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Criação superprotetora influencia negativamente comportamento dos filhos

A conclusão é de um estudo norte-americano com crianças de diferentes idades. Entenda a investigação e descubra se você anda blindando demais sua prole.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 26 jun 2018, 12h56 - Publicado em 26 jun 2018, 12h49

Levante a mão o pai ou mãe que não quer proteger os filhos de todos os perigos do mundo. Ninguém está dizendo que há algo de errado nisso, mas o controle excessivo sobre a criança pode piorar sua capacidade de regular emoções e favorecer ataques de mau comportamento.

É o que diz um novo estudo publicado no periódico Developmental Psychology, da Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês). O trabalho considerou como superproteção as intervenções dos pais antes que as crianças tentassem regular as emoções ou decidir de que maneira se comportariam por conta própria. É a chamada criação helicóptero, quando os cuidadores estão girando o tempo todo ao redor dos filhos.

Para chegar a essa conclusão, os especialistas acompanharam mais de 400 crianças durante 8 anos e avaliaram o grupo em três períodos: aos 2, 5 e 10 anos de idade. As avaliações consistiam em observar as interações entre pais e filhos, além de perguntas feitas aos professores e depoimentos colhidos dos próprios pequenos na última avaliação, quando eles já estavam maiores.

Como foi feito o estudo

Durante as sessões de observação, a equipe pediu às famílias que brincassem como brincariam em casa e anotou as reações de todos. “O comportamento ‘helicóptero’ que observamos incluiu pais constantemente dizendo às crianças com que objetos brincar, como manusear um brinquedo ou sendo muito restritivos e exigentes”, observou Nicole Perry, pesquisadora da Universidade de Minnesota e autora principal do trabalho, em comunicado à imprensa.

A reação dos baixinhos ao excesso de zelo variou: uns ficavam mais provocadores, outros apáticos ou ainda demonstravam frustração. E, como o grupo foi acompanhado por bastante tempo, deu para notar que essas reações não eram apenas imediatas. O controle excessivo aos 2 anos foi associado com uma menor capacidade de regular as emoções aos 5. Por outro lado, quando melhor essa regulação ocorria, menos provável era que o pequeno tivesse problemas emocionais e melhores eram suas habilidades sociais.

“Se os pais sufocam demais a criança e podam sua autonomia, eles impedem o desenvolvimento da criança em sua plena capacidade”, opina Gabriela Malzyner, psicóloga mestre em Psicologia Clínica pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Esse desenvolvimento passa por aprender a reagir em algumas situações, o que pode ser importante especialmente na escola, como apontam os pesquisadores.

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Criando filhos preparados

O controle emocional é uma habilidade aprendida que fará falta durante a infância e vida adulta. “Crianças que não conseguem regular as suas emoções e atitudes sozinhas estão mais propensas a ter acessos de birra ou mau comportamento na sala de aula, além de enfrentar mais dificuldade para socializar e ir bem na escola”, comentou Nicole.

Para estimular essa capacidade, o ideal é dar espaço para o treino e investir na liberdade. “Os pais tentam dar conta de todas as variáveis envolvendo a vida do filho, em parte por conta do medo que sentem, mas é preciso calcular o que é risco real e imaginado“, orienta Gabriela. Ou seja: uma coisa é impedir que a criança coloque a mão no fogo, outra é impedir que ela escolha o que vai fazer com um brinquedo que tem em mãos.

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Outro ponto importante é ensinar sobre o controle emocional desde cedo. Fale com os filhos sobre como entender os sentimentos e explique que alguns comportamentos podem estar ligados a emoções negativas, como a frustração, e que eles tem consequências. Os pesquisadores norte-americanos sugerem ainda que os pais ajudem os filhos a desenvolver estratégias para lidar com ocorrências ruins, como respirar fundo, ouvir música, pintar ou ir para um lugar mais calmo.

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