OMS relaciona uso de telas a aumento nos casos de miopia
Entenda o efeito de celulares, tablets e companhia na visão das crianças.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou recentemente seu primeiro relatório sobre a visão no planeta. O documento traz uma estimativa que chama a atenção dos pais: a de que os casos de miopia, uma condição que costuma dar as caras na infância, devem aumentar de 1,95 bilhão em 2010 para 3,36 bilhões em 2030.
Entre os fatores elencados para o problema, a redução do tempo passado ao ar livre, que por sua vez previne a miopia, maiores taxas de urbanização e mais “near work”, um termo em inglês que indica atividades onde o olho tem que focar em um objeto bem próximo dele. Ler, estudar, ficar no celular, escrever, ver TV e jogar videogames estão entre elas.
“É um aumento perceptível nos consultórios”, comenta o oftalmologista Renato Ambrosio Jr, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). A relação entre o efeito específico das telas dos dispositivos nos olhos ainda está sendo estudada pela ciência e é controversa, mas parece haver uma junção de fatores que explica o efeito negativo.
A acomodação da visão
Quando você era criança, ouvia da mãe para sair da frente da TV para não estragar a vista? Pois saiba que há um pouco de verdade nisso, segundo uma das teorias mais aceitas sobre o assunto. É esse o tal “near work” destacado pela OMS. “Nossa visão tem a capacidade de acomodar seu foco tanto para perto quanto para longe, mas alguns fatores podem prejudicar esta mudança, entre eles o tempo excessivo focado em objetos próximos”, comenta o oftalmologista Omar Assae, do Hospital CEMA, em São Paulo.
“Essa constância excessiva no foco pode ser prejudicial e está associada à miopia”, completa Ambrosio. “Por conta disso, recomendamos, de maneira genérica, que as pessoas não passem longos períodos encarando o celular e o computador, e isso vale para a leitura também”, ensina Assae.
Outra hipótese é a de que o esforço muscular de convergência para mirar o objeto próximo — repare que ficamos meio estrábicos ao olhar o celular — poderia ser prejudicial longo prazo por alterar o posicionamento natural das estruturas do olho. Por último, suspeita-se ainda da luz azul emitida por aparelhos eletrônicos. “Mas sobre isso ainda há muita controvérsia, então não recomendamos o uso de filtros que aleguem reduzir a emissão dessa luz”, destaca Ambrosio.
A importância do ar livre
Se a relação entre as telas em si e a miopia ainda é polêmica, a dos ambientes externos com a saúde visual é bem estabelecida. “Há muitas evidências de que a luz do sol ajuda a inibir o crescimento axial do globo ocular”, destaca Ambrosio. Explicamos o termo cabeludo. Quando o globo ocular cresce além da conta, sua curvatura pode ser afetada, e isso está relacionado ao aumento dos casos de miopia.
Grande parte do comportamento do globo é determinada pela genética, mas fatores externos, como o esforço acomodativo, aparentemente colaboram para seu crescimento. Já a luz do sol auxilia a produção de neurotransmissores e substâncias que ajudam a inibir esse crescimento. Estudos recentes mostram ainda que uma onda solar específica, a violeta, pode ajudar a suprimir a miopia.
A própria característica mais tridimensional do ambiente é positiva. “Você vê uma bola passando ao fundo, as árvores, tem mais oportunidades de exercitar e descansar os olhos”, orienta Assae. O problema é que estamos passando cada vez mais tempo em ambientes fechados.
Não é à toa que o documento da OMS sobre visão reforce a necessidade de ir para fora, assim como vários outras publicações recentes. Em junho, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um manual recomendando ao menos uma hora diária de contato com a natureza, em nome de benefícios no comportamento, desenvolvimento e saúde dos pequenos.
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