Você sabia que a audição influencia significativamente na capacidade de aprendizado, sociabilidade e comunicação da criança? É isso mesmo! Se seu pequeno não ouve bem, ele pode ter dificuldades futuras para desenvolver a fala e até problemas na escola. Por isso, o diagnóstico precoce é tão importante. Saiba como identificar se seu filho tem algum grau de perda auditiva:
Como funciona o diagnóstico?
O primeiro passo começa logo no nascimento e depende das condições do parto do bebê e do seu desenvolvimento intra-uterino. Se a criança vier ao mundo sem fatores de risco, ela faz o chamado teste da orelhinha, tecnicamente conhecido como emissão otoacústica ou Triagem Auditiva Neonatal. O exame é realizado até 72 horas após o nascimento da criança e é atualmente protocolo obrigatório nos serviços de saúde.
No teste, uma delicada sonda emite um estímulo sonoro na orelha do bebê e registra a resposta produzida pelo órgão auditivo. É um procedimento rápido e indolor.
“Se a criança passou no teste, não há necessidade de repetir. É recomendada apenas a avaliação do seu comportamento auditivo – isto é, se ela desenvolve linguagem adequada até os 3 anos de idade. Se ela não passou no teste, ele é repetido. Caso falhe novamente, é feito um exame chamado Potencial Evocado Auditivo do Tronco Cerebral (PEATE), que nas crianças de alto risco já é feito em primeiro momento”, explica o médico otorrinolaringologista Marcos Luiz Antunes, professor da Universidade Federal de São Paulo e especialista em otologia.
O doutor esclarece que “crianças de alto risco são aquelas que nascem com baixo peso – menos de 1500 gramas –, que ficaram na UTI por mais de 48 horas, que obtiveram índice de Apgar baixo (teste que avalia o estado geral do recém-nascido), que nasceram prematuras ou de pais com consanguinidade ou problemas auditivos congênitos, dentre outras condições”.
Porém, não basta ter feedback positivo nos testes. Algumas condições, como a otite média secretora, são adquiridas ao longo da primeira infância. Ela consiste em uma inflamação da orelha média (espaço que vai do tímpano à orelha interna) decorrente do acúmulo de secreção, que atinge os pequenos a partir dos dois anos de idade – com pico de incidência na faixa dos cinco. Entenda os diferentes tipos de otite.
Como reconhecer sinais na rotina da criança
Como não nascem com o bebê, essas perdas auditivas não são detectadas nos exames iniciais. Por isso, é importante estar sempre atento ao sinais de como anda a audição da criança. “Ou seja, se ela se assusta com sons altos, se depois de alguns meses ela consegue virar a cabeça para o lado que o som chegou, por exemplo. Uma criança de um ano de idade já começa a entender comandos simples como dar tchau ou mandar beijo. Então, se a criança não tem esse tipo de compreensão entre um e dois anos de idade, pode-se pensar em uma perda auditiva”, acrescenta Marcos.
A fonoaudióloga Bruna Capalbo Youssef aponta para outros indícios a serem observados. “Fique atento a algumas atitudes que fujam do normal. Repare se você tem que aumentar muito o volume da televisão para que ele ouça, se tem que repetir as informações, se a criança não olha em sua direção quando você fala ou se só responde para sons muito altos.”
A otite média secretora é praticamente indolor, o que aumenta ainda mais a necessidade de reparar nos comportamentos da criança. “Muitas vezes a perda auditiva é percebida pela própria professora em sala de aula, que nota certa desatenção da criança ou baixo rendimento escolar”, diz o especialista.
Meu filho tem perda auditiva. E agora?
O tratamento dos problemas auditivos depende do grau da perda diagnosticado. Na maioria dos casos, elas são pequenas e causadas pelas otites médias, que são resolvidas por uma simples intervenção no tímpano.
“Uma perda, por menor que seja, pode afetar o desenvolvimento de linguagem da criança. Ela pode ter um atraso na linguagem, trocas na fala e até dificuldades de aprendizado na escola”, explica Bruna.
Quando os comprometimentos são maiores, a reabilitação pode ser feita com o uso de aparelhos auditivos ou com a colocação de um implante coclear.
“O implante coclear é indicado para crianças com perdas de graus mais profundos, em que o aparelho auditivo não consegue aumentar o som suficientemente para que a criança adquira a linguagem. Neste caso, as lesões das células da cóclea, o órgão auditivo sensorial, são mais significativas. A prescrição do implante acontece quando a pessoa tem comprometimento nas duas orelhas”, comenta o otorrinolaringologista.
Já o aparelho, é mais indicado para perdas de leve a moderada, e em alguns casos até severa, quando não se pode intervir na causa do problema. Por exemplo, “quando a lesão é na orelha interna e não há como as células sensoriais se regenerarem”, complementa Marcos.
Mesmo depois da implantação, o processo não está finalizado. Tanto o aparelho auditivo quanto o implante coclear são dispositivos que requerem um acompanhamento posterior com fonoaudiólogos, profissionais que realizam as adaptações e fornecem os estímulos necessários para que a criança desenvolva a linguagem adequadamente.
“O ideal é que a reabilitação seja feita até dois anos de idade, o mais rápido possível, porque é justamente nessa faixa etária – entre um ano e meio e dois – que as vias auditivas centrais estão em franco desenvolvimento. Então, se a criança recebe estímulo sonoro durante essa fase da vida, ela tem maior condição de adquirir linguagem”, diz o médico.