70% dos estupros de crianças de 0 a 4 anos ocorrem dentro de suas casas
O levantamento brasileiro também apontou que 83% dos estupros de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos são cometidos por conhecidos das vítimas.
Desde que a pandemia causada pela covid-19 instaurou-se no Brasil, especialistas discutem sobre a fragilidade social vivida por crianças e adolescentes. O principal ponto constatado é que os dois grupos têm sofrido diferentes tipos de violência dentro de seus lares, mas precisam manter o isolamento social para se protegerem da doença pandêmica.
Diante deste cenário gradativamente negativo do último ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública liberou o ‘Anuário Brasileiro de Segurança Pública‘, no dia 15 de julho. Dados importantes foram apresentados, como o número de violência sexual com vítimas de até 13 anos ter saltado de 70% para 77%, de 2019 para 2020.
O documento também pontuou que, dentre as denúncias, 83% dos estupros de pessoas com 0 a 19 anos eram cometidos por pessoas conhecidas da vítima. E se apenas este dado já é preocupante por si, ele fica ainda mais angustiante no momento que o Anuário relata que, quando as vítimas são crianças de zero a quatro anos, 70% da violência sexual aconteciam dentro de seus próprios lares.
“As mortes violentas intencionais de crianças de 0 a 4 anos, em 43% dos casos, ocorrem também nas residências e esse percentual reduz à medida que avança a faixa etária das vítimas. Entre as vítimas de 0 a 4 anos, 80% tinham agressores conhecidos. Ou seja, esses crimes ocorrem em circunstâncias muito conhecidas das crianças, dentro dos seus núcleos familiares”, reforça o levantamento.
A missão das escolas na prevenção da violência sexual
Entre as principais ausências de recurso para o combate da violência sexual infantil, está o fechamento das escolas vivido no último ano. “Não há dúvidas de que as unidades escolares possuem o papel decisivo de desenvolvimento de competências e habilidades, assim como representam um importantíssimo espaço de convívio social, para que crianças e adolescentes possam manter contato frequente com outros saberes e distintos pontos de vista. Mas no aspecto específico da violência doméstica e/ou sexual, em suas diferentes formas, as escolas podem também ter um papel decisivo”, defende o artigo.
De acordo com o Anuário, a perda do contato presencial entre alunos e professores fez com que estes profissionais capacitados não conseguissem identificar casos de violências física, psicológica e sexual. Por exemplo, observar marcas pelo corpo ou mudanças comportamentais bruscas poderiam ser indícios de que algo não estava caminhando como o esperado na casa dos pequenos.
Um exemplo que comprova isso, citado no próprio levantamento, é a pesquisa realizada em 2001, pelo governo dos Estados Unidos. Das denúncias realizadas com cunho de violência sexual infantil, o maior número era feito por professores: 16,2% eram ocorriam por profissionais da educação enquanto que em torno de 15% eram constatadas por representantes do serviço social e do sistema de justiça do país.
Mães também estão sendo violentadas
Além dos ataques diretos às crianças, elas também foram alvos indiretos quando presenciaram suas figuras maternas em situações hostis. De acordo com a pesquisa “Visível e Invisível”, também realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Datafolha, em 2021, 60% das mulheres que sofreram violência doméstica têm filhos.
“Nos casos de violência mais graves “espancamento ou tentativa de estrangulamento’ ou “esfaqueamento ou tiro” esse percentual é de 74,3% e 79,9%, respectivamente”, reitera o documento. Assim, entende-se que o fechamento das escolas também é uma barreira a menos para crianças presenciarem situações traumáticas e tornarem-se alvo mais fáceis de agressões.