Educação com respeito: e quando as pessoas do entorno não colaboram?
Vale a reflexão: os outros não te apoiam porque são “cabeças-duras” ou porque você está dizendo ter um resultado que não existe?
Com toda a informação disponível hoje em dia, felizmente para muitos pais educar seus filhos com respeito se tornou uma prioridade, assim como deve ser. Eles querem criar um ambiente amoroso e acolhedor, em que as crianças possam crescer e se desenvolver em um ritmo natural e saudável e que se sintam amadas e ouvidas. No entanto, nem sempre é fácil manter essa abordagem quando outras pessoas no entorno não colaboram, não é mesmo?
Imagine que uma mãe tenha uma visão mais respeitosa das necessidades da criança, mas o pai e/ou os familiares não veem isso da mesma forma e não respeitam as orientações dessa mãe. A situação pode se tornar muito desafiadora para a mulher. É possível que ela se sinta isolada e incapaz de criar o ambiente de apoio que deseja para seus filhos.
Além disso, a falta de cooperação pode levar a conflitos e tensões dentro da família, o que tende a afetar negativamente o bem-estar emocional e psicológico de todos os envolvidos. Então, o que pode ser feito nesses casos?
Reflexão necessária
O primeiro ponto que eu gostaria de trazer é: essa mãe está realmente oferecendo uma educação respeitosa ou está, na verdade, sendo permissiva e usando a fala da “educação respeitosa” como uma desculpa para suas ações e sua falta de confiança?
Porque, pela minha experiência, isso acontece com frequência. O que ela chama de “educação respeitosa” ou “forma gentil” de fazer as coisas não passa da sua falta de responsabilidade quanto à educação da criança, que começa a decidir o que vai ou não acontecer e, sem limites, faz o que bem quer. E aí, a falta de apoio da família vem da falta de resultados e da observação da falta de educação da criança. Porque sim, é muito difícil alguém ver resultados e assim mesmo continuar a ser contra um direcionamento eficaz, entende?
Esse comportamento inicial de “ser do contra”, a propósito, é bem comum, principalmente vindo do pai. Ele torce o nariz, diz que “no tempo dele não tinha nada disso”, que “é bobeira estudar”, mas, conforme as consequências aparecem, acaba percebendo que existe outra maneira de se educar e adere à forma que traz mais resultado e gera maior acolhimento à criança.
Então, se pergunte: as pessoas realmente não te apoiam porque são “cabeças-duras” ou porque você está se enganando dizendo que tem um resultado que não existe?
“Você realmente consegue direcionar seu filho para o que é preciso ser feito ou, no final, ele acaba fazendo o que quer, por você ter medo de rejeição e/ou de não ser amada?”
Lembrei do que ouvi de uma mãe que passou por essa situação. Ela entendeu que o problema era com ela e não com os outros quando percebeu que esperar amor e aprovação da criança em troca de fazer todas as suas vontades não era amor pelo filho. Era sobre as necessidades dela.
Se fosse amor mesmo, ela faria o que fosse preciso, com a certeza de estar fazendo o que era certo, mesmo que isso significasse a criança não gostar tanto dela assim. Essa mãe passou a direcionar o filho buscando o melhor para a educação dele, e não para ser aprovada ou amada. Percebe a diferença de como a sua intenção muda a forma com que você direciona a criança?
A mudança começa no adulto
Se você se identificar e se for o caso, pode ser difícil aceitar sua limitação. Mas saiba que esse é o primeiro passo para a mudança. Não dá para fazer nada diferente enquanto não se enxerga o problema. Nesse caso, quando conseguir aceitar que a mudança deve começar por você, sugiro que procure terapia para entender suas crenças nucleares (a forma como você se vê) e para poder trabalhar sua confiança e permissividade.
Sua confiança está bem, obrigada? Então, você é uma mãe de sorte perdida no meio desse povo. A primeira coisa a se fazer é falar com o pai e os parentes para explicar sua abordagem de educação respeitosa e pedir que eles te apoiem. É importante que você seja honesta e objetiva, mas também respeitosa, afinal, não é sobre poder (“o filho é meu e eu quero assim”) ou sobre você (o foco é nas necessidades da criança, não é mesmo?).
Compartilhe seus conhecimentos sobre os benefícios da educação respeitosa e dê exemplos de como você já conseguiu ser eficaz para ajudar a criança a crescer e a se desenvolver de maneira saudável, amorosa, mas com limites.
Se o diálogo não funcionar, tente envolver outras pessoas que apoiam sua abordagem, como amigos, professores, psicólogos ou outros profissionais. Elas podem ajudar a criar um ambiente de apoio para seus filhos, mesmo quando outras indivíduos não estão cooperando.
Além disso, não se abale por não ter a aprovação dos outros. Eu sei que, no papel, é mais fácil do que na prática e que, se tivesse apoio, seria muito mais fácil. Mas lembre-se de que não é sobre você ou sobre os outros, é pela criança. E crianças se adaptam ao seu cuidador, o que significa que você terá o melhor delas, independentemente do que os outros digam ou façam.
Então, foque no que pode ser feito. Ensine a criança a se autorregular, a entender o que pode ou não ser feito e seja a calma de que ela precisa, porque é isso que importa no final do dia, não a opinião de quem não faz o mínimo por ela.
Vale também se questionar o porquê de essas pessoas estarem em sua vida. Novamente, é mais fácil na teoria do que na prática, mas faz parte da nossa cultura tolerar insultos e desrespeito “porque é família”, e isso nunca deveria ser normalizado. Afinal, exatamente por se tratar de uma família, este deveria ser um ambiente de segurança e apoio mútuo, não uma competição para ver quem se ofende mais. Os relacionamentos precisam ser cultivados diariamente por ambas as partes, e se uma delas não está disposta a colaborar, por que você ainda se submete a isso?
Não preciso saber a resposta, mas é importante que você reflita sobre isso e tome medidas para se proteger e proteger seus filhos de relacionamentos disfuncionais, porque, por mais que eles se adaptem a cada cuidador, é possível que o comportamento indevido do adulto cause confusão na criança e isso pode induzi-la a “escolher” quem facilita a vida dela. Se precisar, não hesite em buscar ajuda profissional para lidar com essas questões.
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