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Tudo sobre lábio leporino, malformação congênita que é tratável

Conheça em detalhes as causas e os tratamentos para esse problema mais frequente do que se imagina entre as crianças brasileiras.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 3 set 2019, 15h26 - Publicado em 31 ago 2017, 18h34

A fenda no lábio e no céu da boca do bebê pode assustar os pais, que geralmente ficam sabendo que o filho tem o problema quando ele ainda está na barriga da mãe. E isso ocorre com relativa frequência: é a segunda malformação mais comum entre os recém-nascidos.

“A fissura labiopalatina, nome científico da condição, afeta uma a cada 650 crianças no Brasil, índice considerado alto para uma doença congênita”, explica Marco Aurélio Gamborgi, cirurgião plástico do Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Palatal, em Curitiba.

Como o nome indica, trata-se de uma fissura, que se abre no céu da boca, no lábio superior ou nos dois. “Por algum motivo, essas estruturas não se fecham e isso ocorre isoladamente ou como sintoma de alguma síndrome, mas o primeiro caso é mais comum”, detalha Gamborgi.

Além dos lábios, gengiva, dentes, nariz, osso e ouvidos podem ser afetados. Portanto, se os defeitos não forem corrigidos logo nos primeiros meses de vida, a criança terá dificuldades para comer, falar e corre o risco até de ter a audição prejudicada.

O ultrassom é capaz de identificar a alteração a partir da 12ª semana de gestação, mas é um pouco antes disso que as partes do rosto não se juntam como deveriam. “A fissura ocorre entre a quarta e a décima semana de gravidez”, aponta Nivaldo Alonso, cirurgião craniofacial especializado no assunto da Universidade de São Paulo, na capital paulista.

Embora haja influência genética no aparecimento do problema, não é ela a maior causadora. “Cerca de 65% dos casos acontecem pela influência de fatores ambientais, como viroses e infecções, consumo de álcool, uso de alguns medicamentos e outros”, destaca Gamborgi.

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A boa notícia é que, apesar do impacto visual, a condição hoje em dia é contornável com cirurgias e acompanhamento multidisciplinar. Tudo depende de avaliar a extensão da malformação o quanto antes e, assim, começar as intervenções.

Tratamentos ao longo da infância

O termo lábio palatino é genérico, pois a malformação atinge diversas estruturas. Quando ocorre só no lábio, o principal impacto será na alimentação e menos cirurgias são necessárias para corrigir o problema. “Ela é mais visível no ultrassom e tem impacto estético, mas quando o palato (ou céu da boca) é atingido, há maior comprometimento da fala e da dentição da criança”, detalha Nivaldo.

O otorrinolaringologista realiza avaliações para prevenir possíveis problemas na audição quando a condição atinge o palato. Isso porque, além das malformações no canal auditivo, crianças com a fenda no céu da boca estão mais suscetíveis a infecções no ouvido.

Em todos os casos, o tratamento tem que começar cedo! “Quanto antes, menores as sequelas e melhor será a fala e o crescimento do rosto da criança”, explica Julia de Sá, fonoaudióloga do Hospital Anchieta, em Brasília.

A primeira cirurgia, que une o lábio, é feita entre os 3 meses e o primeiro aniversário. Dos 12 aos 18 meses, é hora de operar o palato, ou seja, reconectar o céu da boca, caso a fenda esteja ali também. Depois disso, uma nova intervenção é feita para reconstruir a gengiva e pode incluir enxerto ósseo para preencher falhas.

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Antes disso, não é preciso fazer enxertos de outras partes do corpo. “Não há falta de tecidos, só um defeito na fusão entre eles”, diferencia Gamborgi. Quando a criança está mais velha, uma operação estética final é realizada para disfarçar cicatrizes dessas e de outras cirurgias que podem ser necessárias durante a infância.

Ao atingir a maioridade, grandes chances de dar tudo certo! “A maioria das crianças que opera a tempo e faz o tratamento tem vida completamente normal”, completa o médico paranaense.

Muito além das cirurgias

O fonoaudiólogo começa a atuar já na maternidade, para orientar a mãe na amamentação. Aliás, esse é um ponto interessante: mesmo crianças que têm o céu da boca aberto podem e devem mamar. “Não é impeditivo nenhum. Hoje em dia existem bandagens para aproximar os lábios que ainda não foram operados e clavas encaixadas dentro da boca para a criança engolir o leite materno”, orienta Júlia.

Assim que o bebê começa a emitir os primeiros sons, o fonoaudiólogo continua o trabalho, dessa vez de olho na voz da criança. “Junto com a primeira cirurgia, já ajudamos a articular os sons corretamente e, depois, a refinar a fala”, conta a especialista.

O dentista também atua no acompanhamento dos portadores do problema. Isso porque os dentes frequentemente nascem desalinhados, em formatos diferentes, encavalados ou ainda ausentes. Psicólogos, por sua vez, são importantíssimos para preparar a família para uma infância que pode até parecer difícil, mas que resultará em uma vida adulta perfeitamente normal.

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