Estamos há três meses do verão, época de calor, festas e… pernilongos! Agora, há uma probabilidade de alerta não só para as gestantes, mas também para os homens. É que cientistas do Instituto Evandro Chagas, no Pará, acabam de observar que o zika vírus pode afetar os espermatozoides de camundongos.
Ao testarem nos animais o efeito da vacina atualmente em desenvolvimento por eles, os pesquisadores notaram que, nos desprotegidos, houve um ataque ao sistema reprodutor promovido pelo vírus. “A infecção causou atrofia nos testículos deles e uma redução significativa no número de espermatozoides, que também tiveram queda quase total da mobilidade, sinais que indicam esterilidade”, comenta Pedro Vasconcelos, virologista do Instituto Evandro Chagas, no Pará, e autor do trabalho. O achado inédito foi publicado na Nature Communications na última sexta-feira, 22.
Já os camundongos machos vacinados durante a pesquisa mantiveram o gameta e sua fábrica em segurança. Mas ainda é cedo para dizer que o efeito é o mesmo nos humanos. “Precisa ser investigado, mas diversos estudos já demonstraram que o zika permanece no esperma do homem infectado por até seis meses depois do contágio”, relaciona Vasconcelos. O grupo analisa agora o efeito em macacos, ainda sem achados conclusivos.
O lado positivo
Junto com a descoberta, o instituto paraense divulgou mais resultados da vacina em dose única produzida por eles, em parceria com a Universidade do Texas. Primeiro, os efeitos já observados na proteção de ratos adultos e de gestantes e fetos foram confirmados.
Além disso, a vacina se mostrou eficaz pela primeira vez na imunização de macacos adultos. Falta saber se o efeito protetor é o mesmo para os testículos dos machos dessa espécie e para as fêmeas que engravidarem – o que já está sendo apurado pelos cientistas.
Foi nos macacos, aliás, que o zika foi observado pela primeira vez, nos anos 1940, em Uganda. E são eles uma etapa do caminho importante para que a versão para humanos fique pronta – a expectativa é que ela seja colocada à prova em 2019. É preciso, primeiro, que o imunizante se mostre eficaz nos símios.
“A vacina para humanos depende de uma série de testes e procedimento que levam algum tempo, mas a previsão da Fundação Oswaldo Cruz, que é quem produzirá as doses, é que ela esteja disponível a partir do final de 2021”, aponta Vasconcelos.
Participaram dessa bateria de pesquisas também a Universidade de Washington e o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH).