Por mais que as mães consigam sentir os “chutinhos” e movimentações do pequeno dentro da barriga, sempre fica a dúvida do que realmente o bebê consegue captar antes do nascimento e se as interações com ele durante este período de fato influenciam de alguma forma em seu desenvolvimento.
Quem nunca ouviu a recomendação de conversar com o filho para estreitar os laços com ele desde a barriga? Ou então a dica de colocar músicas leves para acalmá-lo no útero?
Apesar da vida intrauterina ainda ser cercada de mistérios que os estudiosos continuam a investigar, algumas constatações já podem ser feitas sobre o que realmente os bebês ouvem antes do parto – e estamos aqui para sanar estas curiosidades! Confira as 7 principais dúvidas dos pais respondidas por uma especialista:
1. Os bebês só ouvem a partir do terceiro trimestre
Mito. Por volta da nona semana, o aparelho auditivo do bebê já começa a se desenvolver e, a partir de 18 semanas, ele está completamente formado – inclusive com a cóclea (responsável pela tradução das ondas sonoras) desempenhando sua função. É neste período, portanto, que o pequeno consegue escutar os primeiros sons.
“Em seguida, com 24 semanas, há a união da parte interna e externa do ouvido, o que faz com que a audição fique mais sensível e o bebê perceba melhor os sons”, acrescenta Flávia do Vale, ginecologista obstetra especialista em Medicina Fetal e Ultrassonografia.
2. Os bebês escutam de forma diferente?
Verdade. Imagine que você está mergulhando em uma piscina e ouve alguém chamar o seu nome fora dela. O som sai abafado e não tão nítido, certo? É de forma parecida que o bebê escuta dentro do útero, por estar imerso no líquido amniótico e pelas próprias camadas de gordura e da barreira física dos órgãos da mãe.
Inclusive, segundo a médica, os ruídos do corpo materno são o que o feto mais ouve antes do nascimento. “Ele escuta os barulhos do estômago, do intestino, as batidas do coração…”, comenta ela.
3. Os bebês ouvem melhor alguma tonalidade?
Verdade. Estudos físicos das ondas sonoras mostram que os sons graves atravessam melhor as barreiras e chegam mais forte que os agudos, devido à vibração que provocam no meio líquido. O mesmo acontece com o pequeno na barriga da mãe. “Sabe-se que o bebê escuta bem a voz mais grave, como a do pai. É capaz inclusive de se assustar com sons muito altos”, explica Flávia.
4. Eles reconhecem a voz dos pais?
Verdade. Apesar dos tons mais graves chegarem mais nítidos, isso não significa que, se a voz da mãe for mais aguda, o pequeno não escutará, viu? “Existem estudos que mostram que o bebê é capaz de reconhecer a voz da mãe depois que nasce e se acalmar com aquilo que ouvia dentro da barriga”, pontua a obstetra.
Cada vez mais artigos constatam que o feto é capaz de diferenciar tipos de sons e reconhecer vozes familiares após o nascimento. Em um deles, da Universidade de Queen, no Canadá, o mesmo poema recitado pela mãe durante o terceiro trimestre da gestação foi repetido ao recém-nascido que, ao ouvir o som repetido, apresentou reações como a diminuição dos batimentos cardíacos e relaxamento.
5. Falar com o bebê dentro da barriga ajuda a criar vínculos?
Verdade. De fato, conversar com o pequeno dentro da barriga é inclusive uma recomendação de muitos obstetras. Mas como esclarece Flávia, isso não se deve apenas ao estímulo sonoro.
“A mãe passa muitas informações químicas e hormonais para o bebê. Tudo o que gera nela uma sensação de conforto e bem-estar, acaba sendo transmitido para o filho, que guarda uma memória daquilo e o vínculo vem a partir daí”, diz.
Sendo assim, quando a mãe e o pai conversam com o bebê em um tom afetuoso e carinhoso, cria-se uma sensação prazerosa que é memorizada pelo pequeno e que pode ajudar na criação de vínculos.
6. Músicas ajudam no desenvolvimento intelectual do bebê?
Há controvérsias. Alguns estudos falam sobre estimular o bebê com músicas mas, de acordo com a ginecologista, não existem provas o suficiente para constatar que esses bebês teriam maior QI ou desenvolvimento intelectual.
Por outro lado, há pesquisas que mostram efeitos positivos no comportamento de crianças que foram expostas à musicoterapia durante a gestação.
“Recomendo que os pais coloquem músicas calmas no ambiente, mas não tão próximo da barriga da mãe, porque o bebê passa mais de 70% do tempo dormindo. Assim, se você encosta um fone diretamente na barriga ou faz um estímulo específico, pode interferir no padrão de sono do bebê”, alerta a médica.
7. Reproduzir os sons de dentro da barriga ajuda o bebê a se acalmar depois que nasce?
Há controvérsias. Muito se fala sobre os ruídos brancos, que são sons de frequência regular, mas imprevisíveis, e que funcionam como “camufladores” de outros barulhos. Eles vão desde o ruído da chuva ou do secador de cabelo até o próprio som do útero e dos batimentos cardíacos da mãe.
Como estes últimos estímulos são registrados pelo bebê quando está dentro da barriga – e gravados na memória como momentos de tranquilidade -, é possível que de fato tragam a mesma sensação gostosa ao pequeno depois do nascimento.
“Alguns estudos reproduzem esses ruídos brancos e mostram que o bebê é capaz de se acalmar. Apesar da justificativa poder ser a rememoração do que ouviu no útero, é possível também que seja porque os sons distraem a atenção e acabam o acalmando”, reitera a doutora. Inclusive por isso, os “barulhinhos” são usados às vezes para ajudar no sono da criança.