No final do mês de março, uma cena da novela “O Outro Lado do Paraíso”, exibida pela Rede Globo, causou polêmica. A personagem Karina (interpretada por Malu Rodrigues) recebeu orientações equivocadas do médico Samuel (interpretado Eriberto Leão). O profissional disse para a mãe que tinha dado à luz há poucos dias que o leite dela era insuficiente e, por isso, outra pessoa deveria amamentar o seu bebê.
O fato é que a amamentação cruzada é contraindicada pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em resposta ao ocorrido, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou uma nota de esclarecimento para falar sobre os prejuízos que a prática pode trazer para a saúde das crianças.
Na última quarta-feira, 04, a novela voltou a abordar a questão, como forma de se retratar pelas informações erradas transmitidas anteriormente em horário nobre. Na nova cena, Suzy (Ellen Rocche) explica para Adinéia (Ana Lucia Torre) que, apesar de ter amamentado o filho de outra pessoa por alguns dias, resolveu seguir a conduta correta.
“Movido pela generosidade, eu acabei me equivocando. A família da Nádia é tão próxima da nossa que eu acabei oferecendo o leite da Suzi”, revelou Samuel. A partir disso, o casal explica que o jeito certo de ajudar outros bebês é fazendo a doação do leite materno em bancos que analisam e pasteurizam o alimento.
Riscos
A amamentação cruzada não deve ser considerada uma alternativa, ainda que a criança seja da mesma família da lactante. “AIDS, hepatite B e outras patologias podem ser transmitidas pelo leite materno. Existe uma janela imunológica de 2 a 3 meses: mesmo que a pessoa faça o exame e o resultado dê negativo, ela pode estar contaminada”, revelou Moises Chencinski, médico membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo, criador e incentivador do movimento “Eu Apoio o Leite Materno”.
Na cena que foi ao ar em março, outro ponto que chamou a atenção das pessoas foi o fato do profissional de saúde dizer para a mãe que o leite dela era insuficiente. “Não existe leite forte ou fraco. Em determinado momento, pode ter uma disfunção por alguma característica específica do contexto – como pega inadequada ou presença de freio lingual curto. Mas só tem um jeito de resolver essa questão: vendo a mãe amamentar e detectando os possíveis problemas. Isso é feito ainda na maternidade e na primeira consulta com o pediatra”, acrescentou o médico.