Quando um casal se forma, unem-se duas histórias diferentes. As duas pessoas podem até ser do mesmo bairro e classe social, vir de uma mesma turma desde a infância, mas a forma como foram educadas dentro de casa é única. No dia a dia do namoro e do casamento, as coisas se encaixam e a vida costuma seguir sem maiores contratempos. É quando chegam os filhos que essas bagagens vêm mais à tona e, eventualmente, causam divergências.
Em um mundo ideal, o casal teria conversado sobre todos os aspectos da criação de sua futura prole, do dia do nascimento à adolescência, antes de os filhos nascerem. Mas, na vida real, sabemos que não é assim e que as questões são debatidas na medida da necessidade do dia a dia mesmo.
De acordo com as especialistas ouvidas pelo Bebê.com.br, não é proibido que o casal discorde – isso pode e vai acontecer, já que cada um vai querer usar o modelo de criação de recebeu. “O que não pode é divergir na frente da criança, um desautorizar quando o outro a está orientando”, afirma a psicóloga Tatiana Oliveira Serra, que presta consultoria e treinamento familiar. “A criança precisa construir uma referência de autoridade em relação aos dois”.
A psicóloga e facilitadora de constelação familiar sistêmica Thais Silva, da Clínica Soulleve, acrescenta que é necessário as duas partes entenderem que os valores que trouxeram de suas famílias de origem não serão mais dominantes. “A partir do nascimento dos filhos, haverá uma nova forma de agir na família que se formou. O casal chegará a um ponto em comum, que pode até ser algo inédito”.
Discussões sobre educação devem ser só entre o casal
Não divergir na frente das crianças não significa empurrar o assunto para debaixo do tapete e fingir que não existe um problema. Apenas guardá-lo para um momento oportuno.
“Quem não concorda, seja a mãe ou o pai, vai se segurar e deixar rolar da forma como a outra parte está conduzindo. Depois, quando estiver só o casal, os dois falam sobre o que ocorreu e qual seria o meio-termo que deixaria ambos satisfeitos. Na cama, antes de dormir ou logo ao acordar, é uma boa oportunidade para resolver o problema”, orienta Thais.
Ela explica que a principal consequência negativa de não manter uma coerência diante da criança se reflete no comportamento infantil: “A criança passa a desobedecer os dois porque não sabe reagir às diferenças dos pais”. Se estiver rolando uma desobediência generalizada na sua casa, pense se não pode esse ser o motivo.
E se o casal não conseguir chegar a um acordo na maioria das vezes? “Em casos extremos assim, o ideal é procurar a ajuda de um treinamento parental. As diferenças serão acertadas com a mediação de um profissional”, recomenda Tatiana.
Quando ceder em uma discussão de casal sobre a criação dos filhos?
Vamos supor que você discorde demais da forma como seu parceiro ou sua parceira vê um passeio de seu filho ou sua filha com a escola; pode ser que você considere a criança muito pequena para ir, enquanto o outro lado do casal ache que tudo bem. Como saber se você deve ceder ou bater o pé para que seja feito da sua maneira?
A psicóloga Tatiana responde: “O bem estar da criança é o limite. Se houver indícios de que uma situação será prejudicial para ela, não pode ceder. A saúde e a segurança da criança vêm sempre em primeiro lugar”.
No exemplo do passeio com a escola, portanto, o ideal é analisar o todo. Haverá monitores suficientes para todas as crianças? O local é fechado? Há infraestrutura para crianças do tamanho de seu filho ou sua filha? A segurança é adequada? É um local que costuma receber crianças com esse perfil sem problemas? Se todas as respostas forem “sim” e você estiver só com aquela insegurança normal de mãe ou pai, respire fundo e ceda. Se alguma resposta for “não”, a outra parte é que deverá ceder.
Tanto Tatiana quanto Thais ressaltam que não existe algo como “cada um cede uma vez” ou “eu cedi na última vez, agora é você quem cede”. O que existe é o bem-estar pleno da criança e a orientação coerente. Se a negociação estiver difícil, fica novamente a dica: procurem o auxílio de terapia de casais ou terapia familiar para aparar as arestas mais resistentes.
Por fim, enquanto não houver uma decisão do casal, é melhor não passar nada para a criança. Ficaram de decidir sobre a compra de um game ou uma boneca, por exemplo, mas ainda estão debatendo entre vocês como resolverão? Nada de responder “A mamãe quer, mas o papai não está deixando” quando houver uma cobrança do pequeno sobre a questão. A resposta ideal é na linha de “A mamãe e o papai estão conversando e, quando decidirmos, falaremos pra você”.
Esse tipo de atitude, inclusive, auxiliará seu filho ou sua filha a participar do processo de tomadas de decisão com responsabilidade no presente e no futuro. “Quando os pais focam a criação do filho ou da filha no que é melhor para seu desenvolvimento, deixando de lado até as projeções que fizeram sobre determinadas situações, a adaptação ao mundo é mais simples. É evitada a rebeldia na adolescência. São criados cidadãos com autonomia e senso crítico”, resume Thais.