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A mãe da vida real

Com a maternidade é comum errar tentando acertar. Confira o relato de uma mãe que conta como um episódio com o seu filho marcou a sua vida e a fez refletir sobre isso.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 09h54 - Publicado em 27 abr 2015, 09h33

Priscila Casimiro, 30 anos, é mãe do Flavio, de 5 anos, administradora de empresas e idealizadora do blog Mãe Sem Frescura. Aqui, ela abre o seu coração e fala sobre como uma conduta equivocada prejudicou o seu filho e despertou em si o sentimento de culpa. Confira!

“A maternidade nos remete a mães perfeitas, que não podem errar e nem sequer pestanejar. Isso tem ficado cada vez mais em evidência com o avanço da Internet e redes sociais. Nos comparamos o tempo todo com outras mães – sejam elas amigas, parentes, blogueiras e celebridades. Estamos sempre nos questionando porque a outra teve sucesso em determinada atitude e a resposta é simples: ninguém posta ou fala abertamente sobre os seus erros, pois é difícil admitir para os outros as nossas falhas, ou seja, é mais fácil mostrar o quanto nós somos perfeitas, felizes e acertamos com fotos cheias de sorrisos.

Mas, isso é realmente o que acontece na vida real? Mãe não erra? As crianças nunca fazem escândalo em público? Será que somente as outras mães são perfeitas e você que é incompetente? Ou será que o medo do julgamento da sociedade fala mais alto? A comparação saudável é importante, pois avaliamos em quais pontos podemos melhorar, fazendo com que aquelas dicas sejam aplicadas ao mundo de cada mãe, mas errar é humano e são com as falhas que aprendemos.

Uma das experiências que mais me marcou na maternidade foi quando o meu filho tinha apenas 2 anos e pegou um resfriado. Estava com uma forte coriza na hora de dormir, entretanto, somente naquele momento percebi que o remédio receitado pelo médico para aquelas ocasiões tinha acabado. Como já estava tarde, lembrei-me de um medicamento que eu usava com frequência e resolvia rapidamente aquele mal estar. Logo, chequei o rótulo que indicava para uso adulto e pediátrico. Então, resolvi dar o remédio a ele.

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No outro dia, quando amanheceu, ele estava um pouco cabisbaixo. Eu achei que aquele era um sintoma típico de um resfriado, mas, infelizmente, o meu pequeno permaneceu assim durante todo o dia. À noite, notei que o corpo estava gelado e a cabeça quente. Logo contatei a pediatra por telefone que informou um possível diagnóstico de hipotermia e orientou a levá-lo imediatamente ao hospital. Ele continuava mole, não queria brincar e bem pálido. Fiquei muito preocupada.

No hospital, o médico o examinou e não entendia porque um bebê estava naquele estado, questionando inúmeras vezes eu e meu marido quanto a um possível uso de calmantes ou algo parecido, e que sem querer, o meu filho tivesse acesso. Ele perguntou muitas e muitas vezes e nós respondíamos: “Não! Não usamos nada disso!”. Eu já estava até ficando um pouco irritada com o excesso de perguntas do médico que olhava para o meu filho e não conseguia formar um diagnóstico preciso.

Então, neste momento veio uma luz na minha cabeça e falei: “Lembrei agora. A única coisa que dei a ele foi o tal medicação.” Pronto. Essa era a peça que faltava no quebra cabeça. Logo foi diagnosticado que meu filho estava intoxicado pelo medicamento, o que havia causado hipotermia.  A única coisa que passava na minha cabeça naquele momento era que eu tinha feito aquilo com o meu pequeno! Nunca me senti tão culpada na vida por, sem querer, ter colocado o Flavio naquela situação.

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Tentando entender o que havia acontecido, falei para o médico: “Mas, no frasco estava impresso uso adulto e pediátrico.” Então, ele me explicou que aquele tipo de medicamento só poderia ser usado em crianças maiores de oito anos e que não teria nada para reverter àquela situação de imediato. O procedimento indicado era somente oxigênio até que ele voltasse ao normal. Vocês não têm ideia de como meu coração ficou naquela hora.

Fiquei segurando o tubo de oxigênio durante toda a noite, olhava para o meu filho e me questionava como eu tinha feito aquilo, ao mesmo tempo pensava que só queria o melhor para ele e que em nenhum momento refleti que aquela atitude teria este resultado negativo. Foi uma longa madrugada, onde as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu me senti a pior mãe do mundo e só conseguia rezar e pedir que o meu Flavio voltasse a ser quem ele era, um menino esperto, sapeca, que não parava um minuto.

No outro dia, por volta das 8 horas da manhã, o pequeno acordou e eu fiquei esperando ansiosamente uma reação dele. Pronto! Ele levantou e já queria fugir do berço. Foi um momento emocionante e inesquecível na minha vida, onde também aprendi que nenhum remédio deve ser ministrado sem recomendação médica. Às vezes a intuição de mãe falha.

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Eu errei feio e não tenho vergonha de assumir isto, porque aprendi a não agir somente por impulso ou pela forma mais rápida de resolver um problema quando falamos em filhos. A culpa está em mim até hoje, mas a sensação de alívio e ter falhado por amor também ficou presente. Posso não ser uma perfeição, mas sou a melhor mãe que posso ser para o meu filho. Apesar dos acertos e erros, aprendo a cada dia com todos os desafios da maternidade. Essa sim é a vida real de uma mãe!”

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