Mesmo se você ainda não é mãe ou pai, já deve ter ouvido falar – ou até tido na infância – o famoso “sapinho”. O probleminha é recorrente nas turmas da pré-escola e faz com que as professoras recomendem o afastamento por um tempo do pequenino que estiver com as bolinhas na boca para que não contagie os outros.
Mas a verdade é que, com o passar dos anos, outras queixas aparecem e quase não observamos mais casos da doença entre os mais velhos, o que nos faz questionar se ela é realmente mais comum em uma faixa etária do que nas outras.
Nisto, a odontopediatra Rose de Pietro prontamente responde: “O ‘sapinho’ é muito mais comum nos bebês do que nos adultos”. Como ele costuma se aproveitar da baixa resistência imunológica, sua maior frequência é entre os pequenos até dois meses de vida, mas é possível que apareça também em idosos, pela imunidade muitas vezes comprometida.
Mas afinal, o que é o “sapinho”?
“Ele nada mais é que a candidíase, ou a Candida albicans, como é conhecido cientificamente”, afirma a odontopediatra. Ela acrescenta que se trata de uma infecção causada por fungo que afeta a mucosa bucal e que geralmente provoca pequenas bolinhas esbranquiçadas no interior da bochecha, na língua e no céu da boca.
Como as lesões podem ser doloridas, elas costumam dificultar a alimentação e ocasionar sintomas bem parecidos em crianças e bebês. “Em ambos, a doença pode provocar salivação, perda do apetite e, raramente, febre”, pontua a doutora.
“Mas é a mesma coisa que herpes?”, você pode estar se perguntando. Na realidade, apesar dos sintomas semelhantes – incluindo a salivação e a dificuldade para deglutir – as manifestações das duas são bem diferentes. “A herpes não forma as placas brancas do ‘sapinho’, mas sim bolhinhas e pontos bem descritos e avermelhadas em volta dela”, esclarece Rose.
Quais são suas causas?
Além da imunidade que não está totalmente desenvolvida, a maior frequência da doença em bebês se explica pelo fato de ela poder ser contraída no próprio parto normal, se a vagina da mulher estiver com o agente infeccioso.
O comportamento dos pequenos de levar objetos à boca também é terreno propício para o aparecimento de “sapinho”. “Por isso, não higienizar o bico da chupeta ou a da mamadeira de forma adequada pode levar à contaminação”, explica a odontopediatra.
Outra polêmica gira em torno de beijar a criança na boca e se isto pode fazer com que ela adquira a infecção – no que Rose responde que sim. “A doença é transmitida pela saliva e pelo contato íntimo desprotegido. Assim, beijar o filho na boca pode transmitir, assim como assoprar a comida para esfriá-la para o pequeno ou experimentá-la na mesma colher que a criança”, alerta a especialista.
Como é feito o tratamento?
Se os pais identificarem as bolinhas brancas na boca do filho, o ideal é procurar a orientação do odontopediatra ou pediatra da criança. Na maioria dos casos, o tratamento é feito com pomadas antifúngicas, que podem ser aplicadas na região afetada da boca, na parte interna das bochechas e na língua, mas Rose indica também outra forma de alívio caseiro para os sintomas.
“Às vezes é interessante pegar uma gaze úmida, embebida em água filtrada, enrolar no dedo e friccionar cuidadosamente – nada de esfregar forte! – no fundo da boca. Vale usar também uma escova de língua, mas não é recomendado tentar tirar toda a placa branca de uma vez só”, indica.
E se o “sapinho” aparecer enquanto o pequeno ainda se alimenta de leite materno? Segundo a doutora, não existe um protocolo de interromper a amamentação. “Sugiro realizar a higiene do bico do seio com água e sabão e enxaguar bem antes do aleitamento, além de esterilizar a chupeta e a mamadeira”, diz ela.
Dá pra prevenir?
Sabemos que é praticamente impossível fazer com que os pequenos não levem objetos à boca ou a própria mão depois de engatinhar ou tocar em superfícies. Mesmo assim, alguns cuidados de higiene podem ajudar a prevenir.
“As principais medidas incluem higienizar a chupeta, a mamadeira e o mordedor, principalmente se um deles cair no chão; limpar o bico do seio antes de amamentar; utilizar colheres limpas ao oferecer o alimento para a criança; evitar assoprar a comida; e não beijar o bebê na boca”, lista Rose.