um ano, o que aconteceu? Descobri que eu estava esperando um bebê! Eu me assustei muito ao receber a notícia, chorei e fui invadida por muitos sentimentos, inclusive tristeza. Algumas semanas depois, me surpreendi mais uma vez: a gestação era anembrionária – que é quando o embrião não se desenvolve, apesar do útero da mulher estar pronto para abrigá-lo. O médico disse que provavelmente eu teria que fazer uma curetagem, mas não foi preciso porque logo aconteceu um aborto espontâneo

Apesar de não querer ter filhos, eu fiquei muito decepcionada porque o pior de tudo foi sentir o gostinho de ser mãe, mas ter uma gravidez que não foi levada adiante. Na consulta, o médico disse que se eu quisesse engravidar, deveria voltar depois de 60 dias, quando o organismo estivesse recuperado, mas, para a minha surpresa, recebi outro positivo após 30 dias.

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Uma irmã que ficava no pé para eu ter filhos dizia que tinha sido um milagre, já eu achei que aconteceu no momento certo. Como eu disse no começo, ser mãe não era um grande sonho da minha vida, simplesmente aconteceu, mas hoje a Bibi é a minha maior alegria! E quem pensa que as cobranças acabaram está enganado! As pessoas sempre me perguntam quando é que eu vou ter o segundo filho e, mais uma vez, tenho que lidar com esses palpites. Confesso que não é fácil, há também momentos muito cansativos e o casamento muda muito com a chegada de uma criança porque a dedicação é 100% voltada para ela. Apesar de tudo isso, eu acredito que a vantagem é maior, pois vejo minha pequena como uma continuação nossa e comecei a sentir um amor que eu nunca tinha imaginado que pudesse existir!”

 

 

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