Não faltam estudos comprovando os benefícios do brincar para os pequenos. Aprimorar os sentidos, estimular a criatividade, treinar a coordenação motora… A lista é extensa, mas nem tanto se fala do papel do pai neste processo lúdico – e é justamente isto que a pesquisa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, buscou investigar.
Embora existam similaridades na forma com que os cuidadores interagem com seus filhos, o artigo, em colaboração com a Fundação LEGO, mostrou que a figura paterna tende a se engajar mais em brincadeiras físicas, optando por atividades como correr atrás da criança, colocá-la em suas costas e fazer cócegas.
E são exatamente estas brincadeiras que ajudam os pequenos a regular melhor os seus sentimentos e comportamentos no futuro. As evidências coletadas nos últimos 40 anos por estes estudiosos levanta a hipótese de que momentos de brincadeira com o pai podem trazer uma série de vantagens no autocontrole dos pequenos.
“A brincadeira física cria diversão, situações empolgantes nas quais as crianças precisam colocar em prática a autorregulação”, explica Paul Ramchandani, professor do Brincar em Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade de Cambrigde. “Você pode ter que controlar sua força, aprender quando as coisas vão longe demais (…)”, acrescenta ele.
“É um ambiente seguro no qual as crianças podem praticar suas respostas. Se elas reagirem da maneira errada, pode ser alertadas, mas isto não é o fim do mundo – e da próxima vez podem lembrar de se comportar de forma diferente”, relata o especialista.
Publicado no fim de junho, o estudo mostra também como estas habilidades podem ser importantes no desenvolvimento das crianças, ainda mais quando pensamos em suas atitudes na escola. De acordo com os acadêmicos, os filhos que passavam um tempo significativo brincando com seus pais eram menos prováveis de apresentar hiperatividade ou problemas comportamentais, além de mostrarem melhor desempenho controlando a agressividade e estarem menos propensos a usar a força para lidar com desentendimentos.
“É importante não superestimar o impacto do brincar entre pai e filho, já que existem limites para o que a pesquisa consegue nos dizer, mas parece que as crianças que têm uma quantia significativa de períodos de brincadeira com o pai mostram benefícios como um grupo”, constata Ramchandani.
De acordo com o Dr. Ciara Laverty, da Fundação LEGO, a descoberta abre espaço para pensarmos em mudanças na forma com que nossas políticas sociais são organizadas. “No âmbito da política, isto sugere que precisamos de estruturas que deem aos pais, assim como às mães, tempo e espaço para brincar com seus filhos durante estes críticos primeiros anos”, diz.
“Mesmo hoje, não é incomum para os homens que levam seus filhos para brincar em grupos de crianças, por exemplo, que percebam que são os únicos pais no lugar. Uma mudança cultural está começando, mas ela precisa acontecer ainda mais”, completa ela.
Mas e como ficam as mães solo nesta história? Embora os aspectos positivos da brincadeira com o pai tenham sido levantados, os autores deixam claro que eles também podem ser adquiridos pelas mulheres. “Uma das coisas que nossa pesquisa pontua é a necessidade de variar os tipos de brincadeiras que as crianças têm acesso, e mães podem, claro, desempenhar brincadeiras físicas com os pequenos também”, afirma o professor.