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Quando o obstetra vira pai

Por Coluna
Dr. Rodrigo da Rosa Filho é ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, diretor e sócio-fundador da clínica Mater Prime, de São Paulo
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Os 3 pilares essenciais para uma gestação saudável

Obstetra fala da importância do pré-natal, da alimentação e da prática de atividades físicas para as mulheres levarem os nove meses sem complicações.

Por Da Redação
8 Maio 2018, 12h15

Enquanto minha pequena Giovanna continua crescendo no ventre de sua mãe (ela completou 19 semanas), minha esposa e paciente tenta seguir os três pilares para ter uma gestação saudável. Sempre gostei de dividir a responsabilidade do sucesso da gravidez com o “casal grávido”, pois dois desses três pilares básicos dependem do pai e da mãe e o outro depende do obstetra.

O primeiro refere-se a um pré-natal de qualidade. O acompanhamento médico é fundamental para identificar possíveis causas de partos prematuros e complicações na gestação, além de estabelecer a prevenção. E quando isso não for possível, realizar o tratamento mais adequado para cada situação.

Sabemos que a gestante apresenta maior risco de ter infecções urinárias, ginecológicas e orais, alterações do sistema digestivo, hipertensão arterial específica da gravidez, entre outras condições. Quando todas essas situações são identificadas a tempo, a chance de complicações é menor. O acompanhamento pré-natal não é apenas realizar ultrassons seriados, mas também fazer o controle de todas essas questões.

O segundo pilar é a alimentação. A dieta da gestante deve ser balanceada, com diminuição no consumo de carboidratos simples – como açúcar, farinha branca etc. – e o aumento da ingestão de proteínas e gorduras boas. Devemos esquecer aquela famosa frase de que “gestante come por dois”. Ela deve ingerir cerca de 300 calorias a mais do que estava habituada e, no final da gestação, 400 calorias.

Diversos estudos recentes mostraram que o consumo de açúcar durante a gravidez predispõe os filhos gerados a terem diabetes e obesidade no futuro – inclusive na adolescência. Ou seja, não devemos nos preocupar somente com o ganho de peso ou o risco de diabetes gestacional, pois o risco para os bebês independe do peso da mãe ou da presença da enfermidade.

É claro que a gestante sente mais fome e tem desejos por comer doces e alimentos calóricos – como pizza, sanduíches, bolo, pão ou chocolate -, mas o que vale é sempre o bom senso. E aí entra o papel do pai nesse contexto, por isso citei o “casal grávido” acima. Certamente, o controle da alimentação vai ficar mais fácil se o pai também seguir uma dieta saudável. Eu sempre aviso para minhas pacientes que “o mundo não vai parar” e vão continuar oferecendo alimentos gostosos e nada nutritivos para elas, mas cabe a cada uma fazer com que as “escapadas” sejam apenas exceções. E muitas vezes o maior vilão é o companheiro, que não colabora. Sejam parceiros!

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E o terceiro componente para uma gravidez saudável está na prática de atividade física. Futuras mães que praticam exercícios têm mais disposição, menor risco de hipertensão e diabetes, melhor controle do peso e maior chance de ter um parto normal bem-sucedido. Toda gestante que não apresenta contraindicações – como colo curto, placenta baixa, sangramentos, entre outras – terá benefício por se manter ativa.

Recomendo diversas modalidades de atividade, sendo todas sem grande impacto ou com baixo risco de traumas e lesões ortopédicas. Hidroginástica, natação e musculação também estão liberados. Mas vou destacar o pilates, pois acredito que há mais vantagens além da própria atividade física.

Antes de enumerar os benefícios do pilates, vale lembrar que o método é constituído por seis princípios fundamentais que, quando são bem orientados por um profissional qualificado, torna o período gestacional mais confortável e tranquilo, proporcionando maior consciência corporal para a gestante.

Para que a futura mãe tire o máximo de proveito durante a prática, é fundamental que ela aprenda a manter a concentração em cada exercício executado. O controle dos movimentos deve ser realizado pela mente – corpo e mente devem trabalhar juntos! E é essencial que a mulher entenda qual objetivo deve ser atingido em cada exercício, quais movimentos precisam ser realizados e os músculos que devem ser ativados de forma isolada e/ou integrada. Quanto melhor ela compreender, maior será sua precisão – que é o que diferencia o pilates de outras atividades físicas.

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Outro princípio de extrema importância é o centro, que se refere ao centro de gravidade do corpo e os músculos do “core” – é a sinergia entre abdômen, coluna e pelve. Quando os músculos dessa região estão em perfeito equilíbrio, capazes de contrair e relaxar adequadamente, obtemos estabilidade corporal e alinhamento axial. Isso ajuda a minimizar dores indesejadas, desajustes posturais e torna os movimentos dos membros mais coordenados e interligados.

E é através da respiração que todos esses princípios se convergem. A respiração apropriada durante o exercício auxilia no relaxamento muscular, evita tensões desnecessárias, diminui o estresse e, consequentemente, reduz a pressão arterial, melhora a circulação sanguínea, diminui o risco de doenças cardiovasculares e melhora a capacidade respiratória. Logo, a gestante que pratica pilates regularmente apresenta menos edema nos membros inferiores, cãibras e dispneia, além de melhorar a circulação da placenta, responsável por levar oxigênio e todos os nutrientes para o bebê.

O pilates fortalece também os braços, facilitando a mamãe a carregar o bebê e a apoiá-lo durante a amamentação. As praticantes da modalidade apresentam melhor autoestima e sono mais reparador e com melhor qualidade. Assim, elas têm menor propensão ao desenvolvimento do embotamento afetivo, como depressão.

É importante ressaltar que não há um momento ideal para iniciar a prática do pilates. Mesmo as mulheres que nunca fizeram atividade física podem iniciar durante a gestação; já aquelas que já são adeptas da prática devem evitar exercícios mais pesados durantes os três primeiros meses de gestação e, após esse período, realizar as séries respeitando suas limitações – e, claro, sempre acompanhadas por profissionais capacitados.

Durante o período pós-parto, o pilates pode ser praticado após 15 dias do parto normal e de 45 a 60 dias após a cesárea, porém sempre após a liberação médica.

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Até o próximo texto, no qual falarei das mudanças psicológicas que acontecem durante o segundo trimestre da gestação. O corpo muda, a mente se transforma!

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