As melhores pensatas sobre maternidade de Gio Ewbank no TEDx
A atriz falou sobre adoção e maternidade: "O que faz uma pessoa achar que meu amor pelos meus filhos não é real ou que é menor que o de uma mãe biológica?".
Giovanna Ewbank é uma voz muito ativa quando o assunto é adoção. Junto com o marido Bruno Gagliasso, a atriz e apresentadora é mãe de Titi, de seis anos, e Bless, de quatro anos, adotados no Malawi, na África.
Em participação recente em um TEDx no Paraná, Giovanna desabafou sobre o tabu da adoção e o preconceito que ainda envolve o “ser mãe não-biológica”. A atriz se emocionou enquanto falava da filha e alguns trechos realmente são dignos de lágrimas.
A atriz começou com algumas perguntas provocativas que costuma ouvir. ‘Por que adoção?’, ‘Como uma mulher vem ao mundo e não quer gerar um ser em seu ventre?’, ‘E os filhos de vocês, vem quando?’, ‘Nossa, ela é tão linda. Ela tem mãe?’, ‘Como seus filhos são fofos, Gio. Eles têm família?’.
“Eu sempre fui uma mulher que achava que o relógio biológico nunca ia despertar. Eu nunca havia pensado em ter filhos e isso veio com muitos questionamentos, críticas e também muita pressão de alguns amigos e família”, contou ela.
Aqui, selecionamos as melhores frases de Gioh em sua apresentação:
“Eu não sou estéril”
“Eu comecei a ser questionada do porquê eu optei pela adoção – sim, porque foi uma opção, da qual eu me orgulho muito. Mas como toda escolha feminina, ela veio cheia de questões do tipo: ‘Tadinha! Mas ela já é casada há tanto tempo e não tem filho?’. E junto com isso eu li e ouvi que era estéril. Não, gente. Eu não sou estéril e nem o meu marido. Mas obviamente a dúvida sobre esterilidade veio sobre mim, que sou mulher.O que é muito sério. Porque, justificando desta maneira, a sociedade nega que uma mulher não queira ter filhos biológicos. A sociedade nega que uma mulher não queira explodir sua barriga de vida. E acreditem: existem diversas outras maneiras de explodir vida na gente. A minha vida mudou completamente desde que os meus filhos entraram nela”
“Só ela me conhecia e só eu conhecia ela”
“Hoje eu vou falar mais especificamente do meu primeiro contato com a maternidade, que foi com a minha filha Chissomo. Tudo na minha vida mudou desde a primeira vez que eu a vi, que eu abracei ela. Eu me lembro até hoje da sensação, desse engasgo na garganta, e do meu corpo trêmulo pensando: ‘Meu Deus, o que é isso que eu tô sentindo? Que sentimento é esse? Eu encontrei a minha filha e a minha filha me encontrou’. Foi numa viagem a trabalho, e que, de repente, tudo na minha cabeça sumiu. E a única coisa que eu tinha certeza – certeza absoluta – é que eu queria protegê-la e ama-la para o resto da minha vida.
Eu não sei exatamente como que é o sentimento de uma mãe quando pega o seu filho pela primeira vez, depois do parto, mas eu arrisco dizer que esse sentimento é muito similar com o que eu senti ali. Porque o meu parto foi naquele chão frio, daquele abrigo, no meio de pessoas que eu não conhecia e que a única que me importava na vida era eu e ela. O sentimento que eu tinha é que só ela me conhecia e que só eu conhecia ela. Foi ela quem me tornou mãe. Afinal, não é assim com todas as mães? Entre tantas bilhões de possibilidades, uma criança nos escolhe – seja ela no útero ou seja ela no coração. E aí começam as várias barreiras que a adoção quebra e que nem a ciência pode explicar”
“Adoção é, sim, sinônimo de maternidade”
“Vocês sabem aquela famosa frase: ‘tá no sangue’, ‘puxou o pai’, ‘é a cara da mãe’. Vocês acham que minha filha não escuta isso? Ela escuta – muito- e todos os dias. Sabe por que? Porque ela é a minha cara. Ela tem o meu olhar, ela tem o meu sorriso, ela tem os mesmos gostos que eu e ela tem todo o meu jeitinho. A adoção é muito transformadora. O que a sociedade precisa entender é que a adoção é, sim, sinônimo de maternidade. E que adoção, assim como gestação, é muito transformadora.
E o pior: tem gente que acha que adoção é um ato de caridade. E não é. Eu estarei sempre aqui lembrando a todos que adoção é, sim, maternidade ou paternidade. E vou pedir com todo meu amor e gentileza que, por favor, não façam perguntas constrangedoras para uma mãe adotiva. Porque isso dói muito.
Eu tento ser forte, eu tento ser empática. E eu tento, principalmente, compreender as pessoas que ainda não tem o entendimento do que é a dádiva da adoção.
O que não é normal é que a imprensa acaba esquecendo que eu também tenho uma carreira profissional. E assim começaram a me chamar para trabalhos e reportagens desde que meus filhos estivessem nas fotos. O que com meu marido que é – homem – isso obviamente não aconteceu. Eu neguei praticamente todos esses pedidos e mesmo assim ouvi em alguns lugares que eu queria aparecer”
‘Ela quer aparecer’
‘Ela quer aparecer’, para mim, é a frase mais cheia de julgamento que eu poderia ouvir na vida. Sabe por que? Porque essa frase é preconceituosa. O que faz uma pessoa achar que o meu amor pelos meus filhos não é real ou que é menor que o de uma mãe biológica?
Já as pessoas empáticas, essas me fazem tão feliz. Porque elas me param todos os dias na rua para contar histórias de amor, histórias de adoção, histórias de encontro de alma, assim como o meu. Isso é tão lindo, eu me arrepio frequentemente quando lembro dessas histórias.
“Não tem lado ruim de ser uma mãe adotiva? Tem, claro”
“Como para todas as mães. Nós todas temos muitos medos, o medo é constante. Eu tinha muito medo de quando minha filha me perguntasse ‘mamãe, de que barriga eu nasci?’. Mas esse eu já superei, graças a Deus. Mas eu ainda tenho muito medo de quando meus filhos começarem a ter um entendimento melhor da vida, começarem a me questionar sobre a adoção, sobre o passado, sobre a história deles…
O fato é que muitas pessoas acham que uma mãe adotiva não é legítima. Mas eu sei a mãe que eu sou, que eu procuro ser. E, principalmente eu sei que a minha relação com meus filhos vai ser sempre muito transparente e muito sincera. Então eles sempre vão saber da história deles, do passado deles e do presente. Para que, no futuro, isso não seja uma surpresa.
Também é importante que toda criança saiba a sua ancestralidade. Eu costumo dizer que minha barriga mudou de lugar e que o parto veio antes da gravidez, minha gestação durou um ano e meio, mais ou menos, e foi de muita dor e angústia, porque diferente de uma gravidez comum eu já conhecia minha filha, sabia que ela gostava de manga, tinha medo de passarinho e tinha um olhar curioso e queria muito sair daquele lugar para desvendar o mundo comigo. A maternidade nasce de um outro lugar. A maternidade nasce de um amor profundo e intenso e que de repente sopra no seu ouvido, ‘ei, você já é mãe’.
“Você não tem vontade de ter um filho de sangue?”
Não existe laço maior no mundo do que o amor, eu não tenho como responder essa pergunta para vocês isso agora, porque hoje eu não tenho esse desejo. Isso pode mudar, mas hoje, o que meu corpo e meu coração exprimem o tempo inteiro é que eu já sou mãe e sou mãe como qualquer outra. Que ama, que protege, que educa, que ensina, e que tem muito medo. A minha relação com meus filhos sempre vai ser pautada nessas três palavras: transparência, sinceridade e amor. Porque eu acho que com toda mãe tem que ser assim”