Criança gordinha é assunto sério. Os quilos extras na infância patrocinam problemas como pressão e colesterol altos, diabetes tipo 2, asma, gordura no fígado e estresse – que podem ser carregados pela vida toda, inclusive. Isso se torna ainda mais preocupante quando analisamos as taxas de obesidade infantil mundo afora. Para ter ideia, nos Estados Unidos, 17% das crianças e adolescentes com idades entre 2 e 19 anos estão obesos, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças. No Brasil, a realidade não é diferente: 7,3% dos pequenos menores de 5 anos têm excesso de peso, segundo o Ministério da Saúde; considerando a faixa etária dos 5 aos 9 anos, esse índice sobe para 33,5%.
Uma das principais causas desse cenário são os hábitos alimentares de crianças e adultos e a pouca prática de atividade física. “O acesso a alimentos de calorias vazias se tornou mais fácil e o estilo de vida, mais sedentário”, analisa o endocrinologista pediátrico Felipe Lora, coordenador do Centro de Obesidade infantil do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.
Daí porque a Academia Americana de Pediatria (AAP) atualizou, no fim de junho de 2015, as diretrizes para a prevenção do excesso de peso entre a meninada. O objetivo das novas recomendações é fazer com que os pediatras ajudem papais e mamães a repassarem a importância de adotar bons hábitos de vida para os pequenos. “Nunca é cedo demais para uma família fazer mudanças que vão ajudar seus filhos a conquistarem ou manterem um peso saudável”, diz a presidente da AAP, Sandra Hassink, e uma das autoras do documento. A seguir, confira as principais orientações da entidade americana prevenir a obesidade.
Limite o acesso a tranqueiras e encoraje o consumo de alimentos saudáveis
Evitar que doces, salgadinhos e bebidas açucaradas, tipo refrigerantes e sucos industrializados, entrem em casa é uma atitude importante. Essas guloseimas até estão liberadas em ocasiões especiais, como aniversários, mas, nesses casos, a AAP indica que sejam compradas pouco antes do evento e retiradas da mesa logo depois da festa. No dia a dia, se possível, mantenha esses alimentos longe dos olhos da meninada.
Ao mesmo tempo, alimentos como água, frutas, verduras e legumes, por exemplo, devem estar sempre ao alcance dos pequenos. “Nós orientamos que as mães já deixem a porção de fruta daquele dia cortada na geladeira, porque aí fica mais fácil de a criança comer”, diz Lora. A organização americana também indica que os pais incentivem seus filhos a comerem cinco porções de frutas e verduras diariamente, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desligue a TV
Isso vale principalmente para os horários de dormir e comer. “Comprovadamente, quando você faz a refeição em frente à televisão, fica mais distraído e acaba comendo mais”, conta o médico do Sabará. Já a TV no quarto pode ser um grande facilitador para que o pequeno fique acordado até mais tarde e, segundo a AAP, crianças que dormem menos de 9 horas por noite são mais propensas a ganharem peso.
Brinque com seu filho
O sedentarismo está entre as principais causas da obesidade infantil. Pudera! Não raro, as brincadeiras ao ar livre e os esportes dão lugar ao videogame, ao computador, ao tablet, ao celular ou à televisão. “O uso desses dispositivos deve ser limitado a uma hora por dia, no máximo duas”, prescreve Felipe Lora. A recomendação é que tanto adultos quanto crianças pratiquem 60 minutos de atividade física por dia. Para cumprir essa meta vale ir ao parque, ao playground, andar de bicicleta ou até passear com o cachorro.
E os bebês?
É claro que muitas dessas recomendações não se aplicam aos pequenos com menos de 3 anos – o que não significa que a prevenção da obesidade infantil não possa começar já nessa idade. “Nessa faixa etária, o que mais vale é o exemplo dos pais”, diz o endocrinologista pediátrico. Isso inclui tanto os alimentos que o pai e a mãe comem quanto aqueles que são oferecidos ao bebê. O mesmo pode ser dito dos exercícios físicos: segundo a AAP, filhos de pais que fazem atividade física e que são incentivados a se mexer têm menos risco de ser obesos ou sedentários no futuro.
O documento americano aponta ainda outros fatores que podem contribuir para que, no futuro, o bebê se torne obeso. Entre eles estão o excesso de peso da mãe na gravidez, o hábito de fumar durante a gestação e o consumo de fórmulas infantis no lugar do leite materno. Aliás, a amamentação exclusiva até os 6 meses é fundamental para que o pequeno cresça com um peso saudável.