Decretada emergência de saúde pública internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 23 de julho, a monkeypox, mais conhecida como varíola dos macacos, segue infectando pessoas ao redor do mundo. No fim do mês passado, casos infantis também passaram a ser relatados em países como Estados Unidos, Holanda, França, Espanha e, inclusive, Brasil.
O Governo de São Paulo confirmou, até agora, cinco casos de crianças contaminadas no estado, e a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador divulgou no último dia 8 a contaminação de uma criança de 2 anos. Diversos casos suspeitos ainda estão sendo analisados pelo Brasil.
De acordo com o CDC, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (agência dos Estados Unidos), no total, os registros apontam para mais de 38 mil casos (adultos e pediátricos) espalhados por dezenas de territórios.
Os riscos da monkeypox em crianças
Por enquanto, o histórico fora de países em que a doença não é endêmica (como acontece em algumas regiões da África) é insuficiente para que a comunidade médica entenda de forma integral como os pequenos são afetados.
Ainda assim, como eles têm o sistema imunológico ainda em formação, sabe-se que “de modo geral, as crianças abaixo dos 5 anos, quando acometidas por doenças infecciosas, têm maior risco de ter a doença grave”, alerta Normeide Pedreira dos Santos Franca, especialista em pediatria e infectologia pediátrica, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Além disso, com base nas informações de surtos que aconteceram em territórios africanos, como o do Zaire, de 1985, sabe-se que crianças menores de 4 anos tendem a ser mais vulneráveis ao desenvolvimento da forma grave da doença.
Vale considerar, porém, as condições sanitárias a que se tem acesso e que podem diminuir o risco de contrair infecções secundárias, por exemplo, bem como o subtipo da doença que está em circulação no mundo e que se acredita ser mais brando que o que circula na Bacia do Congo.
Complicações possíveis
Em artigo publicado no início de agosto no periódico científico The Lancet, intitulado “Surto de Monkeypox: riscos para crianças e grávidas”, os pesquisadores afirmam que “em comparação a adultos saudáveis, complicações são mais frequentes em crianças e imunossuprimidos, com maior risco de infecção bacteriana secundária, sepse, ceratite [uma inflamação no olho], complicações respiratórias em decorrência de abcesso faríngeo e pneumonia, ou encefalite”.
O artigo chama a atenção ainda para o surto da doença que aconteceu em 2003 nos Estados Unidos, em que os únicos dois casos graves observados foram de crianças.
Como prevenir e o que fazer em caso de suspeita
A transmissão da varíola dos macacos acontece pelo contato direto com as lesões de pele da pessoa infectada e das gotículas de saliva, o que pode se dar também por meio de objetos de uso pessoal (talheres, roupa de cama, toalha, entre outros).
Dessa forma, a infectologista pediátrica Normeide alerta para a importância de evitar o contato com os doentes e com seus objetos de uso pessoal, além de fazer a higiene frequente das mãos. “Existem outras medidas, como vacinação, uso de medicação antiviral – não disponíveis no Brasil – e de imunoglobulina”, explica a especialista.
Além disso, é preciso ficar atento a sinais como erupções de pele e prostração. Caso a criança apresente esses sintomas, é necessário buscar avaliação profissional para que o diagnóstico seja feito.
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O tratamento da criança com varíola dos macacos
A especialista lembra que “a doença é autolimitada (geralmente, se resolve sozinha), e que o tratamento deverá ser direcionado às complicações”.
Se confirmada a doença, portanto, poderão ser prescritos remédios para lidar com a febre, se for o caso, além das recomendações básicas de boa alimentação, sono adequado, ingestão de líquidos e cuidado com as lesões de pele para evitar outras contaminações. Caso haja complicações, o tratamento será direcionado a partir da análise clínica.