Advogada com bebê no colo é repreendida por desembargador em sessão online
Magistrado pede que a mãe "coloque" a criança em lugar adequado. OAB saiu em defesa da profissional em nota de solidariedade e repúdio
O vídeo de uma sessão plenária online no Amazonas viralizou na internet recentemente. Isso porque a gravação mostra a advogada Malu Borges Nunes, de 29 anos, sendo repreendida pelo desembargador Elci Simões, presidente da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), por estar com a filha no colo.
A reunião, da qual Malu participava em home office, foi paralisada por alguns minutos para que Simões chamasse a atenção da profissional, alegando que a menina fazia barulho e podia atrapalhar o julgamento.
“Eu queria pedir para Dra. Malu que… Quebra o silêncio das sessões do tribunal interferências outras na sala em que a senhora está. Isso prejudica os colegas. Não deixe que outras interferências, barulhos, venham atrapalhar nossa sessão, porque é uma sessão no tribunal, não pode ter cachorro latindo, criança chorando”, diz o magistrado.
Durante a sessão, a advogada precisou amamentar a bebê de seis meses e, embora não dê para vê-la no vídeo, é possível ouvir a garotinha.
“Se a senhora tiver uma criança, coloque no lugar adequado. São barulhos que tiram a nossa concentração. A senhora precisa ver a ética da advogada”, continuou Simões, ao que Malu respondeu: “Ok, Excelência, agradeço a compreensão”. Vale ressaltar que a advogada havia pedido para ser ouvida primeiro, direito garantido por Lei às lactantes, mas não foi atendida.
Assista ao trecho a seguir:
A ‘sensibilidade’ do desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, Elci Simões, que resolveu interromper uma sessão virtual para dar esporro em uma advogada/mãe, pq um neném fez um barulhinho. “Não pode ter cachorro latindo e nem criança chorando. Você precisa ver a ética!”. pic.twitter.com/Q0xLMdfD5u
— Mário Adolfo Filho (@marioadolfo) August 22, 2022
Repercussão nas redes
Depois de ir para as mídias sociais, o vídeo repercutiu entre os internautas, com comentários de apoio ao desembargador, alegando a seriedade da situação, mas também com muita indignação de quem, como Malu, vive ou conhece a realidade da maior parte das mães no Brasil. “Que nossa ética profissional não seja questionada por estarmos exercendo dupla/tripla jornada sem qualquer tipo de apoio”, declarou em nota a advogada.
Elci Simões também se manifestou sobre o caso, alegando ter pedido de forma educada o silêncio durante a sessão, “em respeito à presença de outros advogados”.
Já a Ordem dos Advogados do Brasil do Amazonas (OAB-AM) não só afirmou que Malu não cometeu qualquer infração disciplinar ou ética ao trabalhar de sua casa com a filha, como ainda emitiu uma nota ressaltando a falta de empatia em relação ao trabalho das mulheres que precisam conciliar maternidade e carreira.
“O que ocorreu no referido julgamento é a realidade da mãe profissional autônoma que também não tem como controlar o choro de uma criança ou exigir dela o silêncio, fato que expõe a necessidade de conscientização sobre a maternidade e a vida profissional”, diz a nota da Ordem.
Confira, a seguir, a nota na íntegra: