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Após descobrir autismo do filho, pai recebe o mesmo diagnóstico

E a partir disso, ele fez ilustrações para falar sobre a questão com os pequenos que têm o transtorno.

Por Luísa Massa
Atualizado em 26 set 2017, 15h53 - Publicado em 18 set 2017, 19h35
 (Divulgação/Facebook)
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Fulvio Pacheco é desenhista, coordenador da Gibiteca de Curitiba e pai do Murilo, de 9 anos, que foi diagnosticado com autismo no seu terceiro aniversário. Durante esse processo de descoberta, o paranaense foi surpreendido ao receber a notícia de que ele também tem o distúrbio. Para instruir as crianças que passam por isso e os pais que vivenciam a situação com os filhos, Fulvio lançou em 2016 a revista Relatos Azuis, que conta com o roteiro e as ilustrações feitas por ele. Batemos um papo com o quadrinista e o resultado você confere a seguir:

Como foi receber o diagnóstico de que o seu filho é autista?

Fulvio Pacheco (F.P.): Isso aconteceu quando ele tinha 3 anos. Aos 2, recebemos o diagnóstico errado de que ele não era autista e por isso perdemos um ano de tratamento. O Murilo é autista clássico, com perda cognitiva. Ele andou com 2 anos e falou somente com 5, então a gente já desconfiava. Mas foi por meio dessa identificação que descobrimos que todos os homens da minha família – meu pai, meus irmãos, meus tios – também têm um traço do problema. Percebemos que nós tínhamos coisas que antes eram consideradas como excentricidade – como algumas coleções e manias – e depois entendemos que eram aspectos do autismo.

E como foi receber o seu diagnóstico?

F.P.: O Murilo fez um tratamento em um centro daqui de Curitiba com vários profissionais. Em uma das reuniões, eles começaram a falar dele e eu me reconheci quando diziam: “autista faz isso, faz aquilo”. A minha esposa, que pesquisava mais sobre o assunto, já tinha começado a levantar suspeitas. E depois que a gente teve essa conversa, eu marquei uma consulta com a psicóloga. Ficamos quase 6 meses conversando e o diagnóstico de que eu também era autista – apesar de ser em um grau leve – foi feito. Na verdade, quando surgiu essa suspeita, eu comecei a ler muito sobre o tema e fui fechando as coisas na minha cabeça como, por exemplo, “por isso que eu mordo o dedo quando estou nervoso ou empolgado”. Eu achava que comportamentos como esse eram tiques quando, na verdade, são estereotipias.

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(Relatos Azuis/Divulgação)

Você acredita que entende melhor o seu filho por também ser autista?

F.P.: Com certeza. Eu já sei exatamente o que ele está pensando. Quando você chega com uma situação para um autista, ele não foca no ponto e, sim, em uma parte. Então eu sou mais direto quando quero me comunicar com o Murilo. Também tenho mais conhecimento da questão.

Como surgiu o projeto Relatos Azuis?

F.P.: Duas coisas me levaram a ele: eu trabalhava na Secretaria de Educação e sou desenhista. Na Secretaria, a gente fez uma espécie de cartilha sobre as necessidades de crianças especiais e mandamos para todas as escolas municipais de Curitiba. Foi algo bem simples, em formato de [histórias em] quadrinhos. E depois eu vi a repercussão disso, quando as crianças apresentaram um seminário com o que elas aprenderam, fizeram peça de teatro e até grafite. Então pensei: ‘como foi legal, eu vou fazer um material um pouco mais aprofundado sobre autismo’. E realizei isso junto com outros pais que fazem parte da UPPA (União de Pais Pelo Autismo) e foi assim que surgiu o ‘Relatos Azuis’. Aqui em Curitiba, existem tutores que ajudam as crianças com necessidades especiais na sala de aula e a gente foi dar uma palestra para eles – além de aprofundarmos o assunto em outras situações.

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Também foi nesse momento que o blog foi lançado?

F.P.: Primeiro eu criei o blog e fazia as pílulas de ilustrações e as divulgava no Facebook. Depois da UPPA, quando os pais ofereceram apoio, achamos uma editora que diagramou o material e lançou no ano passado. A revista está disponível em alguns lugares de Curitiba e também no site Mercado Livre.

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(Relatos Azuis/Divulgação)

Você pretende lançar uma nova edição da revista?

F.P.: Estamos pensando em fazer uma maior porque aconteceu muita coisa depois que a primeira foi publicada. Por exemplo, eu participei de um encontro em Fortaleza em que só falaram pessoas autistas. E eu queria abordar isso: o autismo nos adultos. Mas ainda não tenho uma data e nada estabelecido.

O que você gostaria de dizer para os pais que têm filhos autistas?

F.P.: Sempre tem aquele primeiro momento que é complicado, quando você descobre que o seu filho é especial. Você passa pela criança que idealizou e percebe que vai ser bem diferente. Mas na verdade é muito bacana ter um filho especial porque, depois de se acostumar com a ideia, você vai notar que se tornou uma pessoa melhor por causa disso. Também acho que nesse início é importante ir atrás dos profissionais certos. No meu caso, a gente bateu muito a cabeça, teve diagnóstico errado, mas a partir do momento em que encontramos os especialistas, tudo correu bem. Tanto que, por causa dos tratamentos, hoje em dia o Murilo é sociável. Ele sempre vai ter aspectos do autismo, mas pode ser que essas características nunca o atrapalhem e que ele tenha uma vida normal – assim como aconteceu comigo.

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(Relatos Azuis/Divulgação)
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(Relatos Azuis/Divulgação)
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(Relatos Azuis/Divulgação)
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