Aprender a Sentir, Aprender a Ser

Cecília Rocha, ou Ciça Rocha (@ceciliacicarocha), é psicóloga e arteterapeuta, autora do livro A Casa de Pedro, mãe do Heitor e do Henrique e madrasta do Enzo.
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Ver as crianças se permitindo sentir e se expressando é algo grandioso!

Principalmente para uma geração como a nossa, que aprendeu a esconder e a reprimir seus sentimentos

Por Ciça Rocha
22 dez 2023, 16h15
 (d3sign/Getty Images)

Esses dias, em um passeio com meu caçula, Henrique, percebi que algo mexeu com ele e falei: “Filho, parece que você ficou triste quando aconteceu aquilo…”. Ele logo respondeu: “Não, mãe. Não fiquei triste. Fiquei com raiva.”

Um diálogo tão simples, mas que encheu meu coração de alegria e de alívio. Não, não fiquei alegre e aliviada por ele ter sentido raiva, não é isso, mas era uma espécie de alegria aliviada por ele poder identificar o que realmente sentia naquele momento e conseguir nomear aquela emoção sem medo nem julgamento.

Ver nossas crianças se permitindo sentir e escolhendo expressar é algo grandioso demais para uma geração que aprendeu a esconder e a reprimir seus sentimentos.

“Fomos ensinados a expressar emoções ‘boas’ e reprimir ou esconder emoções ‘ruins'”

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Crescemos permeados por rótulos e definições sobre o que é adequado sentir e o que é feio e não deve ser permitido entrar no nosso corpo. Emoções sufocadas e amordaçadas, que se transformam em culpa e um certo estranhamento de si mesmo. Claro, se sentir raiva é feio e eu sinto raiva às vezes ou até muitas vezes, então sou mau e não mereço ser amado.

Certa vez, atendi uma família que me procurou, pois pai e filho tinham muita dificuldade de aproximação e de relacionamento. O menino não se sentia amado, admirado nem compreendido, mas os pais sempre faziam questão de dizer o quanto o admiravam e posso dizer que eram realmente acolhedores.

Em uma sessão individual, o garoto me contou que sentia muitas coisas que não dizia, escondia suas emoções e apresentava para os pais uma versão que não considerava ser ele mesmo. Ou seja, os pais poderiam demonstrar a admiração que fosse, que ela nunca chegaria ao seu peito, pois ele não se sentia genuinamente verdadeiro.

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Filho-conversando-com-a-mãe
(Catherine Falls Commercial/Getty Images)

Costumo dizer que a honestidade emocional é a base para um desenvolvimento saudável. Ela deve ser o chão de casa para pisarmos passos firmes, fortes e confiantes. Então, é urgente trazermos para nossas crianças, desde cedo, o aprendizado de que não existem emoções certas e erradas, boas e más, bonitas e feias. Existem emoções e todas elas têm seu lugar e sua função em determinada situação de nossa vida.

Nossas crianças precisam entender que estão sujeitas a sentir diferentes emoções e que isso é normal, legítimo e saudável. Precisam desde cedo transitar por esse mundo das emoções de uma forma livre, aberta e serena.

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Abrir espaço para nossos filhos sentirem tudo sem crítica nem julgamento é uma revolução dessa nova geração. E é lindo ver as crianças identificando suas emoções!

Que possamos ajudá-las nesse processo desde cedo!

Que elas consigam perceber que não são menores e nem erradas por sentir qualquer coisa que seja!

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Que possam aprender que não são o que sentem.

Que possam sentir em segurança.

Que possam expressar sem medo.

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Que possam ser amigos de suas emoções e, com isso, de si mesmas.

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